Todos os dias, toda hora, temos que ver centenas de posts, ler uma dezena de jornais nos quatro cantos em quatro línguas e ainda pensar sobre todos, produzir sobre alguns, atualizar os perfis, responder às mensagens, ser inteligente, original, analítico e histericamente curiosos. Também temos que fazer monstruosos exercícios de memorização, de associação de significados e organizar tudo em hierarquias funcionais e criativas. Meu pai só tinha dois jornais para ler. Sortudo.
Não é mole manter-se vivo hoje em dia. A menos, é claro, que a gente despreze o mundo com o ar blasé de um “isso eu já vi”, “isso passa” ou pior, “nada mudou”.
Minha tia Inha tem 103 anos. É lúcida e tem saúde. Por vezes, ela suspira “será que Deus esqueceu-se de mim?” mas enquanto ela puder ler e ver novelas, é feliz. “Sabe meu filho, eu adoro ler. Passo o dia lendo, lendo, lendo. Enquanto estou lá, no livro, fico muito curiosa, gosto demais. Mas quando chego no final, sabe de uma coisa? Já esqueci de tudo. Então, volto para o começo. Só troco de livro quando vocês me dão um novo. Mas não carece não, visse?”
Talvez tenhamos a pretensão de achar que nunca, na história do homem, a velocidade das transformações foi tão grande e profunda. Se leda presunção, complexo de insignificância ou vaidade crônica, a cobrança do mundo tempera nossa ansiedade. E vamos investindo, porque o cérebro é elástico e o tempo uma trapaça.
O pianista de redingote esbofa-se sobre a partitura para uma interpretação nova, fresca, contemporânea de uma obra composta há trezentos anos. A platéia em êxtase, trejeita muxoxos oitocentistas. Há mais de século que a cena se repete. O cara não tem facebook, nem blog, nem sabe, coitado, que ele pode dar um boost na sua popularidade twittando adoidado.
Se parte da humanidade reza “tomara que eu morra a tempo” todos os dias, a outra, felizmente, reza o contrario. Escolha e relaxe.
“Não é mole manter-se vivo hoje em dia. A menos, é claro, que a gente despreze o mundo com o ar blasé de um “isso eu já vi”, “isso passa” ou pior, “nada mudou”.”
Vou te devolver essa frase pq eu achei muito boa!
telas, telas e telas…
ao invés de melhorar, só piora nossa situação.
meus olhos andam me castigando ultimamente,
e dizem que a tecnologia veio pra trazer conforto.
conteúdo demais estraga a vida, e a vista.
😉
a verdade é que nos tornamos prisioneiros do conteúdo, não é mesmo?