Monthly Archives: September 2009

Cotinthianos, uni-vos!

Qual milhão vale mais? O do Luciano Huck ou o do Mano Menezes? Os dois milionários do Twitter, com pequena vantagem do apresentador, são a própria anatomia do Twitter.

De um lado o culto à histeria, do outro, a histeria do culto.

Na corrida, quanto mais seguidores imbecis (incluindo os perfis robotizados e os caçadores de iphones), maior o fascínio. Por isso o Huck, que sabemos inteligente e criativo, é mais esperto: seu sucesso é mais rápido porque ele nutre de obviedades a histeria adolescente de seus fãs.

O Mano é muito mais concentrado e sério. Está pau a pau, mas é certo que seu limite é a torcida. E evidentemente, existem muito mais imbecis no mundo do que corinthinanos, incluindo os que abraçam os dois títulos.

Se o sucesso no Twitter se mede em números, na velha e surrada lógica do “mais é mais”, então essa coisa não passa de outro instrumento de alienação coletiva. Seja pela excitação existencial dos ocos do Huck, seja pela causa dos irmãos do Mano.

Mas o Twitter do Mano é tão melhor que dá quase vontade de virar casaca!

Rede social do céu e do inferno

A sensação de pertencimento que uma rede social proporciona é um passaporte pardo, uma desculpa esfarrapada para justificar a febre que delira na Internet.

Cinco minutos antes de criar um perfil estávamos à deriva, naufragando em relações estéreis e, mágica!, conectamo-nos com legiões de pessoas famintas. Renascemos pela lei do grude sócio-virtual. Aí tem!

Despindo-se por instantes das belas intenções, das virtudes compadecidas, da consagração da vida em comunidade, esquecendo por instantes do verniz social e dos tabus que nos esporam, onde há luz, há sombra dizia o mestre.

Se não há como fugir da nossa degradante dependência, (sós, somos um pedido de socorro ambulante), Deus, ou seu anjo preferido, também dotou seus filhos de desejos, e do mais incontrolável: o desejo de poder.

Onde há acolhimento, há influência. Onde tem pertencimento, tem controle.

Como tudo que inventamos, acotovelamo-nos nas redes sociais para abrir uma clareira, nossa clareira. Nosso espaço confortavelmente delimitado pelos próximos. É um porto onde damo-nos as mãos, ancorados e seguros.

Mas como a arma que defende e suicida, estamos lá também e principalmente para exercitar nossa fome de influenciar e controlar.

Todo integrante de rede social é um formador de opinião (ainda que em gestação), um evangelizador, um demiurgo. E é o que, antes, nos move.

Quem tem tempo para a televisão?

No fundo, no fundo – lá no fundo – por que a gente assiste menos televisão (ou acha que)?

Porque somos elevados espíritos que não rastejam nas baixezas exibidas. Porque temos um incômodo ideológico com a dominação das programações broadcast. Ou porque somos mentes privilegiadas, plenamente decididas e com programação mental de desejos. Porque somos capazes de filtrar e criar hierarquias de conteúdos que atendam nossas necessidades, nosso ócio, nosso vazio existencial. Porque nossos ídolos bem-pensantes martelaram que a Televisão aliena. Que a televisão é a casinha do demônio.

E tantos outros álibis intelectuais que somos capazes de criar com mais ou menos convicção, mais ou menos ironia.

Talvez seja bem mais fácil: não ordenamos mais nosso tempo e simplesmente não conseguimos mais acompanhar as grades televisivas. Hoje, não conseguimos assistir o Jornal porque não estamos em casa, ou a novela, porque ontem não conseguimos chegar à tempo de vê-la. E, claro, não temos energia nem o menor saco para gravar coisa nenhuma, muito menos conteúdos tão efêmeros.

Hábitos não se criam por causa de. Não são decisões, portanto racionais, são reflexos, logo involuntários.

Substituímos os rituais pelo movimento, a rotina pela busca descabelada, a regra pela quebra.

A televisão (e outras mídias tradicionais) crê que hábitos podem ser sugeridos ou impostos. Que a grade é um decalque das rotinas das audiências e que os conteúdos são encaixes. O culto à grade é o conforto comercial que aprisiona os conteúdos.

O gesso imutável das programações, que se eternizam,  são o ocaso da televisão. Não acompanham o ritmo das audiências mais contemporâneas, sedentas por conteúdos e avessas à rituais.

Ou será que você já está esparramado no sofá na hora do Jornal Nacional?

Na Internet, a criação é irmã siamesa da produção

A Internet nasceu para ser auto-gerida, auto-explicativa e auto-alimentada  (podem acrescentar todos os “autos” do mundo). Qualquer controle centralizado que disciplina seu uso, em qualquer instância (pública ou privada) só consegue impor-se quando aceita e incorpora a participação dos usuários.

Mas para além dessa genética libertária e colaborativa, a Internet é a praia do auto-didatismo, onde o código livre e o copyleft (e sua variante caseira, o copy-paste) são a sala de aula e o parque de diversão de seus usuários.

Existem milhões de programadores no mundo e nenhum deles foi à faculdade para aprender o que faz (faculdade de quê? Computação? Jornalismo?  Comunicação? Engenharia?). Eles se jogaram na raça e no entusiasmo. São os verdadeiros autores da rede.

Por outro lado (ou, do mesmo lado, quem sabe?), o desenvolvimento de ferramentas que facilitam e encurtam o tempo de aprendizado (softwares mas também plataformas pré-formatadas, algumas à prova do mais idiota dos usuários) multiplicam-se na velocidade do desejo de expressão das pessoas.

Não ter seu pedacinho na Internet é para abstêmios, heróis ou que tais quakers. Ou preguiçosos. Ou burros. Ou a mais perigosa raça do universo: os experientes enfastiados de argumentos. A turma do “é tudo a mesma coisa, eu já vi, já fiz, já sei”.

Teoricamente especialistas em Internet são um contra-senso. Mas vá lá que sejam um atalho para ganhar tempo. Nem tudo é tão simples. Principalmente em uma empresa.

No entanto, a bomba relógio, é abdicar ou terceirizar (é quase a mesma coisa) a função dos, assim chamados, mestres da rede, os programadores, os produtores, os neguinhos que fazem.

Na Internet, a criação é irmã siamesa da produção.

Terceirizar a produção é correr os mais sérios dos riscos: renunciar ao aprendizado, perder o controle sobre a criação e, a termo, perder o cliente e a receita.

A bobageira colaborativa

Ninguém discute a generosidade da Internet e poucos ainda relutam em abrir espaço de colaboração em sites, blogs e que tais. A doutrinação funcionou: “as pessoas têm um desejo represado de expressão mas não se atreva a censurar e interferir!”.

Mas o que fazer com a bobageira e com a incontinência verbal?

Nem o mais disciplinado dos nerds, o mais aposentado dos internautas ou o mais lesado dos críticos tem paciência para o desfile de onomatopéias ou os comentários sobre comentários que povoam os espaços de leitores. Nem o mais diligente e libertário dos editores.

Existem ensaios de soluções, como por exemplo, a mais simples delas, que consiste em indexar e criar regras de relevância também para os comentários. Ou ainda, relacionar, visualmente, os comentários que fazem observações em cascata sobre outras participações anteriores. Ou, mais ousado e propositivo: criar um sistema lógico de triagem e hierarquização (sem qualquer censura) que permita o aproveitamento da colaboração em conteúdo editorial.

Esse é um importante desafio que se coloca para qualquer editor, caso contrario o convite à participação não passa de uma seção de cartas do leitor anabolizada com um defeito corrosivo: atrair colaborações cada vez menos interessantes até tornarem-se completamente irrelevantes, portanto inúteis.

Apesar de tudo, quem tiver saco para ler as enxurradas de comentários de algum blog bombado (esse aqui, feliz ou infelizmente é tímido), pode ter momentos de puro prazer e diversão, como por exemplo o Resenha em Seis.

Por que a mídia de massa é nossa salvação?

A retórica inflamada é uma arma irresistível, principalmente quando falamos das mudanças que a Internet opera no comportamento das pessoas e nas relações sociais e econômicas. Namorar com o radicalismo decretando a morte da mídia de massa e a falência da publicidade é o parque de diversão de muitos críticos. Nem sempre conseguimos calibrar nossos fluxos opinativos para encontrar alternativas menos dolorosas e preferimos o terrorismo verbal. Esse foi um mea-culpa.

Um fenômeno curioso começa a operar nos bastidores das grandes discussões a respeito do futuro da propaganda, que poderíamos chamar de “complexo do nano sucesso”.

Funciona mais ou menos assim: como está cada vez mais difícil, (por variadas razões), criar nababescas campanhas para grandes marcas com imensas repercussões em audiências colossais, um reflexo psicológico nos leva a supervalorizar idéias com abrangências microscópicas.

Um flashmobzinho, um viralzinho e outros “inhos” (não só na Internet – o álibi barato), mobilizam recursos e expectativas muitas vezes desproporcionais ao efeito alcançado. Os festivais de publicidade, espertamente, já premiam, há muito tempo, essas pequenezas brilhantes.

Alcançar audiências de um dígito na televisão é fácil, gigantesco feito é conseguir dois dígitos, múltiplos da dezena, sem recorrer às baixezas que excitam os instintos.

Sem desmerecer as necessárias mudanças que as novas mídias operam, a “massa” tem valor por motivos de economia de escala. É do DNA do nosso sistema produzir para muita gente. O volume de vendas financia por exemplo a inovação e o preço baixo que desejamos. E para que haja muita gente consumindo, precisamos comunicar para elas. E não será produzindo pequenos soluços criativos que as agências de propaganda irão sobreviver. Até porque o custo fixo de uma agência de propaganda é basicamente composto de recursos humanos e “inhos” custam o mesmo que “ãos”.

Podemos inverter a equação também: nano iniciativas de comunicação alcançam nano públicos que geram nano receitas para as empresas.

Talvez tenha chegada a hora de encontrar soluções inteligentes e criativas para as mídias de massa e para a propaganda de massa ao invés de desistir tão rapidamente.

Esse desafio é nossa salvação (e em parte a do sistema que até hoje nos abençoou) e não o nano sucesso de nossa vaidade.

Comunicação 360 graus é um pensamento pré-galileu

Mídia é o fim que se usa para comunicar-se com as pessoas. Que se pesem as palavras: “fim”, “comunicar-se”, “as pessoas”.

“Fim” porque a comunicação encerra-se no meio que ela usa para veicular sua mensagem. “Comunicar-se” em oposição a dialogar e “as pessoas” ao invés de você ou eu.

Embora a prosopopéia do marketing e da propaganda adore re-interpretar conceitos com o objetivo de re-inventar as mesma surradas idéias, o rigor das definições se impõe quando se fala das novas, assim chamadas, mídias.

Pois a Internet não é uma mídia porque ela é antes o meio que uma pessoa usa para comunicar-se. Atentemos para a inversão da frase, “meio” ao invés de “fim” e para o singular (“uma pessoa”).

Responda rápido: você usa Internet para? Provavelmente, como 93% das pessoas, “se comunicar”. Só depois de pensar, você dirá, possivelmente, “se informar”.

De novo: você usa o jornal, a TV, a revista para? Por mais tempo que você tenha para responder, sua afirmação vai ser “informar-me”. E, a menos que você seja um Pedro Bó que manda cartas para as redações e vídeos para o Fantástico, você não usa a mídia para comunicar-se.

A Internet não é portanto uma mídia a menos que a gente mude o seu significado. Nesse caso, as “tradicionais” é que deixam de ser mídia.

É precisamente por isso que a gente dá com os cornos quando tenta incorporar a Internet nas nossas estratégias de comunicação. Não é a uma questão de adequação e, pânico-perigo!, não se pode “inserir” a Internet no blábláblá 360 graus.

A comunicação 360 graus talvez seja uma das mais retrógadas idéias que se possa ter sobre a comunicação de uma marca porque parte de um pressuposto centrista, como se os consumidores girassem em torno da marca. Uma hipótese pré-galileu. Pois é precisamente o pensamento inverso que deveria inspira-nos: a marca orbitando, com o cliente no seu centro gravitacional.

É assim na Internet: relações e presenças forçadas de uma marca são abominadas porque, novamente, as pessoas estão lá para falar antes de ouvir, para comunicar-se antes de serem comunicadas.

O mau exemplo que vem da França

Em maio passado, analisamos aqui um projeto de lei em tramitação no congresso francês que previa a criminalização do compartilhamento de arquivos na Internet.

Pois não é que o congresso aprovou a lei? Quem diria, logo na terrinha, onde nasceram os direitos humanos, pátria da liberdade e berço da revolução?

Trata-se, evidentemente, de um atentado ao bom senso coletivo.

O precedente é grave e a jurisprudência internacional costuma freqüentar o discurso inflamado de nossos brasilossauros.

Os defensores da velha ordem autoral põem suas manguinhas de fora.

É uma luta crepuscular que incita à desobediência civil.

Todo internauta é apátrida

Agora é a vez e a hora da policia de costumes censurar os jogos de azar na internet. Ainda que a iniciativa tivesse impoluto interesse, será que a Civil não tem nada de mais produtivo para policiar?

Uma mega-operação em 12 estados que começa hoje vai dar um trabalho e esforço danado.

Mas de que adianta secar as bancas nas lan-houses brasileiras e apreender seus bits se os jogos de azar são na maioria apátridas?

E nem se trata mais, apenas, de explicar para os diligentes policiais que é praticamente impossível controlar a origem dos servidores onde estão os tais caça níqueis, nem dizer-lhes que as lan-houses não podem ser responsabilizadas pelo prática “ilegal” de seus freqüentadores.

A questão é sociológica: apátridas são todas as pessoas que navegam na Internet. Nacionalismo e respeito às leis são conceitos que não fazem nenhum sentido nas plataformas digitais mesmo para o sujeito mais educado moral e civicamente na vida de todo dia. O comportamento de qualquer internauta, até o mais careta, ignora leis, tabus e identidades.

Mas esse entendimento está tão longe dos gabinetes, da burocracia e das forças declinantes que assistimos diariamente a essas trapalhadas.

O quarto poder da imprensa é democrático?

De chapéu baixo e girando o charuto entre os dedos gordinhos, o homem se faz anunciar. Sua visita, embora aparentemente intempestiva era aguardada. Negócios após o expediente são mais importantes, assuntos, cuja magnitude, só a calada da noite pode abafar.

– Caro amigo, estamos pois de acordo. Meu silêncio vale muito do mais do que minhas palavras. Os jornais ficarão calados.

A imprensa sempre esteve na intersecção do dinheiro: porta-voz presumida do povo e do poder, seu papel é o calcanhar de Aquiles da democracia. De que vale uma arma se ela só pode apontar para um lado? Assis Chateaubriand Bandeira de Melo muito conhecia o valor de suas coberturas e omissões jornalísticas. Ele cobrava por isso.

O que tem por detrás do canto do cisne da imprensa broadcast são princípios e valores que pairam muito abaixo das nobres intenções.

O que emerge com a explosão da distribuição de informação que a Internet proporciona não é apenas o ruir do negócio da mídia, é o desmoronamento progressivo de um sistema de poder. Não é apenas a rentabilidade das empresas que está em jogo, é uma certa lógica de dominação econômica.

Houve um tempo, ainda recente, em que um jornal, uma revista, uma televisão, barganhavam reputações em troca de mais poder. Ontem ainda era possível – e ainda é –construir impérios econômicos sobre uma articulada e insidiosa estratégia de imprensa.

O mega-fone dos calados está a um login de distância de qualquer cidadão e de todos eles.

Já era tempo de entregar o “quarto poder” ao povo.

Pirataria é legal

Quando me dei conta de que Bach e Michelangelo nunca ganharam um tostão com direitos autorais, me deu preguiça financeira. E quando realizei que uma suíte para violoncelo foi usada em uma propaganda de TV e que camelôs vendem bugigangas com a Criação nas barbas do Papa, excitou-me um comichão de pirataria.

O plágio autoral era considerado uma homenagem antes de ser penalizado. Villa Lobos, assumidamente, xupinhou Bach que, por sua vez, criou variações de temas de Vivaldi que foi lá copiar Palestrina.

Lá pelas tantas, quando o dinheiro brotou aos borbotões e enfastiou uma cadeia de intermediários que parasitavam na órbita dos criadores, inventaram a proteção autoral. Para premiar a distribuição, a promoção e divulgação. É da lógica do sistema premiar mais a viabilização do que a produção.

Foi assim que copiar passou a ter dois sentidos: quando os tributos são pagos é inspiração, quando sonegados é crime de plágio. A lei sempre esteve antes a serviço dos privilégios adquiridos do que do fomento criativo. Direito autoral é uma falácia que deveria chamar-se de Direito a vagabundagem.

Este é um tema mais simples do que parece e que costumamos complicar para justificar as intricadas gorjetas que premiam intermediários antes e mais do que os autores.

Mas o efeito colateral que a camisa de força legal causa é mais pernicioso porque a inspiração é sujeita da capacidade financeira.

Quando Walt Disney lançou mão dos contos nórdicos dos irmãos Grimm ele não pagou um tostão pra ninguém. Mas o Mickey ia cair em domínio público 70 anos depois de sua criação e o lobby da parasitagem autoral prorrogou a lei por mais 30 anos.

Quem baixa e distribui de graça tem mais de Robin Hood do que de pirata.

Metade dos paranaenses é ladrão

O Paraná seria por acaso uma colônia pré-histórica no cafundó da galáxia? A Internet de lá funciona a lenha? Estariam seus autóctones lutando contra uma espécie de barbárie digital?

Parece que o Tribunal de Justiça de lá declarou ilícito o uso de softwares “que possibilitam a conexão às redes peer-to-peer”.

Ô Xisto (Pereira, relator da decisão) se liga na parada: quer dizer que o infrator é o neguinho que produz um software? Tipo assim, que tal você proibir as montadoras de carro porque tem nego que dirige embriagado?

Ô da toga (douto desembargador) presta atenção: o que você acha que vai conseguir com isso? Que os meliantes de direito autoral se matem por falta de opção? Que eles vão ter que sair do Estado para poder cometer seus crimes?

Ô Xistô! Acorda mano: a pesquisa F/Radar, feita pelo Datafolha, com mais de 2000 entrevistados em todo país (até no Paraná, veja só!) dá conta do seguinte:

– 48% dos brasileiros acima dos 16 anos costumam baixar músicas e filmes da Internet.

– 52% dos brasileiros acima dos 16 anos afirmam já terem comprado (e continuarão comprando) CDs piratas em camelôs (47% para DVDs)

E sabe por que a pesquisa não perguntou diretamente “baixar musica ilegal na Internet” ? Simplesmente porque ninguém ia entender a pergunta, de tão absurda. “Como assim, tem algum jeito legal?” ou “Ué, é ilegal?”

Sacou o drama? Não vai ter lei nem meganha suficiente para coibir tanto fora da lei.

“Lex non docet” não se aplica a tanta gente.

Ô Xistô, pô, tenha dó dos seus conterrâneos.

O milagre da multiplicação do consumo de mídia

É fácil hoje em dia diagnosticar os erros da Televisão: programação calibrada pela busca desesperada de audiência (portanto que fere os cérebros dos bem-pensantes críticos) e excesso de espaços publicitários de má qualidade (logo, que irrita os bolsos dos bem-comprantes algozes). Para uma mídia que poucos anos atrás era acusada por seus nefastos poderes manipuladores, os argumentos tornaram-se simplórios.

Estranhamente, a TV Paga simboliza ainda melhor a decadência presumida da plataforma, uma vez que os assinantes compraram a quimera de que a assinatura seria capaz de, simultaneamente, elevar o nível da programação (seja lá o que isso queira dizer) e dispensar a propaganda (supondo que ela irrita).

Detratar a TV Aberta e, mais ainda, a Fechada, está na ordem do dia. Mas a excitação excessiva dos ânimos parece esconder inconscientemente algumas verdades mal assumidas.

A primeira estatística inquestionável, dá conta da audiência. Não é verdade que ela está caindo de forma acentuada. A menos que o ódio reprimido seja cego. O que houve, sim, é verdade, foi uma redistribuição das audiências entre as diferentes ofertas e canais. Mas as pessoas não estão assistindo, globalmente, menos Televisão do que 10 anos atrás.

A segunda constatação qualitativa (os canais e operadores pesquisam muito mais do que os críticos) é de que – salvo em grupos muito segmentados, micróbios estatísticos – falar mal da Televisão é parte da atração que ela exerce. Estimulado, o público encontra argumentos que por vezes se aproximam daqueles dos analistas, mas em geral é tudo muito básico e nada muito novo. As pessoas não costumam achar que piorou, é como sempre foi. E, verdade verdadeira, a paixão que a Televisão exerce é infinitamente mais palpável e contagiante do que o entusiasmo que a Internet pode suscitar.

Outro dia, eu estava em um ambiente cujo target é quase que majoritariamente de bem nascidos, bem instruídos e bem jovens. Do ponto de vista de consumo de mídia, poderia ser uma espécie de Internetlândia. Pois havia Televisões ligadas nos capítulos finais da novela, aquela da fantástica Brasilindia. Estava todo mundo assistindo de soslaio a morte do Raj. Quando o corpo apareceu, todos pararam suas atividades e fixaram-se, sem vergonha, de frente para a tela. Mandei imediatamente um sms para uma amiga “O Raj morreu?”. E com a resposta em punho, declarei aos aflitos telespectadores que era tudo uma farsa, Raj não estava morto. Ganhei muitos agradecimentos e fiz vários amigos.

Que milagre é esse que nossa critica não é capaz de apreender?

Os fantasmas são os atos secretos dos festivais

Já se disse que “notícia é tudo aquilo que alguém não quer ver publicado, o resto é propaganda”. Propaganda e imprensa são partidos irreconciliáveis. No limite, a imprensa é o avesso da propaganda – ou vice versa. São dois “do contra” que dividem o mesmo espaço. É por isso que existe uma separação inequívoca entre os dois conteúdos. E a gente aceita que notícia é o que se coloca no avesso da propaganda, ou o contrario. Cristalino e ético.

Festivais de propaganda promovem a escolha dos melhores trabalhos. E melhor quer dizer melhor, comparativamente. Trata-se de comparação entre os trabalhos inscritos. Se o recordista mundial de uma prova não participa de um campeonato, ainda assim haverá um medalha de ouro e ele será considerado o melhor, tenha ele ou não batido o recorde.

Da mesma forma, se peças publicitárias foram ou não eficientes para os objetivos que foram delineados, objetivos de marketing, é rigorosamente irrelevante. Da mesma forma e no limite, se aquilo que se julga foi ou não veiculado, não interessa a mínima.

Por uma questão de lógica o debate do fantasma é estúpido. Festivais não existem para apontar recordistas mundiais de eficiência mercadológica.

E convenhamos, não vamos super-estimar o valor de um prêmio. Não é propriamente a coisa mais importante da nossa profissão, ou não deveria ser.

Que organizadores de festivais vetem a inscrição de peças assinadas por marcas que não foram consultadas ou não aprovaram a participação parece correto. Tratam-se de atos de falsidade ideológica censuráveis.

Mas o que dizer quando os festivais, como que adormecidos, por décadas, num berço ético, ficam furiosos por terem premiado peças não veiculadas? Não teriam aceito dinheiro sujo? O benefício da dúvida é sinônimo de hipocrisia quando tem dinheiro, muito dinheiro (de inscrição) envolvido.

Já ouviu falar no Busk?

Muitos de nós abandonaram o hábito de abençoar o dia com a leitura de um jornal. Ele era uma espécie de despertar da consciência. Ler o jornal de manhã era uma corrente de conexão com o mundo. Mas para além dessa elaborada razão, o ritual era a inconsciente motivação, uma âncora que conforta a nossa dramática condição de merdinhas soltas no espaço.

Mas a gente resolveu achar que existiam maneiras mais rápidas, baratas e livres de interligar as baterias, de se informar e informar. Operamos a transferência do comando que nos pareceu justa e merecida. Não é mais um mundo peneirado, filtrado, manipulado às vezes, que me encontra na soleira da porta. Eu vou ao mundo se, quando, para o que e na plataforma que quero.

A gente resolveu desistir do ritual religioso – coisa de gente fraca! Mas toda renúncia tem um preço: onde diabo estão as coisas?

Search nelas!

Livramo-nos da dominação que se esconde por detrás de todo curador/editor e entregamo-nos alegremente na boca do caos mecânico, a mercê das ferramentas de busca na Internet.

Somos seus fervorosos devotos.

Vocês já conhecem o Busk?

Um agregador/search de notícias com funcionalidade intuitiva, simplicidade refrescante e lindo (a menos que a gente ainda ache bacana o design monástico do Google).

Um beta a quem entrego, com carinho, meu novo ritual diário.

A liberdade é o antônimo da devoção. Busk neles!

Chafurdar na Internet

No último post, saiu – quase sem querer – que as coisas ainda têm que piorar muito para começar a melhorar. Ou talvez, ainda precise complicar muito para começar a simplificar.

Esse otimismo involuntário deve ter ido colher sua inspiração no Asimov. Qual budista que ele provavelmente não era, muitos milênios de caos fertilizavam secretamente o ressurgimento civilizatório: é da lama que nasce a flor de lótus.

Quando os primeiros fulgores da Internet vieram iluminar algumas mentes proféticas, nas agências de propaganda, há quase duas décadas, a lógica do negócio se sobressaia sobre a real aplicabilidade dessa nova plataforma de comunicação: era um belo discurso e moderno, que trazia ares de renascimento para uma indústria pretensiosamente acomodada.

Trouxeram, para dentro de suas estruturas, leitores vorazes de ficção científica e nerds messiânicos para criarem oficinas de protótipos. Off line funcionava. Off strategy seduzia. Off budget aprovava-se.

Depois, a coisa pegou fogo. Encurtando um longo percurso, teve a histeria e as estruturas incharam, a conversão e tudo se integrou, a desilusão e foi melhor terceirizar e o entusiasmo renascente que embananou as experiências.

Esse traz-pra-dentro, põe-pra-forta, traz-pra-dentro, criou uma constelação de empresas que se viraram no rabo do cometa, desenvolvendo especialidades, sobrevivendo na essência mutante dos tempos que vivemos.

Hoje está mais ou menos do mesmo jeito que há dez anos: a busca é por normatização e encaixe. A lógica é encontrar uma fórmula única que proporcione simultaneamente atendimento satisfatório às demandas e economia de recursos. E acreditar nela até que um novo caos se instaure.

Mas é provável que o conceito esteja equivocado. O ambiente que costumamos chamar de Internet é um pântano. Nem o império dos grandes sucessos de público, nem o Google, nem o Youtube, nem o frisson do momento, as redes sociais e suas princesinhas anabolizadas, o Twitter e o Facebook, têm futuro garantido.

O público, os consumidores que perseguimos, remam para todos os lados, sincronicamente e as propagadas tendências são mais espuma do que sabão.

De que serve a sistematização em um universo em expansão desordenada?

O segredo talvez resida na capacidade de adaptação rápida, taylor made e competitiva às oportunidades. O sucesso está na maleabilidade das estruturas. Inteligente é moldar-se como um barba-papa e não teimar nas soluções decidias em comitês.

O posicionamento de uma agência deve ser tão fugaz e instável quanto os gostos e preferências das pessoas que chafurdam deliciosamente na Internet.

Tecnologia: pérolas de pessimismo

É da nossa natureza positivista enxergar a tecnologia como uma espécie de panacéia desvairada de todos os males e aflições. Se ela se desenvolve para encurtar o tempo entre o desejo e o prazer, então, tecnologia é um fim em si.

A tecnologia, por definição, acelera, precipita o prazer e atrofia o desejo. Ela cria um prazer precoce, e no limite, um não prazer.

É nesse vácuo de frustrações que a tecnologia realimenta e recria novos desejos, incessantemente.

Iludimo-nos portanto porque acreditamos que a Internet existe para democratizar o saber num sistema capilar de distribuição, de auto-gestão, de colaboração, de subversão das estruturas de poder, etc etc etc. É o nosso desejo.

Quanto tempo durou nosso entusiasmo com a conexão discada de 9600? Mais do que nossa excitação com a de 14400 que por sua vez deu-nos um prazer mais longo do que a de 28800 e assim por diante. Qual revelação nos trouxe o browser gráfico? Maior do que a das animações do início que nos alegraram por mais tempo do que o flash, que também reinou mais tempo que o vídeo e que terá vida mais longa do que as experiências de imersão e tal e coisa. Por quanto tempo o Facebook? Menos que o Orkut, e mais que o Twitter e bla bla bla.

Por reflexo humanista, defendemos a revolução, a mudança de status, de patamar. Numa interpretação simplista, acreditamos que evolução significa melhora ao invés de adaptação. Por isso, o Twitter e outras redes sociais elegeram Obama (há quem ainda acredite nisso).

Mas a tecnologia não está a serviço do bem comum mas da administração dos desejos individuais que no fundo, no fundo, continuam exatamente os mesmos desde sempre. Não é de espantar o estrago que as ferramentas da nova era americana estejam fazendo à popularidade do novo presidente.

E, como Virilio, estamos acelerando tanto o amanhã que talvez não haja amanhã. Sejamos otimistas: tudo precisa piorar muito, antes de melhorar.

O marketing cria?

Coco Chanel, até os últimos dias de sua vida, além de se debruçar de giz em punho sobre os moldes, freqüentava os ateliers de suas costureiras, seus fornecedores de rendas, tecidos e flores, assistia aos desfiles do alto da mítica escadaria espelhada da rue Cambon, supervisionava as sessões de fotos, revisava textos de divulgação, treinava as modelos como se fossem animais de estimação e dirigia todas as campanhas publicitárias.

Não havia Marketing na Maison Chanel. Ou melhor, o marketing era uma atribuição criativa, portanto, Madame cuidava. A divulgação e a propaganda era parte do produto. Ainda é assim na indústria da alta moda: uma marca é construída com conteúdos criativos que começam no produto e terminam no pós venda, passando pela propaganda.

O marketing, que me perdoem os clássicos, é uma muleta operacional. Uma espécie de anomalia do processo criativo. Embora o marketing competente saiba se travestir de idéias e conte para isso com especialistas (agências por exemplo – de propaganda, de tendências, de pesquisas, etc), quanto mais distante do processo produtivo, quanto mais longe dos laboratórios e protótipos, mais alienado da criação. Muitas vezes ainda, o criador, o mestre da fórmula, o talento original aposentou-se e terceirizou a criação para o marketing. Quem faz não cria mais, só executa as estratégias pensadas no andar de cima.

É precisamente para suportar uma utilidade que o marketing se sofistica, produz teorias, ensaios, metodologias, gramáticas de qualificação das marcas, léxicos interpretativos, pesquisas e mais pesquisas, mensurações e mais mensurações.

Se competência se mede em incrementos de vendas, então o marketing é uma ferramenta. Real.

Mas o marketing que se pratica hoje tem veleidades de poder e ao debruçar-se sobre o processo criativo, perora, tergiversa em inutilidades teóricas paralisantes.

E aqui, se a competência se mede em incrementos de imagem, então o marketing pode não passar de uma quimera. Virtual.

O cabo da TV a cabo

Em recente pesquisa (de tão óbvio o resultado, nem preciso citar a fonte que esqueci), em média, pouquíssimos telespectadores de TV por assinatura memorizam canais e horários. A escolha é sempre aproximativa ou aleatória. Faça você mesmo o teste. Na coluna da direita, você deverá escrever a grade do seu canal de TV aberta mais freqüentemente assistido. Na da esquerda, o mesmo para um canal pago.

Audiência máxima e máxima qualificação são como gato e cachorro. Convivem mas com muitas reservas.

A busca pela audiência é baseada no binômio “mínimo denominador de apelos e conteúdos” e “programação generalista”. Esta é a receita da mídia de massa: facilidade de compreensão (no jornalismo), estímulos a sentimentos básicos (no entretenimento) e variedade (nas revistas televisivas que mesclam notícias e diversão). A televisão aberta cria portanto uma grade de programação que aprisiona (sem conotação negativa) os públicos. E nisto reside seu segredo de perpetuação: facilidade de comercialização e formação do hábito.

Já a TV por assinatura pretende ser segmentada, por assunto ou por público (ou complicando a equação, por assunto e público). A receita é baseada em profundo conhecimento das audiências e na produção de conteúdos sob medida.

E dessa pretensão nasce seu calvário.

É da natureza humana ser generalista, interessar-se por muitos assuntos, mudar de gosto e opinião. A segmentação por conteúdo gera, intrinsecamente, um apelo irresistível à fuga.

Somos animais volúveis, influenciáveis, instáveis e flutuamos sempre num mar de dúvidas. Embora sejamos educados para a auto-definição (homem ou mulher? sensível ou racional? liberal ou reacionário? esportista ou intelectual? Fla ou Flu?), tudo não passa de um fingimento social, uma máscara. A segmentação por público é uma areia movediça.

E não precisamos de muitas análises para perceber que os canais de TV por assinatura, diante de tanta incerteza, muitas vezes recorrem às velhas receitas da TV aberta, com a competência dramaticamente comprometida pela pobreza. Quando o canal fechado resolve ser um pouquinho “aberto”, mais parece uma TV com 30 anos de atraso.

Isso sem falar na miríade de canais enlatados, sem personalidade e identidade.

Os canais por assinatura nasceram para libertar o espectador da prisão monopolizadora mas o excesso de escolha e a segmentação matemática (a toque de pesquisas inócuas) aprisionaram seu sucesso no zapping: esse assassino de construção de marca.

E eis que surge a Internet. Precisamos aprofundar ou já deu para sacar?

Normatização do uso de blog e Twitter, por que não?

A Globo normatizou o uso dos blogs, Twitter e outras manifestações digitais para seus contratados. E muita gente já grita retumbantes palavras: “onde está a liberdade!”, “é o monopólio da informação!”, “defesa do que resta de poder!” e por aí vai.

Na prática, o que Rede fez foi restringir o xaveco das estrelas com os fãs a seus dotes próprios. Em outras palavras, o cara pode falar dos seus causos e casos, desde que eles não estejam relacionados ao trabalho. Uma espécie de pito de ética profissional básica. Só isso.

Não vamos pirar na exploração-capitalista-do-sistema-bruto-da-mídia-monopolizada nem no golpe-de- misericórdia-da-mídia-em-estado-de-putrefação-avançada-na-sua-marcha-desesperada-contra-a-Internet.

Se tenho um perfil no Facebook no qual documento minha excitante vida para os voyeurs que me amam, escrever que meu chefe X acabou de comer um cheese-salada com porção de maionese extra, que meu colega W está pegando minha colega Y, ou que amanhã vai ter uma reunião decisiva com o cliente Z (e supondo que isso seja realmente fascinante), estou é pisando na bola, feio. Seria mais ou menos a mesma coisa que mandar notinhas para a imprensa revelando coisinhas para pagar algum favorzinho que um veiculozinho me fez.

Se o artista da Globo usa o Twitter para divulgar seu programa, não seria mais decente que o programa tivesse o seu próprio? Ah, espertinhos, sacaram que ninguém está muito afim de ficar seguindo uma novela no Twitter, né? Então a gente faz assim: tem um ghost-writer (que chamaremos de editor para não ficar feio) que escreve para o galã. Fica todo mundo doidinho atrás do cara e assim a gente usa a Internet para dar uma bombadinha na TV e ainda por cima parece moderninho. Malandro!

Mas o que desandou então? Desandou porque tem uns mais espertos que preferem se virar com seus próprios big-brothers sociais: eles mesmo assumem o leme de seus perfis (nunca entendi direito esse “ovo ou a galinha”: o Galvão Bueno deve sua fama à Globo ou a Globo deve sua fama ao Galvão?). Mas quem resistiria a dar uma palinha da Cidade Proibida para ganhar mais “amigos” e “seguidores”? O que custa, né? Quem sabe o Twitter não vira uma espécie de Rede Globo do ciberespaço? A equação é assim: vaca sagrada na televisão = famosão no Twitter. E famosão no Twitter = independência da televisão. E independência da televisão = garoto propaganda de universidade, banco, loja de gato, sapato, imóvel, automóvel.

A Folha também baixou umas normas: os jornalistas “não devem colocar na rede os conteúdos de colunas e reportagens exclusivas. Esses são reservados apenas para os leitores da Folha e assinantes do UOL”.

De novo, lá veio o grito “é uma visão centralista” que não “vai aonde o povo está”. Mas raios, não é disso que estamos falando! O que aconteceu – de novo – é que o jornalista está construindo “fama própria” às custas do jornal. A Folha pode ter seus Twitters e ela está tendo uma visão distributiva do conteúdo. Tudo certo. E sem sacanagem, o conteúdo da Folha já está aberto, online.

Por que será que esse assunto virou notícia? Porque a anatomia da Internet subentende liberdade total de expressão? Porque a Internet é uma espécie de horda selvagem sem tabu nem ética?

Não.

Malandro é malandro, inclusive na Internet. Malandro na Internet é malandro na TV e no jornal, malandro na Internet é malandro na sala lá de casa, na firma, na rua, na cadeia e no quinto dos infernos.

Se a Internet é um vale tudo, onde tudo vale nada, quem ainda tem carne e osso precisa ter vergonha na cara. Quem ainda usa dinheiro pra comprar o leite das crianças, precisa defender o seu cofrinho.