A opressão do Google

Uma pesquisa aponta que mais de 70% das pessoas que fazem compras em supermercados consideram essa atividade um pé no saco. Tem outra que diz que a maioria das pessoas vai às compras com a lista, ou parte dela – inclusive de marcas – decidida.

O suplício tem muitos motivos: orçamento apertado, mau humor do cônjuge, histeria infantil, luz gelada, fila, gente feia e a constatação de que todo esse tempo e dinheiro estraga a dieta. Compras de supermercado: se não matam, engordam.

Mas quando você tem a chance (ou o azar) de ir às compras sem obrigação, é possível isolar um indizível motivo de sofrimento: a liberdade de escolha. Colocar pesos e medidas, racionais e emocionais, entre tanta oferta é fator de insegurança. Fora a tentação pecaminosa do supérfluo. Liberdade uma ova.

Excesso de escolha aprisiona.

Um rebelde caçador na savanas africanas costumava lembrar-se dos elefantes em disparada quando encontrava-se na cadeia. Uma tropa de paquidermes sem freio era sua metáfora de liberdade salvadora.

Será mesmo que a Internet é nossa Meca de liberdade? Conceitualmente talvez, na prática nem um pouco.

A Internet peca por opressão de abundância e a falsa sensação de livre arbítrio.

E se os motores de busca fossem tiranos disciplinadores? E se os indecifráveis algoritmos de relevância, monetizados ou não, premeditados ou não, fossem obscuros inquisidores?

E se o Google fosse o HAL-9000 de “2001 – Uma odisséia no espaço”?

A Rede Globo era o grande irmão? Sei não.

3 thoughts on “A opressão do Google

  1. E ainda tem gente achando que a internet matou os intermediários. Talvez tenha criado o maior deles, isso sim.

  2. Muito bom! Nao sei se a Globo eh o grande irmao, mas certamente nos todos somos ovelinhas domesticadas.

  3. concordo, alphen. o excesso aprisiona pela angústia. um sentimento cada vez mais presente nos dias de hoje e que faz nos ausentarmos da nossa própria existência. seja tentando prever um futuro cheio de quebras de paradigmas e expressões inteligentes que tentam explicar essas – abre aspas – quebras. seja tentando entender tecnologias, apps e oescambau quando, na verdade, eles é que deviam nos entender. seja tentando fazer qualquer coisa só pra parecer mais hype, mais cool, mais algumapalavrinhadessasdaí.

    se o google é o novo big brother, cada um de nós também é. potencializados pelas ferramentas, colocamos nossos pensamentos em twits, expomos nossas relações e sentimentos em orkuts e facebooks, abrimos nossos álbuns de viagens, de família, de momentos especiais com um orgulho inocente. nosso dia-a-dia e nossa biografia estão na nuvem. somos espiões e espionados, algozes e vítimas da nossa própria vontade de nos mostrar para o mundo.

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