A Globo normatizou o uso dos blogs, Twitter e outras manifestações digitais para seus contratados. E muita gente já grita retumbantes palavras: “onde está a liberdade!”, “é o monopólio da informação!”, “defesa do que resta de poder!” e por aí vai.
Na prática, o que Rede fez foi restringir o xaveco das estrelas com os fãs a seus dotes próprios. Em outras palavras, o cara pode falar dos seus causos e casos, desde que eles não estejam relacionados ao trabalho. Uma espécie de pito de ética profissional básica. Só isso.
Não vamos pirar na exploração-capitalista-do-sistema-bruto-da-mídia-monopolizada nem no golpe-de- misericórdia-da-mídia-em-estado-de-putrefação-avançada-na-sua-marcha-desesperada-contra-a-Internet.
Se tenho um perfil no Facebook no qual documento minha excitante vida para os voyeurs que me amam, escrever que meu chefe X acabou de comer um cheese-salada com porção de maionese extra, que meu colega W está pegando minha colega Y, ou que amanhã vai ter uma reunião decisiva com o cliente Z (e supondo que isso seja realmente fascinante), estou é pisando na bola, feio. Seria mais ou menos a mesma coisa que mandar notinhas para a imprensa revelando coisinhas para pagar algum favorzinho que um veiculozinho me fez.
Se o artista da Globo usa o Twitter para divulgar seu programa, não seria mais decente que o programa tivesse o seu próprio? Ah, espertinhos, sacaram que ninguém está muito afim de ficar seguindo uma novela no Twitter, né? Então a gente faz assim: tem um ghost-writer (que chamaremos de editor para não ficar feio) que escreve para o galã. Fica todo mundo doidinho atrás do cara e assim a gente usa a Internet para dar uma bombadinha na TV e ainda por cima parece moderninho. Malandro!
Mas o que desandou então? Desandou porque tem uns mais espertos que preferem se virar com seus próprios big-brothers sociais: eles mesmo assumem o leme de seus perfis (nunca entendi direito esse “ovo ou a galinha”: o Galvão Bueno deve sua fama à Globo ou a Globo deve sua fama ao Galvão?). Mas quem resistiria a dar uma palinha da Cidade Proibida para ganhar mais “amigos” e “seguidores”? O que custa, né? Quem sabe o Twitter não vira uma espécie de Rede Globo do ciberespaço? A equação é assim: vaca sagrada na televisão = famosão no Twitter. E famosão no Twitter = independência da televisão. E independência da televisão = garoto propaganda de universidade, banco, loja de gato, sapato, imóvel, automóvel.
A Folha também baixou umas normas: os jornalistas “não devem colocar na rede os conteúdos de colunas e reportagens exclusivas. Esses são reservados apenas para os leitores da Folha e assinantes do UOL”.
De novo, lá veio o grito “é uma visão centralista” que não “vai aonde o povo está”. Mas raios, não é disso que estamos falando! O que aconteceu – de novo – é que o jornalista está construindo “fama própria” às custas do jornal. A Folha pode ter seus Twitters e ela está tendo uma visão distributiva do conteúdo. Tudo certo. E sem sacanagem, o conteúdo da Folha já está aberto, online.
Por que será que esse assunto virou notícia? Porque a anatomia da Internet subentende liberdade total de expressão? Porque a Internet é uma espécie de horda selvagem sem tabu nem ética?
Não.
Malandro é malandro, inclusive na Internet. Malandro na Internet é malandro na TV e no jornal, malandro na Internet é malandro na sala lá de casa, na firma, na rua, na cadeia e no quinto dos infernos.
Se a Internet é um vale tudo, onde tudo vale nada, quem ainda tem carne e osso precisa ter vergonha na cara. Quem ainda usa dinheiro pra comprar o leite das crianças, precisa defender o seu cofrinho.
Concordo com tudo. Assim que vi os revolucionários-das-novas-mídias reclamando de tudo, parece que nem leram o real propósito das solicitações das empresas. Agora, tá na moda falar de liberdade de expressão e seus derivados e até mesmo o que parece (apenas parece) algum tipo de censura, já é motivo para uma confusão daquelas.
boa meu amigo fernand.
acho que é por aí mesmo. mas acho que para além coibir o benefício espertinho do malandro, há necessidade de uma linha de ética para a liberdade de espressão não prejudique o business do empregador. como vc mesmo disse, quem vem primeiro? mas com certeza, sem alguma linha de conduta (que é diferente de censura) o ovo pode falar m. e prejudicar a galinha. ou vice-versa.
saudades.
beijo, m
O assunto virou notícia pq a Globo é boba, má e feia.
Será que essa iniciativa da Globo tem alguma coisa a ver com o merchan q o luciano huck fez com a Vivo? Pq aí a Globo não recebeu nada desse merchan, ao contrário de merchan no programa do Huck, em que o apresentador recebe apenas uma porcentagem.
Parabéns pelos posts de excelente qualidade. Quanto a questão da normatização do uso de redes sociais virtuais concordo com o que vc diz, e por ser a globo a empresa que é, a repercussão do fato foi super-dimensionada. Abraço, Beta!
Um dos textos mais lúcidos que eu li no último ano. Congratulações!!!
Muito bom!!!! Um texto objetivo e com conteúdo na medida!
E sobre o assunto isto é até tema de etiqueta na web, faz parte termos limites quando envolvemos além de nossos interesses. Parabéns !!
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