Quem tem tempo para a televisão?

No fundo, no fundo – lá no fundo – por que a gente assiste menos televisão (ou acha que)?

Porque somos elevados espíritos que não rastejam nas baixezas exibidas. Porque temos um incômodo ideológico com a dominação das programações broadcast. Ou porque somos mentes privilegiadas, plenamente decididas e com programação mental de desejos. Porque somos capazes de filtrar e criar hierarquias de conteúdos que atendam nossas necessidades, nosso ócio, nosso vazio existencial. Porque nossos ídolos bem-pensantes martelaram que a Televisão aliena. Que a televisão é a casinha do demônio.

E tantos outros álibis intelectuais que somos capazes de criar com mais ou menos convicção, mais ou menos ironia.

Talvez seja bem mais fácil: não ordenamos mais nosso tempo e simplesmente não conseguimos mais acompanhar as grades televisivas. Hoje, não conseguimos assistir o Jornal porque não estamos em casa, ou a novela, porque ontem não conseguimos chegar à tempo de vê-la. E, claro, não temos energia nem o menor saco para gravar coisa nenhuma, muito menos conteúdos tão efêmeros.

Hábitos não se criam por causa de. Não são decisões, portanto racionais, são reflexos, logo involuntários.

Substituímos os rituais pelo movimento, a rotina pela busca descabelada, a regra pela quebra.

A televisão (e outras mídias tradicionais) crê que hábitos podem ser sugeridos ou impostos. Que a grade é um decalque das rotinas das audiências e que os conteúdos são encaixes. O culto à grade é o conforto comercial que aprisiona os conteúdos.

O gesso imutável das programações, que se eternizam,  são o ocaso da televisão. Não acompanham o ritmo das audiências mais contemporâneas, sedentas por conteúdos e avessas à rituais.

Ou será que você já está esparramado no sofá na hora do Jornal Nacional?

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