A biblioteca do Trinity College em Dublin é um santuário que possui o mais valioso livro jamais criado pelo homem, uma bíblia, “The book of Kells”. Mas há controvérsias, porque as “Très riches heures Du Duc de Berry” e suas iluminuras preciosas da biblioteca do castelo de Chantilly rivalizam em raridade. Mas por que diabos peguei aquela fila para ver uma porcaria de um fac-simile à meia luz?”
Uma recente pesquisa da universidade de Nova York demonstra que, pela primeira vez na história do Homem, a escrita se tornou tão popular e universal que existem mais autores fora dos livros (impressos ou não) do que neles . Para efeito de contabilização, só são considerados autores aqueles que forem lidos em média por mais de 100 pessoas. Tem muito livro impresso que não consegue esse marco. Já um blog, um Twitter, um perfil no Facebook (Orkut pra nós) com 100 leitores é um patamar medíocre.
Adora-se esse tipo de comparação, principalmente para reiterar o tamanho da revolução que estamos vivendo. Mas para além do sensacionalismo, o número revela uma mudança de paradigma. Antigamente, uma sociedade era considerada “sofisticada” quanto maior a quantidade de seus letrados (que sabem ler). O analfabetismo era a chaga do atraso.
Está mudando: saber ler diz pouco sobre uma sociedade. O novo paradigma é escrever (e publicar).
Dos 66 milhões de brasileiros que acessam a Internet, 51% costuma colocar algum conteúdo na Internet (pesquisa F/Radar de agosto 2010).
No Nordeste, esse número sobe para 57% e no Norte/ Centro-Oeste 64%!
No Sudeste, presumidamente mais “evoluído”, o número cai para 48% e o Sul dos arianos – lanterninha nacional: somente 36% dos internautas costumam publicar.
Talvez devêssemos, a partir de agora, começar a considerar nosso grau civilizatório pela quantidade de autores (e não leitores).
E como ficam ridículos certos preconceitos.
Caramba, quanta coisa boa dita em um post. =)
Vamos lá:
Quanto à mudança de paradigma, é um avanço.
Afinal de que adianta saber ler e escrever, se não lê e não escreve, de fato? Um conhecimento não aplicado equivale a um desconhecimento. Beleza.
Já para os critérios da pesquisa, torço o nariz. Que papo é esse de considerar autor quem for lido por mais de cem pessoas? Autor é quem cria. ponto final.
Um cara que tem um blog Ctrl+C Ctrl+V e não publica uma linha de conteúdo próprio, mas tem 10 mil acessos, é autor? Autor de quê?
Por outro lado, um cara que escreve. Cria algo e publica. Se apenas meia dúzia acompanha, ele não é autor?
Se for esse mesmo o critério, discordo dele.
Outro ponto:O hype.
O “broadcast yourself” é a onda do momento. Temos inúmeras ferramentas para publicar o que quisermos para todo mundo, de graça e sem precisar pagar nada. Soma-se à isso a novidade e..
..BUM! Temos milhões de autores da noite pro dia. Será? Dizer o que comeu, ou que está preso no engarrafamento é conteúdo criativo? pode ser que sim, pode ser que não.
Mas a questão não é essa. A questão é a euforia.
Está todo mundo publicando porque é novidade. A internet está na infância, se descobrindo. Tudo é novo, lindo e maravilhoso. Todo têm tanto a dizer. Será? Daqui há pouco – creio que na próxima geração – os ânimos estarão acalmados. As pessoas vão perceber que é melhor usar seu tempo lendo bom conteúdo do que escrevendo porcaria.
Acho que é por aí. Ou não.
Hoje eu li um post no blog do Faris Yakob que fala um pouco sobre essa mania de compartilha conhecimentos e experiências, dentre outras coisas. [ http://farisyakob.typepad.com/blog/2009/10/projected-identities.html ]
Nesse post ele cita o Cory Doctorow em um raciocínio sobre uma planta chamada Dandelion, dai acho que casa com esse seu raciocínio.
” Take the dandelion: a single dandelion may produce 2,000 seeds per year, indiscriminately firing them off into the sky at the slightest breeze, without any care for where the seeds are heading and whether they’ll get an hospitable reception when they touch down.
The dandelion just wants to be sure that every single opportunity for reproduction is exploited!
Dandelions and artists have a lot in common in the age of the Internet.
This is, of course, the age of unlimited, zero-marginal-cost copying.
If you blow your works into the net like a dandelion clock on the breeze, the net itself will take care of the copying costs.”
Abraço.
A internet incentiva as pessoas a escrever, mas não a pensar antes. Vejo muitos reposts, muito efeito manada e muita reclamação inútil. Agora, conteúdo original é outra coisa. Existe muita página por aí que não faria mal nenhum se permanecesse em branco. A questão, como disse Tarilonte, é a euforia. Afinal, papel e tinta sempre existiram, as idéias é que dever ser grandes. A originalidade é que cria pensadores, autores e intelectuais. Por falar em internet, blogs, microblos e redes sociais, quantos posts realmente originais você leu esta semana?
@Psicovivir Esa nota está mal escrita y el título manipulado para atraer lectores. Suele pasar en ese sitio. Sigo a Sanz, y él no tuiteó eso