A distribuição livre de conteúdo é um tabu e para quebrar a censura moral que nos imobiliza, nada como trepar alguns macacos em seus galhos.
A primeira mascarada diz respeito ao direito autoral, sempre ele. Por detrás de qualquer criação e produção de conteúdo, existiria uma projeção de receita perpétua. No entanto, está mais do que demonstrado que, salvo exceções irrelevantes para a média, o pinga pinga dilui-se rapidamente. Nada é tão automático assim. A receita autoral é fator da ativação do conteúdo. A criação é remunerada no seu lançamento e cada vez que ele é reiterado com re-lançamentos. No limite, portanto, o direito autoral não seria um impeditivo para a distribuição livre de conteúdo (ou vice-versa).
A segunda macacada é vaidosa e egocêntrica. O medo de democratizar a produção “autoral” é a insegurança gerada pela falta, de crédito, de currículo, notas de rodapé, referências, lisonjas, fãs e puxa sacos. A autoria dá sentido ao vazio existencial e é um pedigree da memória. Distribuir livremente a produção é abdicar das palmas póstumas, da lápide dourada. O cemitério é cheio de autores possessivos.
Se a criação não é sopro divino mas exercício, é precisamente na capacidade de criar e produzir. sempre e sem parar, que ela se aprimora. O valor não está no “criado” mas na “capacidade de criar”. Coibir a livre distribuição criativa é preguiça. É criar para coçar o saco depois, e morrer mais rápido.
Ainda – e o argumento seria suficiente – não há meios de controles possíveis para o fluxo livre de conteúdos. Marcos regulatórios devem ser consensuais e não impositivos.
Quando a BBC percebeu que não tinha recursos suficientes para digitalizar e armazenar seu formidável arquivo de conteúdos, ela abriu geral. Sorte nossa. Não duvido que exista mais conteúdo no Youtube, livre leve e solto, do que nos porões trancafiados dos arquivos autorais.
Assim como a natureza no Jurassic Park, a pirataria sempre acha uma saída. Todo mundo que tentou colocar trechos grandes do seriado “Curb Your Enthusiasm”, da HBO, no Youtube teve que retirar por conta dos direitos autorais. Até que alguém achou essa saída estranha, mas que pelo jeito deu certo: “fliparam” a imagem, inverteram horizontalmente, e o episódio não foi retirado até agora. Estou gostando bastante do msaisutnE ruoY bruC.
O endereço: http://www.youtube.com/watch?v=GcqaFRlN5yY
Um dos melhores blogs que tenho acompanhado (ponto)
O último argumento é o que considero mais interessante.
Pra quê regular algo que não se pode controlar? É desperdício de tempo e dinheiro.
A distribuição digital de conteúdo é como um fenômeno natural, não pede licença e nem se subordina às Leis. Simplesmente acontece.
Criar leis para controlar a distribuição de conteúdo digital é tão eficaz quanto decretar que só pode chover às quintas-feiras. Essas leis já nascem mortas.
Ainda bem, por dois motivos: Primeiro porque no esquema da indústria, quem menos lucra é o autor. Segundo, porque a beleza e conhecimento existentes em uma criação intelectual é, a meu ver, patrimônio de todos.
Sobre conteúdo intelectual na era da informação digital, recomendo ler A Cauda Longa. A era dos blockbusters está com os dias contados.
Posso copiar este post e colar no meu blog? 🙂
plaft pluft.., criar, aos outros, é o perfume e a poesia. em cheio. bravô.