Deambular por Assis na Itália, o Mont St Michel na França ou Aparecida do Norte por aqui, é um inferno: só falta mesmo vender ex-voto para simplificar a promessa. Sempre foi assim, desde que vendiam réplicas da chinela rasgada de Brian.
Qual é exatamente a responsabilidade da propaganda? Além de vender coisas, atender as necessidades dos nosso clientes, etc. Qual é a responsabilidade social? Nem sempre nos preocupamos com isso, afinal de contas, é mais cômodo assumir o nosso papel de agentes, de soldados do marketing. Se derrapamos, tudo não passa de “propaganda”, portanto, mensagens que desaparecem no ar. Quando escorregamos, os órgãos que nos regulam se encarregam de dar o pito. Quando erramos, a culpa é do cliente.
Mas nosso papel não é lá tão irrelevante, para além daquele estritamente comercial. A prova é que fazemos trabalhos para instituições sem fins lucrativos, não governamentais, que fazem o bem. E se elas precisam de propaganda, quer dizer que a propaganda tem serventia além de aumentar market share.
A gente adora sentar na frente de um “cliente” cheio de boas intenções, ética legítima e ações que nos enchem de lágrimas. E nos damos com a alma lavada, seja com intenções colaterais (fazer um bom trabalho publicitário), seja com consciências arrependidas (garantir camarote VIP no céu).
E diante da carga de trabalho, dos briefings, dos prazos, das restrições financeiras, das camisas de forças, que nos embrutecem, o terceiro setor é antes alivio do que causa, antes refresco do que crença, antes exercício criativo do que mobilização, antes liberdade do que responsabilidade.
É tanta indulgência negociada no time sheet das agências de propaganda e dos cúmplices que as veiculam, que a gente esquece que comprar assento no paraíso é a uma prática medieval que tem mais de esperteza religiosa e alienação dos crentes.