A nossa saia justa de cada dia

Estamos sempre numa saia justa, sempre. E elas são de várias naturezas. Perder a classe é uma questão de milímetros.

Administramos verbas que nos disciplinamos a chamar de investimento mas que os clientes preferem chamar de gastos, despesas. Despesa é uma coisa ruim, que por princípio devemos controlar e negociar. Pois a nossa receita depende em larga medida dessa verba aí: quanto mais se investe (ou gasta), mais ganhamos. E isso vale para qualquer formato de remuneração, inclusive os menos dependentes da mídia, pois quanto mais trabalhamos, mais o cliente investe (ou gasta). Saia justa dos infernos.

Outra: o nosso cartão de visita, as nossas cartas de nobreza, nossa credencial é a crítica. Se nos chamam, é porque querem corrigir ou melhorar algo. Portanto, cabe-nos o diagnóstico: “seu posicionamento é deficiente, sua comunicação meia boca (até quando foi criada por nós) e seus concorrentes, meu amigo, estão nadando de braçada”. E todo esse discurso é feito ali, na lata, justamente para quem fez. Criticar o filho pra mãe é muita saia justa.

Mais uma: somos contratados para surpreender (ou informar) pessoas sobre coisas que não as interessam necessariamente (ou para as quais não podem – ou querem – pagar). Mais ou menos como ser penetra numa festa e avisar o leão de chácara que não fomos convidados. Para que funcione, temos que tentar falar para essas pessoas assuntos que lhes dizem respeito e que – obviamente – não têm absolutamente nada a ver com o interesse do nosso cliente que nos paga precisamente para falarmos dele.

E tudo isso virando noites, aturando desaforos, regras estúpidas, gringos dando pitaco e administrando muitas frustrações, complexos e vaidades.

Não é mole ser publicitário. Mas é bem melhor do que trabalhar!

One thought on “A nossa saia justa de cada dia

  1. Brilhante Fernan! O único e negro lado da publicidade…
    Falando assim até parece ruim rs.

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