Monthly Archives: January 2010

O vício perigoso das concorrências

Concorrências entre agências de comunicação na disputa pela conta de um cliente, e principalmente quando conduzidas a partir de trabalhos especulativos (campanhas hipotéticas), contém intrínsecos vícios sobre os quais muito já se falou.

Não bastasse o calvário do qual participam agências (e anunciantes) que já têm suas contas divididas, a partir de  critérios nem sempre muito lógicos e claros (por produto, por períodos, por verba, etc), não bastasse o sistema de, por vezes, transformar a relação cliente x agência em chantagens contínuas (quando por exemplo cada mísero job passar a ser disputado por concorrência), não bastasse a dificuldade que esse sistema infernal cria na consistência do discurso publicitário, não bastasse a quasi impossibilidade de planejar recursos e equipes, não bastasse isso e não bastasse mais aquilo, o jogo parece mais atraente do que todos os mais óbvios princípios.

Esse neo-liberalismo suicida contraria pelo menos três deles: curva de aprendizado, coerência do posicionamento e integração dos meios.

O processo de conhecimento da cultura de uma empresa, do histórico de suas marcas e principalmente dos seus consumidores é lento por definição. Pitchs incessantes são autos-da-fé irresponsáveis.

Um posicionamento de uma marca não se chama posicionamento à toa. Ele constrói a imagem da marca e esse é o único valor importante a ser construído pela comunicação. O restante é empréstimo dos atributos do produto. Concorrências cíclicas provocam terremotos de percepção no consumidor.

Terceiro e não menos importante, em tempos de integração absoluta de meios, quando uma campanha, uma ação ou uma relação se estabelece a partir de uma engenharia criativa de inter-relação entre os pontos de contato com o consumidor (inclusive os não tão novos digitais), não faz o menor sentido – ou na melhor das hipóteses, dá um trabalho danado – atomizar investimentos e partilhá-los entre diferentes agências.

Nego que vê TV é igual nego que tá na web

Se é verdade que 41% dos americanos entre 8 e 18 anos assiste conteúdo de televisão em outras plataformas além do aparelho que trona na casa de bilhões de pessoas em todo mundo, a constatação pode parecer um atestado de falência premeditada para os fabricantes. (Vale observar que isso é uma tendência de comportamento que irá aplicar-se a todas as faixas etárias e povos). Por outro lado, a previsão parece redentora para quem produz conteúdo televisivo.

É provável que 10 em cada 10 fabricantes de televisão digam que nunca se vendeu tanto aparelho e que 10 em cada 10 críticos da televisão afirmem que nunca a audiência do meio foi tão baixa.

Mas esse debate é chato.

O que interessa mesmo é, a partir dessas evidências, preocupar-se frenética e obsessivamente, em mensurar verdadeiras audiências de conteúdos.

A única saída é calcular de forma exata – e não amostral – todas as audiências somadas e precificar os custos de mídia a partir dessa nova base.

A única saída é um custo único, por audiência, e uma venda verificada. “Nessa estratégia você teve X de audiência – eis a comprovação – portanto você deve Y onde Y é X vezes o custo unitário”. Ou variantes escalonados dessa equação (com tetos e pisos ou faixas de descontos).

Já dá pra imaginar os espíritos de porco dizendo que a audiência do computador é diferente da televisão, da revista, do celular, do vídeo game, do sinal de fumaça, da telepatia. Complicação sócio-antropopops. Audiência é audiência e ponto final.

A morte anunciada do Copyright

Em 1878, em um congresso literário, Victor Hugo disse:

“O livro, como livro, pertence ao autor, mas como pensamento, pertence – a palavra não é grande demais – ao gênero humano. Todas as inteligências têm nele direito. Se um dos dois direitos, o direito do escritor e o direito do espírito humano devesse ser sacrificado, seria, certamente, o direito do escritor, porque o interesse público é nossa preocupação única, e todos, eu declaro, devem passar antes de nós”.

A ousada declaração dispensaria qualquer comentário, não fossem os tempos que vivemos e que o gigante não conheceu.

Victor Hugo não sabia que menos de um século depois, o gênero humano se conectaria em rede, através da união anárquica e orgânica de bases de dados, pilotadas a distância por qualquer membro da espécie munido de um computador e da boa vontade atávica no desejo de aprender, crescer e dar sentido à vida.

Victor Hugo não sabia que a força que move essa união exponencia-se em função da mola motriz dos homens, a tecnologia e o consumo.

Victor Hugo não sabia que da extraordinária capacidade de processamento, integração e comunicação que a Internet permite, nasceriam uma produção intelectual, cultural, científica e humanista sem precedentes.

Victor Hugo não sabia que a Internet seria tão vital à sobrevivência humana quanto o ar que ele respirava.

Mas ele sabia que, dos confins de uma espécie de consciência primitiva, o homem é egoista. Que o domínio do saber e do pensamento é um privilégio e uma arma de opressão. Ele também sabia que o domínio público é mais forte e mais fértil.

No final do século XIX, antes mesmo de existir, decretou-se o fim do copyright.

Antes da mídia, antes do software, a ideia

Quem tiver tido a oportunidade de assistir televisão fora do país, em particular na Europa e nos Estados Unidos,  vai ter uma sensação de flash-back curioso durante os intervalos: pululam comerciais de serviços que outrora chamavam-se “.com”.

Tratam-se de to todos os tipos de atividades recorrendo à velha e boa mídia de massa para ganharem corpo e público. Seguradoras e serviços financeiros em geral (até bancos virtuais. sic.), lojas de varejo, imobiliárias e cassinos, jogos, ingressos online, etc.

Para além de investimentos temporários, para alavancar reputação e aliviar acionistas, parece que dessa vez as estratégias são mais conscientes.

Apesar dos negócios terem características de start-ups na sua maioria, esse tipo de iniciativa revela maturidade do mercado publicitário que já percebe a complementaridade das mídias. Maturidade das mídias e uma visão competente das de massa.

Longe dos anunciantes aquele frenesi, típico do começo do século, quando as cifras investidas na mídia de massa tinham um propósito puramente especulativo.

Mais distante ainda da falácia muito comum que vemos no Brasil, quando ainda se acredita que para atividades online, a mídia online é mais eficiente.

Certamente não é simples, rápido, nem tampouco economicamente inteligente pensar dessa forma. A mídia online, além de ser extremamente complexa e esparsa ainda tem sua aferição de resultados inexata (ou decepcionante), resultando em uma rentabilidade baixa.

Por outro lado, ainda esbarra-se em formatos e linguagens pouco convincentes, com impactos difusos e uma capacidade de envolvimento duvidoso na Internet.

É evidente que o mix é inevitável e as estratégias devem conjugar esforços, atribuindo-se objetivos claros para as diferentes mídias.

Quanto ao diálogo proporcionado por uma integração de mensagens nos diferentes meios, ele não deve ser tão primário quanto àquele geralmente sugerido: “para cobertura rápida, mídia de massa, para relacionamento ou compra, mídia online”.

O mesmo raciocínio vale para aqueles recursos clássicos que vão da simples citação (o www no comercial e o endereço no www) àquela barra forçada de criar plataformas complementares (um site que completa o discurso da mídia de massa ou o contrário).

A estratégia deve inverter o paradigma endeusado pelo raciocínio da mídia clássica: não são os objetivos da marca (do anunciante) que devem pautar a escolha das mídias. Esse cabresto está na origem de todas as fórmulas recitadas, dos softwares, dos planejadores robotizados e até mesmo dos negociadores (de agências, anunciantes e veículos) que alocam as verbas sem inteligência, pouca pertinência e criatividade.

Mais vale pensar a idéia – que por condição fundadora está sustentada nos objetivos da marca – antes de pensar no “onde”. Mais vale concentrar-se na mensagem e nos seus formatos, antes de planejar a mídia, antes de fazer a típica e estúpida corretagem de mídia.

Os especialistas dos “Tempos modernos”

Vamos chamar um specialist da silva pinto e um expert de souza quadro.  Quanto mais arcana, misterioso ou difícil de entender uma atividade, mais a gente complica inventando cargos, funções, responsabilidades e organogramas.

Desde que a Internet virou a ultima fronteira, nunca se criou tanto apertador de parafusos. De fazer Adam Smith parecer ingênuo. Utilizar a grande rede, só se for partilhando o trabalho em minúsculas atividades, cuidadosamente costuradas por uma espécie de governança, um tarefeiro muito valorizado chamado gerente de projeto. Tem nego que só faz escarafunchar as redes sociais, outro que inventa moda pra gerar a fofocaiada vital, mais um que toma as medidas e as temperaturas, mais um que responde, outro que pergunta, outro que escreve, outro que apaga, outro que filtra, outro que toma café e outro que cobra. E tudo isso tem lindos nomes.

É como aquele monte de rituais que a igreja inventou, aquela liturgia sagrada, cortina de fumaça para esconder a volúpia por debaixo das batinas.

Tem gente que nem chegou a essa suprema sofisticação, tem gente que ainda usa os profetas multi-poli-sábios, mas esses estão fora de moda.

O que pega agora é montar essas estruturas, esses polvos organizacionais “para te atender na sua estratégia on-line”. Chama o especialista em unha encravada, doutor!

Mas tem algo que não orna. A Web é por definição, interligação; por gênese, “faça você mesmo”, por vocação,  espírito de porco.

Muita técnica, muita bíblia, muita moral, civismo e ética, muita matemática e excesso de regras … esse monte de especialista, sei não…

Remuneração de agência é e sempre será sobre a mídia

O saudosismo é uma gangrena. Quando a frase começa com “antigamente” ou toda a cadeia semântica que cria eufemismos para “do meu tempo”, prepare se que aí vem choro contido. E sempre que isso começa é uma luta desenfreada de preservação. Saudosismo é sinônimo de reacionário.

O mercado publicitário está sob fogo cruzado. Para muitos visionários, há chuvas e trovoadas no entorno e quando a água chega no tornozelo, saem de rodo em punho para conter a inundação. No desespero, abaixa-se a taxa.

As armas pré-históricas contêm o inimigo entre um temporal e outro. Uma espécie de piscinão. No médio prazo, a lógica: ganhar menos dá em menores salários, menores salários atraem menos inteligência que dão em piores desempenhos. E os rodos vão aumentando de tamanho.

Ao invés de construir diques de contenção, porque já não construímos nossas casas sobre pilotis?

Não encontrou-se nenhuma alternativa satisfatória – e satisfatória significa fartura à altura da bufunfa de antigamente – para remunerar o trabalho de uma agência de propaganda tão boa quanto aquela proporcional ao investimento em mídia.

Inovar não significa quebrar tudo, é também capacidade de adaptação.

Mas o que há por detrás dessa lógica que nossos pais fundadores criaram?

Uma agência só é útil na medida em que é capaz de seduzir pessoas ou consumidores potenciais. Consumidores potenciais são também o que se convencionou chamar de audiência. Uma agência, portanto, serve para perseguir e cativar audiências. E quanto maior ou melhor for essa audiência, melhor. Audiência grande e certa é o que interessa às agências de propaganda. O que significa portanto ser remunerado sobre a mídia? Vamos ser simples: significa ganhar exatamente sobre aquilo para o que uma agência serve, alcançar e cativar audiências, onde alcançar significa “mídia” e “cativar” significa “criação”.

Tem gente que acha que o “alcançar” é função do veículo e não da agência. E por esse raciocínio, acham que o justo seria remunerar o “cativar”. Em tempos de multiplicação de veículos ad infinitum, é ingênuo raciocinar como do tempo em que só existia meia dúzia deles. Tentam pois fórmulas para “pagar” a criação. É contrariar, avacalhar totalmente a lógica da palavra. É mecanizar um ofício cuja origem é sensorial e intuitiva.

Mas o que se apresenta é que não se sabe mais mensurar audiências e essa é a raiz da crise. Não se sabe mais quanto, quando e como foi vista uma mensagem. Não temos mais controle sobre a capacidade que uma mensagem tem, em novos meios, de se multiplicar. E é por isso que se tenta remunerar a mágica criativa, já que a mídia ficou inexata. Se o Picasso levou 100 horas para pintar Guernica e o amigo do meu pai 200 para pintar um girassol, então Picasso vale menos que Seu Germano.

Mas perseguir audiências é o nosso mantra. Então continua lógico ser remunerado sobre isso.

O que precisamos portanto é inventar ou re-inventar um jeito de medir, inferir, chutar, convencionar novas formas de mensurar audiências. Essa deveria ser a nossa idéia fixa e não sacar do rodo. Aproveitar que ainda nos resta alguma mensuração aceitável capaz de subvencionar novas experiências.

A menos, é claro, que se ache que palavra chave no google é propaganda e que boneca inflável é mulher.

Porque a produção publicitária é tão tosca?

Existem poucas histórias. Talvez uma única. Um herói que se dá bem no começo e acaba se dando mau no final. Ou o contrário. E existe uma única estrutura para contá-la: “é assim”, “não é bem assim”, “e ficou assim”. Ou uma baguncinha dessa lógica.

Assim como Haydn criou algumas centenas de sinfonias em apenas 24 tonalidades, 7 notas, 5 linhas na pauta e só duas claves, escreve-se aos borbotões há milênios, e é sempre a mesma coisa. Da bíblia aos panfletos evangélicos, de Boccaccio a Dan Brown, de Montesquieu a Jabor, do Gorila da Cadbury a … cite uma propaganda porcaria, são tantas…

Não se criam histórias novas há milênios, e por isso tenta-se relativizar: é original nessa linguagem, é inovador para essa categoria, é totalmente surpreendente para essa marca.

Quando queremos contar histórias, na televisão ou no cinema, no namoro ou no boteco, na literatura ou na propaganda, a arte está no contar e não na história.

Sofismas à parte, a gente persegue demais a história e de pouco o contar. E contar é “como” e não “o quê”.

Isso tem duas conseqüências desastrosas – pelo menos duas – para a qualidade da nossa propaganda.

A primeira é o calvário paralisante do arsenal de pesquisas que tentam dar colo à insegurança. As pesquisas contam a história para as pessoas em formatos primitivos, animatics, storyboards e outras monstruosidades, nivelando sua capacidade de apreciação abaixo da linha do analfabetismo funcional.

O segundo desastre é a qualidade das produções que são precisamente o coeficiente “contar”. Como a história parece mais importante do que a forma de contá-la, de que vale o acting, a locação, os efeitos, a música?

“Economiza aí que isso não é importante. Faça um filminho vagabundo, desses que tem na Internet que dão milhões de views. O importante é a história”, como se qualidade de produção fosse a mesma coisa que qualidade da imagem, como se os consumidores que perseguimos, ignorantes, pobres e burros presumidos, não se acotovelassem para ver o “Avatar” da vez nos cinemas. Blockbuster com uma história bunda em um contar inebriante.

Pesquisa é confissão com pau de arara

Ter o seu trabalho apreciado por pessoas estranhas é sempre uma provação e ser favorecido por um comentário favorável é fator de muitas variáveis que transcendem a qualidade em si: humor, ambiente, e outras emocionais. E por serem imprevisíveis é extremamente difícil vencer uma primeira impressão com argumentos.

Convencionou-se que a boa propaganda deve emocionar e trucidam-se sistematicamente as análises, portanto racionais, que, via de regra, são taxadas de míopes, reducionistas e covardes. Nenhuma pesquisa de pré-teste de campanha avalia o pulso do consumidor, o tamanho de seu sorriso, a intensidade de seus rubores faciais, o foco mental de sua atenção.

É na expressão verbal dos entrevistados que se baseia o resultado. Ainda que a metodologia recorra a estímulos diversos, a apreciação que se considera é aquela que pode ser transcrita ou descrita.

Emoções são emoções por serem imprecisas, interpretativas e indizíveis. Uma emoção deixa de sê-lo no momento exato de sua descrição verbal.

Ainda que seja possível definir genericamente um sentimento, a dificuldade situa-se na tentativa de adjetivá-lo com graus de intensidade, mesmo para o mais douto dos entrevistados (figura que não se acotovela propriamente nas portas dos recrutadores). Pois é a intensidade e só a intensidade de uma emoção que pode qualificar ou desqualificá-la. O amor apaixonado é totalmente diferente do amor protocolar, do amor platônico, do amor filial, do amor fraterno, do amor pátrio, do amor moral, do amor carnal.

Isso sem falar do repertório de significados de cada um. Os ingleses dizem “amazing”, “gorgeous”, “wonderful”, “superb” para qualquer coisa, um macarrão, um panorama ou uma bunda. Os franceses falam por negação e assim “pas mal” quer dizer exatamente “bom” ou “muito bom”. É assim para as diferentes culturas e mais ainda para ambientes sociais e principalmente experiências de vida, que são infinitas.

Um investigador deve tirar do acusado se ele estava ou não no local do crime na hora em que ele aconteceu e isso é uma pergunta objetiva: é ou sim ou não ou o cara está mentindo. E a mentira se resolve com inteligência ou à força.

Saber se e como o consumidor se emocionou com uma idéia não se resolve com perguntas objetivas, quaisquer que sejam os recursos e as metodologias. E isso se descobre com sensibilidade e não parti-pris.

Pesquisas de pré-teste não passam de interrogatórios (por vezes trucados), tratamos os consumidores como réus, nos portamos como investigadores e não há detector de mentiras para emoções.

E infelizmente, o que era para ser inspiração é sentença.

Vai dar saudade do Twitter

A Internet é pródiga em fenômenos que surgem como cogumelos endiabrados. Nascem e prosperam em uma madrugada, apodrecem ou procriam e ensinam um pouco.

Assim é o Twitter, uma ferramenta de relacionamento que virou estilingue de reputação ou pedestal da vaidade.

O “fenômeno” tem seus momentos de grandeza quando obtém esporádica redenção na mídia doura-pílula, manifestando vozes mudas do Irã ou do Haiti.

Mas profecias e estatísticas à parte, o Twitter é o que ele não nascer para ser: uma RSS comunitário. É nisso que é bem sucedido, sob uma perspectiva de mais fôlego. Se ele vai sobreviver como marca e plataforma independente é cedo para dizer.

Se o Twitter é isso aí, um espalha conteúdos entre pessoas pertencentes a uma mesma confraria, o que vem primeiro, o feature ou a comunidade? Dá para prever que o Twitter está mais para um apetrecho, um aplicativo de comunidades já estabelecidas do que um agregador de pessoas. Ele não conseguiu ser mais do que uma única boa idéia, que, como todas, para sobreviver, deve fermentar outras, sem parar.

Ele despertou para o estrelato como sempre é, na Internet: o pequeno bonitinho foi a bola da vez. Mas não sucumbiu, foi sucumbido, sem querer, ao star-system. Ele nasceu para estar na origem de agrupamentos comunitários do tipo “meus amigos do Twitter” e virou isso aí, uma catapulta para o Big Brother ou de outras mais renomadas estrelas do show bizz ou do esporte. Catapulta de esperteza.

O Twitter já perde fôlego, já perde velocidade, já perde interesse.

É uma pena, mas é assim mesmo, coisas do mundo líquido.

A difícil convivência entre o jornalismo e a propaganda

De um lado, os procuradores da audiência, do outro, os do dinheiro.

Jornalistas e publicitários rezam credos distintos apesar da interdependência.

Muitas são as diferenças, os interesses e os conflitos em jogo sempre que esses parceiros se enfrentam. Muitas piadas simbolizam a relação: para uns, propaganda é aquilo que se põe no avesso do conteúdo; para outros, o inverso.

Pouco interessam as ironias ou as clássicas mágoas fustigadas a portas fechadas. Mais interessante tentar aprofundar algumas razões.

Jornalistas e publicitários comunicam e informam. Ambos produzem conteúdo. Mas uma primeira diferença óbvia se estabelece no interesse por detrás das atividades. Publicitários defendem marcas e empresas por procuração, jornalistas o interesse público. Privado versus Público (e não “O público” claro). Ainda podemos opor conceitos mais etéreos: interesse econômico X interesse pela verdade.

Mas esse tipo de discussão ideológica costuma desaguar em debates semânticos apaixonados e, claro,  inconciliáveis.

Romantismos à parte, o publicitário tem um pé na verdade e um pé na ficção. O jornalista, diferentemente, tem um olho no presente e outro na passado. Publicitários têm a pretensão de cativar pela imaginação, tocar o coração e a intuição. O jornalista sonha em transformar a observação do presente em anais e documentação.

O que se convencionou chamar de boa propaganda tem muito mais de entretenimento do que de informação. O que se aceita como bom jornalismo tem muito mais de seriedade do que de fantasia. A propaganda quer contar “história”, o jornalismo quer contar “a história”.

E quando uma convenção vira teimosia, o jornalismo e a propaganda perdem uma oportunidade única de evolução. Evolução em benefício de quem está, inocentemente, no meio do debate: as pessoas.

Talvez o jornalismo possa ser mais sedutor, sem deixar de ser instrumento útil de compreensão do presente. Talvez  a propaganda possa ser mais responsável (ou séria) sem deixar de ser instrumento de escape, de necessária alienação e indulgência. Jornalismo mais leve por vezes, propaganda mais séria de vez em quando. Quem sabe?

Todo pudor será castigado

Se existe um direito humano profundamente debatido nos dias que grassam, é o direito à intimidade.

Mas nesse big-brother em rede e público que habitamos o pudor é qualidade em desuso, quase psicopatia, vide sociopatia.

Milhões de câmeras nos filmam sem prévio consentimento e que diferença faz saber ou crer que as “informações gravadas não serão divulgadas”? Que diferença faz, para o estrito “direito à intimidade”, saber que esse voyeurismo mecânico existe para preservar outro direito fundamental, o direito a vida? É invasão de privacidade passar a mala do raio X, ser filmado na marginal e no caixa eletrônico. O que dizer do scanner de aeroporto ou da fotografia no portão do estádio? Estupro de privacidade.

A intimidade é um valor ultrapassado e não deve ser confundido com desejo de anonimato.

Quem tiver paciência, estômago ou luxúria suficiente,  pode passar a vida penetrando a intimidade das pessoas nas redes sociais. Não se trata de invasão alguma porque os perfis são na maioria públicos e produzidos pelos próprios autores. Intimidade? Quem ainda liga para isso?

Os mais moralistas ou hipócritas podem retrucar que a intimidade é preservada pela máscara, pela criação do personagem público: só escancara-se o que se quer ou seu avatar. Mas é super-estimar sua capacidade criativa. O fluxo constante e vital de interação faz a máscara cair muito rapidamente. Aí está o twitter e sua quimera de estrelato irresistível para revelar a face mais pueril dos seus autores.

O exibicionismo público, agora e doravante democratizado ao extremo, é a nova moral dos homens.

A internet finalmente revogou a intimidade que outrora estabeleceu o sonho impossível da individualidade.

E talvez, para além do desejo de anonimato que esconde os pulsos animais, estejamos construindo uma redentora Gaia humana.

Para onde vamos com tanta sucata?

O closet é uma espécie de masmorra: com que roupa vou? Essa dobra, essa cor, esse corte, essa combinação ficam bem?

O diabinho sibila no ombro “pega essa calça mesmo, ninguém vai reparar”. O anjo medita: “que tal uma passadinha no shopping?”

A moda, a tecnologia, o entretenimento e até a mais prosaica das subsistências são caudatários do novo.

É a mão de ferro da perpétua renovação que rege o século. Só presta se estiver tinindo.

Não mais em ciclos ou em estações, como no tempo dos nossos pais, o novo contamina em espasmos assimétricos, incontroláveis, aos borbotões, acometendo-nos ao sabor da insegurança, do vazio, do crédito, da competição.

Foi-se o tempo da temporada, a caça é diária: na rua, na mídia e claro, na Internet. Liquidações, datas promocionais e eventos reguladores: me engana que eu gosto. Todo dia é dia de cair armadilha com prazer masoquista.

Ao sabor da propaganda.

E quando não temos mais nada para sucatear – seu guarda roupa, sua casa, sua geladeira, suas memórias –  quando não temos nada de novo para propagandear, a gente sucateia seus desejos, suas verdades, seus valores.

Alguma novidade? Nenhuma.

A Internet acabou com a nossa raça

Quando inventaram a imprensa, inventou-se o Estado. Nasceu o rádio e o mundo ficou pequeno. Viajamos para o espaço e a terra era azul. Criamos a televisão e a humanidade ficou parecida.

Surgiu a Internet e nos perdemos.

O que é mais útil? O baço, o pâncreas, a vesícula biliar ou o Google, a Wikipedia, o MSN? Quantos minutos da sua vida, quantos dedos do pé, quantos cabelos você dispensa por um acesso à Internet?

Por que o saco de alguns macacos adultos é azul? Por que os Gnus são os melhores amigos das zebras? Por que a gema dos ovos da Tanzânia é branca? E por que, por que diabos a gente precisa saber disso tudo?

Por que é que quando não chega email na caixa postal me sinto abandonado? Por que é que só me sinto vivo com muitos  gigas à mão? Só me sinto Eu com meus perfis? Não saio de casa sem a parafernália digital ao primeiro clique?

Sempre achamos que quanto mais se soubesse das coisas e quanta maior a nossa memória, mais evoluídos seríamos, bem sucedidos, grandes, fortes e raçudos.

E com a Internet, acabam-se as dúvidas e o saber individual perde  sentido. Está todo mundo igual demais.

Como isso é chato.

Ócio criativo é muleta

O homem é um bicho violento por natureza e essa energia não é gasta só para lutar pela sobrevivência. Gratuitamente, por esporte, auto-flagelo ou complexo de insignificância, sem-querer-querendo, o braço, a perna e principalmente a boca alforriam-se. E lá vai a catarse.

É bom deitar as duas orelhas na cama, aconchegar os travesseiros, sorrir a toa, acariciar por nada, contemplar, sossegar o sopro.

Mas a paz dá sono!

A Lorena, uma região adormecida do norte da França, foi o palco de tristes batalhas. Hoje, a excitação do front deitaram-se eternamente. Nas planícies desoladas, um grupo de pessoas reuniu-se para criar o primeiro Grupo Indigenista da Lorena, uma associação de gordos branquelos que brincam em acampamentos sioux, vestem-se de peles sintéticas e dançam em volta da fogueira em homenagem à Manitu. É o que chamam de ócio criativo, uma douta teoria que outros chamam de vazio existencial mas que também poderíamos qualificar simplesmente de demência humana.

O presidente Lula carregando um isopor na cabeça não é símbolo de atividade criativa. Papo pro ar não enche o papo.

Sem uma luta temperada por pitadas de ódio visceral, sem a violência da paixão, não tem criação, só preguiça.

Nesse novo ano, nessa nova década, muito ódio para todos.

A Internet e a evolução

O que faz o gnu pastar impassível ao lado do leão? A  zebra dividir o riacho com a hiena? O leopardo se espreguiçar calmamente por sobre o rebanho de gazelas? E turistas barulhentos exaltarem-se com o rinoceronte impávido?

A evolução é uma luta desesperada pela sobrevivência. Uma lei natural que descarta o mais fraco e premia o mais adaptado.

O fingimento, a mentira, a brincadeira, a piada e até a má intenção são incidentes sem importância que se perdem na noite dos tempos.

Desde que a primeira forma de vida surgiu na Terra, a verdade como reflexo manifesto é fator da soma, da multiplicação de interações idênticas.

E o homem inventou a Internet, uma espécie de conexão planetária entre os humanos, uma reafirmação definitiva, inatingível, incontrolável também, de pertencimento. Nem as estradas romanas, as circunvoluções marítimas dos portugueses, as regras mercantis dos árabes e chineses, os tratados territoriais, os organismos políticos, as leis internacionais, as telecomunicações e tampouco as religiões, os mitos e historias universais, nada foi capaz de conectar a humanidade, dando-lhe sentido. A Internet inventou a comunidade de humanos.

Quando bilhões de pessoas interagem na wikipedia, no google e nas redes sociais, dá-se a realidade, outrora relativa, intangível e interpretativa.

As verdades deixam de ser abstrações. São realidades, doravante e para sempre, documentadamente “evolutivas”.