Ah, mas isso é só marketing!

O cinema que, das artes, é a mais comercial de todas, tem muito que aprender com a gente. Quando muito, fazem lá uns testes de platéia com público “de verdade”. No máximo, fazem uns cortes ou então mandam o diretor colocar uma voz em off para explicar o roteiro. Primitivos, diríamos.

Nós, para míseros 30 segundos, fazemos qualitativas diversas, pré-testes quantitativos com desenhinhos ou filmes prontos, mudamos tudo, colocamos a história de perna pro ar, cortamos sem cerimônia, acrescentamos uma pitada de brand, outra de intenção de compra, e mais uma de lembrança de posicionamento e stopping power. Uma ciência infalível. Temos grana, então dá até para jogar tudo fora e começar de novo. Temos tempo porque planejamos o natal no carnaval, mesmo que o papai Noel venha magrinho ou perdulário.

E a gente dá sempre certo no final porque os resultados dos pós teste, a gente sabe usar a nosso favor: dá-se um copy-paste de prestidigitação na apresentação. Se não rolou o índice certo, a gente mostra o outro, ou inventa um tsunami imprevisível, ou os responsáveis somem do mapa e a culpa era deles.

Do lado do consumidor, sua apreciação daquilo que para nós é tão preciso se resume num entusiasta “ah, é só marketing!”.

A frase é carregada de sentidos. Pode significar aquilo que nós chamamos de “licença publicitária”, ou seja, é o exagero que qualquer mentira bem contada comporta justamente porque é mentira.

Tem também um outro, que é uma espécie de depreciação raivosa: “é marketing dos caras, não dá para acreditar!”.

Finalmente também pode ser seguido de um gesto de “deixa pra lá”.

Mas às vezes o cara se diverte de verdade, comenta, espalha. Essa é a boa propaganda que não é “só marketing”.

É aquela que está no youtube, sem cortes nem enxertos científicos. A propaganda que deixou todas as pesquisas mutiladoras no power-point.

2 thoughts on “Ah, mas isso é só marketing!

  1. Acredite em mim, amigo. Nós temos mais a aprender com o cinema do que você pode imaginar. Sobretudo se quisermos ser subliminares, subreptícios, desleais e manipuladores de sentimentos e comportamento do consumidor.

    Opa!! Peraí!! Pensando bem, você tem razão: eles é que precisam aprender sobre ética e integridade com o nosso trabalho.

    Grande abraço!

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