Todo criativo é uma ilha

Chega uma hora que você engole um ponto de interrogação: será que isso é bom? Será que vão entender? Será original? Será que é o caminho certo?

Daí você raciocina de novo. Elabora o espírito do porto e se veste de mulher do piolho: vão rir na hora certa? E se acharem pejorativo, simplista, coloquial, formal, bobo, imbecil, cretino, estúpido, uma bosta?

É nesse momento que você desiste e apela para o infalível: a iluminação, o talento, de divino direito.

Frissons olímpicos percorrem seu corpo, o olhar voga ao infinito, a cabeleira dança em câmera lenta, e, mãos em súplica romântica, você se olha no espelho, da privada, e diz: “é isso, eu sinto que é isso!”.

É hora de enfrentar o inimigo público número um: a sua convicção, essa devassa, vendida, volúvel e carreirista.

Os caras mal olham e cospem, sem pensar, algo que você nem ouve direito.

De volta à solidão amarga, você se distrai lendo uma bobagem qualquer: uma crônica de futebol, uma fofoca, uma bizarrice, um briefing.

Um briefing que você não entende por definição, acha ruim por princípio (se fosse bom, não precisariam de você), equivocado por natureza (se estivesse certo, você teria que admitir), mal escrito por lógica (afinal de contas onde já se viu?).

Essa é a sua vida. Criar, sobre improváveis caminhos, idéias mal compreendidas de que você tem que se orgulhar para não sufocar.

O mundo seria injusto demais se não houvessem incompetentes por todos os lados.

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