Fichas técnicas mal resolvidas

Um engenheiro tem satisfação quando a ponte que ele desenhou se debruça sobre o Rio. Um cirurgião, tem inefável prazer quando retira uma pereba de dentro de um paciente. Um escritor, quando seu livro se enche de poeira numa estante qualquer. O lojista, quando a dondoca sai da loja equilibrando-se sobre aqueles improváveis saltos que ele conseguiu vender.

A gente gosta de produzir. De ver nossos filinhos na rua, inclusive eles. É quando o tempo merece ser ganho, o resto a gente gasta.

Felicidade de paizão orgulhoso.

Um publicitário curte esse momento também, quando a idéia sai da cachola, ganha cara, jeito e fala, e se exibe, lindona, nas mídias. Entusiastas apresentações e até palmas e lágrimas de reunião são coitos interrompidos e quando muito, ejaculações precoces. Gozo a gente só tem depois, com sorte, se o filho escapar da gaveta e for parar na televisão, na revista, na rua, na internet.

O cara de marketing se excita mais ou menos com a mesma coisa. E isso, às vezes, dá um problemão de poli-patriarcado. O filinho, sai inseguro com a multi-autoria, a multi-autoridade, a multi-personalidade. Pode até sair um bicho sem pé nem cabeça, ou vinte pés e nenhuma cabeça, ou o contrário, depende.

Mais ou menos por isso, Deus criou o homem e a mulher, o pai e a mãe. A ficha técnica da natureza é mais bem resolvida.

Já imaginou uma mãe reivindicando seus espermatozoïdes e o pai passeando um útero imaginário?

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