Um pingüim pousou numa árvore do estacionamento. Segundo um observador, ele chega pela manhã, cansado, e passa o dia cochilando antes de retomar a lida, quando o sol se põe. Para um atento especialista de plantão, trata-se de um raríssimo bem-te-vi rei, expulso do bando por infringir os códigos de conduta do bando.
Tem gente correndo no parque a qualquer hora do dia. Jovens, nem tão jovens, pessoas rodopiando com um rumo concentricamente obsessivo. Dá até para surpreender pensamentos ofegantes: “mais uma, mais uma”, “hoje eu vou conseguir”, ou “acho que já deu, já deu”.
E há aqueles que desmaiam nos bancos. De costas, com os braços em súplica sobre o peito, pernas abraçando o concreto, pescoço teso. Sonhando talvez, curando o porre, curtindo um hiato de tempo, um resfolego inocente ou cheio de culpa.
Um desinfeliz bate a cabeça insistentemente, concreto adentro. A cada estocada, solta um grito sob a marquise ou talvez um gemido de dor ou de prazer. Deve ser a coceira que dá não ter dó vida ou quem sabe um telefone sem fio com a alienação. Ou nós é que somos alienígenas.
A colônia de urubu e a comunidade de patos do jardim japonês caga tanto que embranquece as folhas e desertifica a relva parca. Dialogam às vezes, graves as rapinas, em falsete os pés-chatos. Convivem e nem dão bola se uns são brancos e outros negões.
E quando um raio de sol safado abre uma picada pelas congéias floridas, dá aquela luz alaranjada que disfarça o cansaço. É fim do dia, já já. Vamos pra rua, pra casa, pra cama, pros braços do nosso amor.
Quando a vida lá fora não inspira, assunta. Que bom.
GENTE RELAXA, eu não faço isso todo dia! é só a segunda vez na minha vida que eu faço isso. #acalma