A conclusão da pesquisa é… ou não…

Ela apareceu, comunicativa e com um sorriso farto que disfarçava-lhe sutil buço oxigenado. Os convivas aboletaram-se à mesa encabeçada por uma reluzente apresentação de pesquisa.

Depois dos preâmbulos de praxe, as conclusões desfilaram, entrecortadas por pitorescas verbalizações.

“A X é muito boa. Sempre compro”  acompanhada de seu inevitável corolário “Não compro nunca. Acho muito ruim. Prefiro a Y”.

No primeiro capítulo das impressões gerais, o cenário é claro: as opiniões estão divididas, e os “por-um-lado-por-outro-lado” suspendem a respiração da platéia.

Aprofunda-se então ponto por ponto, detalhadamente consideram-se as opiniões divergentes, por vezes eloquentes “mas é uma grande porcaria”, por outras tímidas “não tenho opinião formada” ou literárias “deveras inconseqüente opção que me resta se não aquela que por ora se me apresenta levando em conta a baixa estatura de meus proventos mensais”.

Em resumo gráfico, animado e enfático, a mestre de cerimônia que moderou, analisou e conjecturou em longas horas insones o profícuo estudo, declara “para os compradores da X ela é ótima, não resta dúvida. Já para aqueles que preferem a Y, está claro que não gostam de X”. Mas a relativização é inequívoca: “existem diversos motivos para provocar tanto a simpatia dos fiéis consumidores quanto o mau humor dos rejeitadores” e num rompante de ousada solidariedade: “vocês hão de convir que faz sentido, não é mesmo?”.

Finalmente, o aprofundado esclarecimento chega ao fim e encerra-se com motivadora sentença: “Pode-se renovar, mas é importante evitar romper com a categoria sem a oportunidade de um estudo específico. Fim e Obrigado.”

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