A sala era um pot pourri de quintessências. Vapores caros, frufrus raros, viagens e referências rasas fustigavam o ambiente. A inauguração seria um happening digno das corridas de Ascott: a crème de la crème da cidade iria conhecer o provimento mais exclusivo, as novas coleções recém desembarcadas dos ateliers. Era preciso um passa-tempo para distrair as lindas, disfarçar com elegância o furor consumista.
– Podemos oferecer um aperçu do cirque du soleil?
– Déja vu, chérie!
– Quem sabe a lady gaga não viria em pessoa?
– Gaga o quê?
– Um chuva de pétalas, diligências e candelabros de 12 velas?
– Kitsh!
– Uma coisa mais roots, hip hip, beat box?
– Bas fond!
– Já sei: um intelectual?
– Intelectual?
– É. Um desses filósofos filosofa sobre a filosofia do consumo.
– Opa! Agora gostei. Filosofar é hype!
Planejar uma marca, construir catedrais conceituais sobre arcabouços teóricos é sucesso garantido. Nem mesmo a criação é capaz, hoje, de causar tanto frisson nas platéias empresariais. É a hora do relaxamento, da esperança, de lavar a consciência. É quando não nos achamos tão interesseiros, imediatistas, selvagens.
O planejamento levanta o sarrafo com seus arrepios sedutores e ofusca ou entorpece a entrega, aquilo que vai pra rua, depois de aterrissar com os pés no chão.
De tanto ouvirem que é preciso soltar as amarras, inspirar, ser criativo, sedutor, sexy e glamoroso, os planejadores desmunhecam no espaço sideral.
Eis onde reside a frustração de 10 em cada 10 anunciante lúcido: “vende-se a lua e entrega-se seu reflexo fugidio num mar revolto”.
Planejamento não existe para vender idéias a um anunciante. Não é a propaganda da propaganda. Não é esse me-engana-que-eu-gosto.
Planejamento existe para tornar factível uma idéia. Planejamento existe para ir para a rua, para a mídia, para a cabeça do consumidor. Planejamento que pira na promessa sem calibrar e prever o que vai ser possível entregar é poesia. Rasteira.
Tô aqui, de pé, aplaudindo o texto.
Olá,
Realmente isso acontece mto. O pior é que mto recentemente tive chefes que usavam o dpto com essa unica fidelidade. É triste, pq definitivamente o seu trabalho passa a não significar nada além de “somebody love”, xavequinho barato.
Parabéns pelo texto, mto bom!
Abs
Kct,! vc ta cada vez mais foda! ta na hora de contratar uns seguranças, hahaha
abs
Muito bom, como sempre! Parabéns.
Bjão.
Uau! Ler teu blog é como fazer uma boa terapia de carreira.
Parabéns mais uma vez. Abs
C’est la même merde qu’on apprend aux livres, qui tout le monde sait (au moins les planners) = le planning sert pas a défendre la création. Mais, comme il s’agit d’un français qui parle, tout le monde applaudit.
Degueulasse…
Desculpe, mas esse texto foi originalmente escrito pelo Jabor, não?
Socorro! Não!
é do Jabor sim…
Descobri, não é do Jabor, é do Borges..
Mata a cobra mas mostra o link do texto original senão não vale
E tem outra, nosso amigo Fernand é francês metade alagoano. dos bons. Tem Ramos no nome, lá de Palmeira dos Índios, por perto na verdade. aquele mesmo de Angústia, Memórias do Cárcere..