Um bom título vale mais que mil imagens

A gente sabe, repete, se locupetra ou lamenta que somos um povo pouco letrado, avesso à leitura, analfabeto ou preguiçoso. E como sempre, as máximas, os lugares comuns e a propaganda são uma praga: quando pegam, dogmatizam.

É conhecido também, batido e irritante que as pessoas do mundo estão sem tempo e sem saco, cada vez mais sem tempo e saco, numa progressão geométrica de encolhimento desesperante. E claro, os chavões, os power-points e os pseudo-teóricos da propaganda são como bicho do pé: não largam.

Então convencionou-se, sabe-se lá por qual encurtamento de raciocínio, sabe-se lá por qual constatação metida a científica, que as pessoas não lêem propaganda. A ditadura da direção de arte, conceitual, auto explicativa, cirurgicamente trabalhada, venceu o verbo.

A menos que sejam esses novos apóstolos da classe C  que mandam dizer que o pobre é ignorante.

Pois é verdade que de tanto ver textos mal escritos, estúpidos, banais, dispensáveis ou simplesmente acoplados para satisfações individuais, check-lists ou disaster-checks, quem sabe escrever perdeu o tesão de lapidar palavras e estilos.

Mas como entre oito e oitenta, tem setenta e dois matizes, a aversão ao texto e seu corolário que endeusa a imagem, não tem lógica nem comprovação, salvo preconceitos.

E quem provou que a imagem é mais simples de entender que a palavra? Se assim fosse, ainda escreveríamos em hieroglifos. Quem disse que falar por imagem é mais preciso? Se assim fosse, seríamos silvícolas que precisam de muitos gestos para dar sentido a seu parco vocabulário.

O homem inventou a escrita, representação simbólica de coisas tangíveis e “coisas” imateriais. Foi uma evolução registrar o mundo em palavras, muito mais avançado que nossos garranchos das cavernas.

Ninguém negaria o poder da imagem, ora pois, mas não vamos exagerar também.

Pessoal, já tem muita gente no Brasil que sabe ler, sabiam? Daqui a pouco atrofia!

10 thoughts on “Um bom título vale mais que mil imagens

  1. Como redator, só posso concordar. Como consumidor e leitor, também.
    Aliás, na minha experiência, tenho visto provas consistentes que as pessoas leêm, sim, quando o assunto lhes interessa. Uma campanha que fizemos, teve repercussão imensa, sendo o texto replicado, parafraseado e comentado em mais de duas centenas de blogs.
    Sim, as pessoas leêm. E a propósito, muito dessas pessoas são adolescentes classe C, com certeza.

  2. Isso vem da época da ditadura mesmo, não a da direção de arte, a militar mesmo, a do Jarbas Passarinho, que mandou colocar imagens nos livros infantis, que mandou brasileiro parar de ler. Criou-se uma cultura da não-leitura. Mas isso realmente mudou. Tudo isso que você escreveu é uma mística na cabeça do brasileiro. Gostamos de ler e lemos muito. Se a classe C, D… Z, não importa, lê revista de fofoca, livros de auto-ajuda barata, aqueles “Sabrina” da vida, não importa. Estamos falando em leitura.

    Só que há um outro lado. A da falta de interpretação, Alphen. Seu último texto do Webinsider sofreu pela falta de interpretação de meia dúzia, que acharam que você estava querendo aparecer ou coisa do tipo. Eu tenho certeza que muitos nem passaram do título. Já escreveram comentários só por ler o “rede social já era”. E olha que você nem colocou a foto de um caixão, rs.

    Abraço.

  3. oi, alphen. ótimo texto. ironicamente, a web fez as pessoas lerem mais, embora não percebam. e os mesmos críticos de textos em anúncios são os que passam minutos e minutos lendo blogs, twits, jornais e afins. felizmente, o povo lê. mas concordo com o leo quanto à falta de interpretação. as pessoas estão consumindo mais letras, mas digerindo menos. mais um motivo para continuarmos valorizando a boa redação. ela, que constrói narrativas envolventes, provoca leitores de raciocínio preguiçoso e irrita os militantes visuais. e algo que provoca e irrita qualquer militância sempre vale a pena.

    sobre o erro que o edilson comentou. imagino que ele esteja se referindo ao terceiro parágrafo, no trecho “…alto explicativa, cirurgicamente trabalhada,…”. o correto é “autoexplicativa”, segundo a nova regra que veio só complicar nossa vida.

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