Você vai sentir falta do papel jornal?

Há mais de uma geração, quase da noite para o dia – porque é assim que as grandes cagadas cagam-se – os jornais liberaram seu conteúdo de graça na Internet. E quando a merda é grande, a gente manda pra análise.

Nem precisamos falar dos coitados que nem liberar, liberaram: morreram constipados.

A maioria dos outros abriu o acesso em vários graus. Alguns acreditam que foi por entusiasmo, outros por desespero, mas talvez tenha sido só fruto da fleumática e pernóstica superioridade dos jornalistas: “isso aí não é nada não, são só as alucinações de um bando de fanáticos que passa a vida atrás de um computador”.

Num propagandeado ato de generosidade contemporânea, os jornais investiram a fundo perdido. E quando fizeram conta, sacaram que só a propaganda não pagaria. Porque a propaganda não salva, é uma Messalina aproveitadora.

E está essa zona aí: os vovôs aposentados, que pegam o jornal de pijama todos os dias, pagam a fatura dos milhões de vagabundos, Internet afora.

Como é que a gente faz agora? Porque vovô quer o jornal de cabo a rabo, do obituário às tiras, dos editoriais às fofocas, por tudo isso ele paga.

Já os vagabundos da Internet só sabem borboletear, pulam “daqui, dali, pelo vento em atropelo, seguido, vão de porta em porta, como a folha morta.”

Não, os vagabundos que já aprenderam a catar as coisas na faixa, não, eles não vão querer pagar por 99% de conteúdos que eles não querem.

E assim os jornais estão morrendo com seus últimos clientes. Talvez também porque lhes falte coragem para franquear o jornal pros assinantes de papel e cobrar o conteúdo fragmentadamente na Internet.

4 thoughts on “Você vai sentir falta do papel jornal?

  1. Esses dias eu entrei em uma viagem sobre isso. Fiquei imaginando essa situação em outros segmentos, imagina a TV Globo, nos primórdios, entrando no segmento de aparelhos de TV ao invés de focar em entretenimento. Vejo os jornais assim hoje, esquecendo que eles entregam notícias e focando na venda de papel.
    Os jornais ainda se esforçaram indo para internet, porém não conseguiram cobrar pelo conteúdo. Eu tenho pena mesmo da indústria fonográfica, que ainda acredita que a única maneira de entregar música, e cobrar por ela, é vendendo uma bolacha de plástico, chamada CD.
    Acho que cada dia mais as empresas esquecem o seu principal motivo de existir( muitos doutores em mkt diriam: esquecem o seu benefício nuclear).

  2. Exercícios de Mídia – cm/col do jornal. Pra eu que pensava que nunca veria números nesse curso.

  3. Ótimas considerações.
    Os grandes ainda não descobriram como usar a internet a seu favor. Claro que é um problema temporário: em 20 anos tudo vai ter se estabilizado.

    Mas hoje, vivemos a transição da forma de se consumir notícias, e é bacana fazer parte da mudança. A gente tem muito o que aprender.

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