Saint Exupéry, em Terra dos Homens, dizia que só existe um luxo verdadeiro, o das relações humanas. Ele devia ter meia dúzia.
Júlio tem 132 amigos. Luxo total. Devidamente ativos no msn, eles estão sempre a um toque de um Olá, Hey, Slt, porque, claro, eles estão espalhados nos quatro cantos. A maioria deles viu a luz nas redes sociais que Júlio freqüenta, tab sobre tab e no celular. Somando o povo todo, os amigos do msn e os amigos das redes, somam 645. Se Júlio fica acordado 14 horas por dia, e considerando q ele se comunica com o povo a cada dois dias por 3 minutos, somando os 1000 torpedos do seu pacote de celular que ele esgota todos os meses, Júlio está, o tempo todo, sem parar, se relacionando. Desconfio que Júlio faz xixi nas calças, por absoluta falta de tempo.
Urge o tempo de redefinirmos a palavra que está mais na moda no mundo: relacionamento. Amigo é coisa para se guardar em intangíveis bits.
Mas amigos, mesmo esses para os quais não dedicamos mais de 3 minutos a cada dois dias, fazem perguntas, esperam respostas, reações. Então, o jeito é ir ao sabor dos impulsos, transparentes por definição, sem pesar as palavras. A gente vai chutando as coisas, interpretando nossos relacionamentos na superfície das sensações e sem muito medo, inclusive, de mandar mensagens para as pessoas erradas ou tornar público o que poderia ser considerado intimo.
Nesse mundo fragmentado, que consumimos com crises infinitas de soluços, somos homens cebolas também nas relações. É a única proteção, inconsciente, que nos salva. A solidão é uma impossibilidade, a reflexão e a contemplação também.
Para cenaristas mais pessimistas, é o fim da individualidade. Para os mais positivos, é a re-união da espécie.
Júlio não acha nada ruim tudo isso. Não é massacrante ter que lidar com tanta gente. Anormal é perder tempo sem fazer nada. E quando a Internet cai, ele vai dormir: vai fazer o quê?
Vem aí uma rede social que vai mudar a forma de relacionamento entre profissionais da indústria automobilística. Aguarde!