Brasileiro: DNA Creative Commons

Não se pode levar muito a sério as generalizações que rotulam países, culturas e povos. Mas é um papo que enche a boca de muitas conversas. “O francês é mal-humorado; o português, literal; o italiano, conquistador; o americano, adolescente; o argentino, cabeludo; o mexicano, bigodudo; o indiano, fedido; o australiano, caipira; o japonês, tarado; o chinês, dissimulado; o russo, extravagante”, e por aí vai. É aquela conversinha mole que arrota “Sou viajado, tá?”.

O brasileiro seria, nessas qualificações precoces, alegre, se o viajante veio no carnaval; simpático, se ele se perdeu na Avenida Paulista; feliz, se ele se esticou nas areias; luxuriante, se ele comeu feijoada; gritalhão, se ele assistiu ao big brother local; caipira, se ele foi ao shopping; arrivista, se ele se derreteu na Oscar Freire. Sorridente ou desdentado, natural ou botocudo, sexy ou britânico, esperto ou disciplinado, o brasileiro pode ser tudo isso. O francês, também. O queniano, idem.

Mas se não deveríamos cometer tais derrapadas no atual milênio de extinção saudosa dos regionalismos, o brasileiro é o mais improvável dos povos e possui a mais impossível das identidades. A tolerância imposta pela miscigenação incontrolável nos deu essa zona poderosa.

Não tem nada mais falso e bobo do que um brasileiro que se esforça em ser americano, inglês ou argentino. Fazer como os americanos, os ingleses ou os argentinos. Pensar como os americanos, ingleses ou argentinos. Não tem nada mais provinciano.

Se o Brasil exporta sandália de dedo, avião a jato, dentistas e boleiros, ele tem para exportar a malemolência com o formalismo, a falta de vergonha, o aconchego cultural. Nosso DNA mestiço no sangue e mestiço no gosto. Nossa natureza copyleft. Nossa cultura mashup.

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