Arte vaga no museu, na rua e no banheiro

Tem a arte pela arte, a arte da rua e a arte no banheiro do Geraldão. A palavra é um poço de indefinições, como amor e morte. É por isso que é menos desesperador encarar as negativas. Amor é o contrário de ódio, e esse sabemos muito bem reconhecer. Da morte nem sabemos de que inverso é.

Arte é o contrário do que fazemos se não somos artistas. Tricô, crochê, macramê, decapê, bricolagem, origami, jardinagem ou propaganda é arte?

Andy Warhol, o cara que bagunçou tudo, arte e propaganda inclusive, dizia que arte é aquilo que não tem utilidade mas que queremos ter. Um xale de crochê para um marmanjo é arte, portanto. Um bonsai na cozinha é arte. Propaganda da Apple é arte. Um Picasso na sala de casa não é arte. Nem uma ponte de Calatrava. Nem o domo da Capela Sistina. A Primavera de Vivaldi é arte na sala de concerto e não arte na propaganda de sabonete.

Estamos no século da aposentadoria do rigor, do formalismo, dos rótulos e das definições. É o fim da picada, e a palavra arte tornou-se obsoleta porque vaga, genérica e surrada.

Mas se ainda acreditarmos que arte é a expressão de um pulso, de uma visão sublimada do mundo, então ela ainda tem sentido sempre que ainda formos capazes de sentir, sem filtro, sem medo, sem preconceito.

E talvez o mestre (mestre?) pop estivesse errado na sua definição. Arte talvez seja a única expressão autêntica que podemos exalar. Nosso tricô-reflexo e nossa propaganda-alma é arte. Nosso tricô-agasalho e nossa propaganda-tecnicista, não.

2 thoughts on “Arte vaga no museu, na rua e no banheiro

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