O jovem divorciou-se do jornalismo?

Outro dia, num evento lotado de gente bacana, jovens na maioria:

– Tem muita reportagem de televisão aqui, né?
– Pode crer. É para meus pais essa parada.

Era assim que os dois analisavam a cobertura jornalística do acontecimento, referindo-se em particular à equipe do CQC presente para seus rompantes.

Não existia possibilidade de ir para a escola e depois para a faculdade sem ter lido o jornal, de preferência a Folha, e obrigatoriamente a Ilustrada, que muitas vezes carregávamos dentro do caderno. Ler jornal era uma questão de sobrevivência social. E também era importante ver o Jornal Nacional e ler a pré-degringolada da Veja.

Responsabilizar a Internet pelo desinteresse da molecada pelo jornalismo tradicional, broadcast, encurta demais o raciocínio. Sim, a função hard-news desempenhada pelos veículos tradicionais perdeu algum sentido. Sim, a fome por liberdade e voz é incomensurável.

Mas, sem dúvida nenhuma, a responsabilidade é no mínimo compartilhada. Muito pouco ou quase nada se fez nos jornais, nas revistas e na TV – o rádio é um caso à parte – para entender o novo contexto do consumidor de notícias, particularmente o jovem.

As incorporações “participativas” do jornalismo cidadão nos veículos tradicionais são um truque muito meia-boca para dar conta do recado de reconquistar, seduzir e fidelizar o jovem. Sempre soa como um arremedo que não parece funcionar em plataformas nascidas para serem broadcast.

Por outro lado, os esforços de reforma editorial tampouco parecem ser fundamentados ou inspirados para atrair nossos leitores/espectadores do futuro. Parecem maquiagem porque pouco se ousa em nome daqueles que ainda não aposentaram seus hábitos. Quem assumiria o risco de enfrentar o vovô, enfurecido cada vez que seu jornal muda uma coluna de posição?

Por isso, talvez seja mais inteligente e rápido criar produtos paralelos, mais ousados, para aprender e experimentar o diálogo com essa galera que acha que jornalismo é coisa de paizão querendo saber o que está acontecendo com o mundo, com a rua, com o jovem.

4 thoughts on “O jovem divorciou-se do jornalismo?

  1. Acho que o jornalismo se divorciou dos jovens. A notícia e a opinião jornalística continuam interessantes e relevantes. A questão, como bem apresentado, deve estar no formato. Penso que finalmente podemos dizer que a notícia está em todos os lugares. A concretização do sonho jornalístico anti-ditadura. Entretanto, as plataformas se mexeram e algumas viraram obstáculos. Observamos uma nova guerra de quanto vale o conteúdo, ja que não se pode mais viver de papel e televisão. Penso que o jornalismo vive o pesadelo de exercitar o lado marketeiro que tanto abominou no passado. E enquanto ele quebra este paradigma, jovens seguem fazendo ambos: Encontram suas notícias e as divulgam entre amigos.

  2. Eu acho os jornais coisas engraçadas. Tudo que eles fazem parece sair pela culatra. O jornal aposta na interatividade, dai o povo vê que mais um canal para reclamação ao invés de algo interativo. O jornal aposta na tal da reforma gráfica, mas as pessoas continuam comprando jornais de banca porque eles mostram notícias que fazem a vida parece um pouco menos ordinária. Ah! No final das contas a culpa ainda é do consumidor que não gosta de ler.

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