A propaganda é caroço duro de roer

A propaganda, talvez por missão sintética, por restrições de espaço, por objetivos massivos ou por ser simplória, concentra sua mensagem naquilo que chama de essência.

Assim, todo o trabalho de planejamento, de briefing e também de criação busca inspirar, enunciar e comunicar a essência de uma marca, de um produto, de um serviço ou de alguma ação. E convencionou-se situar a essência no centro, portanto, exercendo uma superioridade e prioridade sobre tudo aquilo que seria ou será, a partir dessa descoberta, periférico.

Graças ao nosso natural talento para a metáfora, os mais místicos chamarão essa essência de alma; os mais românticos, de coração, mas caroço é mais evocativo.

Uma alma é a etérea representação de nosso complexo de mortais, é nosso álibi de eternidade, uma alma é algo que não se expressa nem se manifesta. Um coração é só uma bomba com motor, um órgão subserviente a impulsos nervosos. Coração e alma foi o que alguns  malucos muito ignorantes colocaram no centro do DNA!

Já um caroço, assim como contém a semente que germina para a renovação, é também o que sobra quando já nos regalamos.

Por trás da busca pelo caroço, desprezamos e até rejeitamos a suculência, o prazer da superfície, a luxúria do detalhe, a sensualidade do supérfluo.

E, no mais das vezes, a essência que assombra nossa busca reduz o  discurso e a história, a provocações racionais básicas ou estímulos emocionais vagos. A  propaganda vira um megafone de argumentos (preço, features…) ou um clipe de sensações imprecisas (juventude, felicidade…).

Por que não acreditar, por vezes, que a busca da essência pode ser substituída pela descoberta da superfície?

Será que só amamos a essência ou os detalhes encantadores?

A pequena e deliciosa periferia da superficialidade tem charmes irresistíveis, capazes de mascarar os mais incorrigíveis defeitos. Essa é a mágica da sedução.

A propaganda, enquanto permanecer encarcerada na ditadura da essência, será quase sempre vulgar, desinteressante e chata pra caralho.

6 thoughts on “A propaganda é caroço duro de roer

  1. bom.. cada um na sua. Como toda propaganda possui certa ambiguidade, ela possibilita o livre arbitrio de visão de cada um em relação a ela. Desse mané quem escreveu aí, é essa.

  2. A propaganda praticada é a mesma ensinada “ortodoxamente” na universidade. Priva-se pela busca do óbvio e deixa-se de lado o detalhe – característica muito mais útil quando o que se pretende é chamar a atenção do telespectador/leitor/ouvinte.

    Agora, a culpa é da academia ou “o povo tem a propaganda que merece”?

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