Helder Araújo, por exemplo

Ele tem um olhinho matreiro, cria das Gerais, e um dandismo latino, cria da bota etrusca. Mas, desconfiado, num crescendo operístico, a verve ilumina-se, sobe o tom, à medida que as ideias se desdobram, redobram e transbordam. O mineirinho de cachecol sobe no pedestal de um Antônio Conselheiro, evangelista.

Para Helder Araújo, modernidade é um ponto de uma curva em espiral ascendente. Nada é novo se não for herança, do que foi e do que será.

O vasinho da Mesopotâmia de argila cozida, que virou pote de bronze, que virou urna de vidro, que virou pipeta refratária que virará, um dia, sabe-se lá o quê. Novo é melhorar o velho e preparar o mais novo ainda. E sempre será assim: o tempo de se fazer o novo é agora, pois num piscar já fomos.

–   A gente morre; as coisas, não.

Então, Helder estudou design na Universidade Federal de Minas Gerais e na fábrica da Benetton, na Itália. Foi trabalhar com design e pesquisa de comportamento, tentando entender a criação e a inovação produzidas pela principiante espécie humana. Se queremos deixar um legado que dure mais que nós mesmos, temos que entender onde colocamos nossa força, nossa energia. Temos que questionar qual a ideia, que coisa ou que indústria estamos alimentando com o nosso suor, com o nosso pensar. Temos a chance de escolher algo para melhorar e deixar algum exemplo para quem vier? Basta se perguntar qual evolução queremos alimentar.

– Mas ainda não tinha descoberto o elo perdido.

Porque afinal, se as coisas perpetuam-se para além da nossa fugaz existência, que diabos estamos fazendo aqui? Qual o nosso papel? Se Deus existe, ele brinca de fazer a gente duvidar de seu determinismo. E nós brincamos de ensinar a Deus que a água pode ser domesticada no vasinho da Mesopotâmia, apesar da rebeldia das moléculas. E também, porque a gente desconfia que a água pode ser separada em átomos, e os átomos também, e além, a gente vai mais longe e acelera as partículas até tentar entender o Big Bang. Na volta descobrimos que tudo está codificado. A vida é informação traduzida em genoma e pode ser manipulada e artificialmente criada. Perspectivas que dão  ilusão de poder ou escancaram nossa ignorância.

– Então, talvez o que fica como nosso legado seja só somar os elos.

Conhecimento. Essa coisa se chama conhecimento. O que nos faz somar e transformar, o que nos faz melhorar as coisas que são eternas é a nossa atávica capacidade de aprender e ensinar. A modernidade é portanto só fator, e não objeto. É uma espécie de fermento. Criar é só inspirar-se no velho e inspirar o novo. Se os gregos inventaram a pólis, que se dividiu em demos, promoveu democracia  direta que virou representativa que está virando participativa. Se a Bíblia é O livro, foi necessário multiplicá-lo – a contragosto – para profaná-lo. Assim veio o Decameron, e Rabelais, e Cervantes e À procura do tempo perdido, e depois Paulo Coelho e os blogs, e as conexões entre humanos que se socializam ao sabor da grande rede. A troca de conhecimento é o que une a diversidade.

WEBCITIZEN


www.webcitizen.com.br

Há um ano, a Webcitizen surgiu com a proposta de desenvolver espaços que estimulem o engajamento cívico. Temas áridos apresentados com a mesma leveza do um game ou passatempo. Transparência muito além dos dados abertos.

No Vote na Web, um dos aplicativos desenvolvidos, não encontramos textos burocráticos ou com linguagem rebuscada que afastam o cidadão da política. Aqueles textos enormes, escritos em “congressês”, transformam-se em três objetivas linhas. Dois “cliques” e é possível saber quais são os Projetos de Lei em tramitação e quem são os políticos responsáveis por eles.  Ainda é possível votar simbolicamente contra ou a favor e visualizar em um mapa colorido o que pensam a respeito os cidadãos de cada Estado.

São mais de 5 mil usuários, sendo mais da metade com idade entre 16 e 30 anos, reunidos para discutir política. A iniciativa já chamou a atenção do mundo. Recentemente, a Webcitizen foi a primeira iniciativa apresentada em língua não inglesa para o GOV 2.0 Expo, principal evento sobre o tema, realizado em Washington. O exemplo será replicado em outros países, como Colômbia, EUA, Itália e Israel.

A tecnologia foi doada para que cada local adapte a ferramenta ao seu sistema político. A Organização das Nações Unidas, ONU, também se interessou e deve integrar a plataforma em um dos pacotes de aplicativos que oferece a países com governos democráticos.

A Webcitizen é uma plataforma participativa, que sonha reinventar a democracia através da colaboração livre dos cidadãos.

– Mas é recitando que se aprende?

Propagar conhecimento é também encurtar caminhos. É não precisar quebrar o vaso da Mesopotâmia para criar a pipeta refratável e o acelerador de partículas. Carlos Magno inventou a escola, e desde então a gente senta a bunda na cadeira para decorar que ele inventou a escola. Mas o mundo ficou mais rápido; as noites, mais curtas e os dias, uns suspiros. A gente aprendeu a aprender sozinhos, porque num clique desfila toda a enciclopédia humana em sínteses úteis.

BUSK


www.busk.com.br

Rede social, buscador e agregador de notícias. Um lugar para encontrar, colecionar e compartilhar conhecimento. Uma plataforma de educação informal, que começa com a busca de notícias.

Lá você encontra um conteúdo que passa pela curadoria da equipe do Busk. Todos os sites que participam do clube de publicadores do Busk foram convidados, um a um, a fazer parte do projeto. Sem hierarquia ou julgamentos sobre o que deve ser conhecimento e informação: moda é tão importante quanto política. Toda notícia lida pode ser colecionada em seu perfil e compartilhada por twitter, facebook, orkut ou e-mail. Ao receber a notícia, seu amigo vê como chegou até ela, e se ele clica na fonte encontra – em ordem cronológica – as últimas publicações daquele site. Ou, se clica no autor, vê tudo o que ele escreve, pensa e dissemina. Ele também pode vizualizar o seu perfil e perceber, por exemplo, através de seu mapa de consumo de informação, que você se interessa por esportes tanto quanto ele. Nesse momento, o Busk atua como rede social unindo pessoas através do conhecimento. Seguindo um perfil, você tem acesso a todo o conteúdo salvo naquela coleção e tem a oportunidade de aprender com seu amigo e dialogar sobre as notícias, no espaço, para comentários. O Busk também vai ranquear com quais dos seus amigos você tem mais afinidade.

É o conhecimento compartilhado transformando cada pessoa e suas relações sociais.

– Mas e o charme, não percamos o charme jamais.

Helder aprendeu a gostar de Gustav Klimt com Dona Dulceneia, sua professora de educação artística, mas foi conversando e viajando que ele se deu conta de que a loucura de alguns é só um tipo de imaginação mal compreendida ou não realizada. A imaginação estéril não passa de alucinação.

Omar Vulpinari, um de seus mentores na Itália, certa vez lhe disse: uma ideia só tem valor quando materializada. O charme de uma ideia está na capacidade de seduzir para transformá-la em realidade.

TEDx


www.tedxsaopaulo.com.br

Em novembro de 2009, aconteceu o primeiro evento TED no Brasil: o TEDx São Paulo, que reuniu 1.000 pensadores de diversas áreas de conhecimento e atuação para debater “O que o Brasil tem a oferecer ao mundo agora?”. Foram 14 horas de evento, com 34 palestras e quatro intervalos, para a interação entre o público e os palestrantes.

O TEDx São Paulo foi realizado por uma equipe de onze voluntários, durante um ano, desde que Helder Araújo, por ser membro da comunidade internacional,  conseguiu a licença para a realização da edição brasileira.

Na Califórnia, onde acontece desde 1984, com a proposta de apresentar “ideias que merecem ser espalhadas”, Gordon Brown, Bono Vox, Bill Gates e Al Gore já se apresentaram durante 15 a 20 minutos, o mesmo tempo que é reservado a outros palestrantes menos populares. Foi através do TED que o educador Ken Robinson ou a neurocientista Jill Bolte Taylor, por exemplo, disseminaram o que pensam sobre educação e como é passar por um derrame cerebral.

Em comum, todos os palestrantes têm um olhar renovado e impactante sobre os temas que abordam. São exemplos inspiradores.

Para ampliar e democratizar o acesso ao conhecimento, hoje, todas as palestras de eventos TED são publicadas na internet com um programa de tradução colaborativa. Algumas chegam a ser traduzidas para 12 idiomas.

A licença “X” permite a realização de eventos independentes pelo mundo, os TEDx, com a mesma filosofia. O TEDxSP foi considerado o encontro mais importante da América Latina e um dos melhores do ano de 2009, ao lado de dos TEDxTokio e TEDxParis.

Em novembro de 2010, os mesmos organizadores da edição paulista (que será bianual) realizarão o TEDxAmazônia, debatendo a “Qualidade de vida para todas as espécies” – dos corais marinhos aos seres humanos. O encontro acontecerá em Manaus, em um hotel no meio da floresta, durante dois dias. Em seguida, haverá uma expedição pelo Rio Negro, durante a qual os membros da comunidade poderão vivenciar uma experiência íntima com a realidade local.

Outra ação será o fomento de encontros dentro de universidades brasileiras, com palestras de estudantes de gradução, mestrado e doutorado. Em 2011 haverá um grande encontro, reunindo as melhores ideias apresentadas dentro das instituições de ensino, e por votação uma ideia será selecionada para receber um incentivo financeiro para sua materialização.

– Aprender com o charme do exemplo.

Que outro lugar do mundo poderia ser tão generoso, além do Brasil? O mundo tem seu ócio criativo, nós temos nossa desordem criativa. O Brasil que se banha na mistura desde sempre. O Brasil que entra na internet com fome ancestral.

O Brasil que tanto atraso precisa chacoalhar para recuperar séculos de analfabetismo. O Brasil que, sem banhos de sangue mas muito suor na camisa, pula de uma obscura ditadura para a aprovação de iniciativas populares pelo Congresso em votações inéditas.

–  Meu exemplo? O Brasil para o mundo.

Sem essa de subir em pedestais. Quando uma nação precisa se declarar grande, por que outra é imeditamente declarada pequena? A cidadania global valoriza as trocas, sempre mais estimulantes do que as disputas. Essa é a nossa história, nosso exemplo, nosso charme matreiro.

2 thoughts on “Helder Araújo, por exemplo

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