Griffe jornalística ainda dá prestígio?

Quando no final do ano passado o Conselho Nacional de Publishers e a Associação Mundial de Jornais assinaram a chamada Declaração de Hamburgo, o compromisso assumido pelos signatários deu conta do maior risco que a indústria encara: a falta de proteção intelectual dos conteúdos criados pelos veículos na Internet. O maior questionamento diz respeito evidentemente à livre multiplicação desses conteúdos, sem encargos nem responsabilidades pelos eufemisticamente chamados “agregadores de conteúdo”, que nada produzem nem nada pagam pelo que reproduzem.

O manifesto parece legítimo, mas soa como o canto do cisne. Esse tipo de acordo não somente é quimérico e inoperante mas ainda escancara a espantosa dificuldade que os veículos ditos “tradicionais” têm para entender qual é a nova e bem-aventurada lógica do mundo contemporâneo.

O que os “tradicionais” devem entender, assumir, na pior das hipóteses debater, é que a produção de conteúdo nesse novo mundo deve ser descentralizada. O que esses veículos devem fazer é privilegiar a agregação de conteúdos em detrimento da estrutura clássica de equipes próprias, contratadas. Agregação essa que deve ser, é lógico, remunerada. Caberia aos tradicionais renovados a essencial função de editoria e distribuição, e não mais a criação e produção.

Mais do que isso, esses mesmos veículos, que já ofereceram seus conteúdos gratuitamente, procuram atualmente remar no contrafluxo, agregando de volta os  conteúdos produzidos livremente e, no mais das vezes, sem oferecer nenhum tipo de remuneração. É o contrassenso do desespero. A lógica, se lógica há, deve funcionar nos dois sentidos. “Se tu não me chupas, eu não te chupo” ou “se eu cobro, você me cobra”.

A moeda de que se valem esses tradicionais, para não remunerar os conteúdos que eles querem agregar, é ainda mais risível: conteúdo em troca do prestígio da griffe jornalística (sic).

Prestígio é mais fator de relevância em ferramentas de busca e quantidade de conexões em redes sociais do que griffe jornalística, que não enche barriga.

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