Criar não é ter idéias

Dizem que Leonardo da Vinci passou 30 anos pintando a Mona Lisa. Ele jamais vendeu nem se desfez da obra que ficou como uma espécie de herança espúria para o rei da França, que abrigara o artista em seus velhos dias. É possível imaginar o barbudão de pijama, pela manhã, admirando a tela inacabada, tomar do pincel e retocar  mais uma vez o sorriso perpétuo. Tá legal, da Vinci foi demais. Aleijadinho se esculhambou inteiro esculpindo seus profetas. Muito também?

Minha amiga é pecuarista. É uma grande artista também. Mas quem disse que ela fica atrás do computador, do telefone, tomando seu chá indiano, fumando sua piteira de marfim, acariciando seus galgos suecos. Ela calça suas botas (de cromo alemão), toma seu cajado (de jacarandá da Bahia), escolhe um dos muitos chapéus corsos e vai para o pasto, pra cocheira, pisa na bosta, toca a boiada.

Criar não é conceber e terceirizar, é conceber e fazer. Porque a criação é um organismo carente que evolui, que se transforma.

Criar não é ter idéias, é fazer as idéias acontecerem. E para isso é preciso conhecer, estudar, inventar. Técnicas, artesanatos, improvisos.

Se Beethoven não fosse pianista, ele não teria composto a nona. Se Rodin não fosse fundidor, ele não teria feito o pensador. Se tantos incríveis diretores de arte não fossem fotógrafos, ilustradores, estilistas, editores, designers, eles só teriam sido medíocres photoshopeiros ou razoáveis art-buyers.

5 thoughts on “Criar não é ter idéias

  1. Criar é o processo. É o durante.
    Nunca, ter criado algo, ter terminado uma ilustração ou ter tocado uma música me deixou tão satisfeito, me deu tanto prazer, quanto o criar,o ilustrar, o tocar. Criar não é fazer. É estar fazendo.
    As idéias tornam isso possível.
    Que bom quando as duas coisas estão na mesma pessoa.

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