Informar-se é tão inútil quanto relacionar-se

Nem percebemos, mas por que consumimos tanta informação? Será mesmo que instrumentalizamos tanta coisa, que tem alguma função prática nas nossas vidas saber do último crime passional, do mais recente sobressalto econômico, da insurgência libertária de um país distante, da catástrofe natural que assola os paquistaneses? E, ainda que nos entretenha, divirta ou acrescente alguma pimenta à vida feijão com arroz que levamos, ainda que tenham-nos incutido que informar-se genericamente é bom para nossa carreira, definitivamente, saber do último hit noticioso é tão útil quanto as últimas diabruras da Narizinho.

Mas o que faríamos na segunda-feira de manhã? No jantar da terça, no break da academia, nos almoços, cafés, preâmbulos de reunião e outras horas tão inúteis do nosso dia a dia? O que faríamos senão comentar tanta inutilidade?

Nem percebemos, mas por que somos tão socialmente ativos? Será mesmo que precisamos de tantos amigos, camaradas, relações, contatos? Para que serve conservar laços com aquele amigo que bifurcou para longe na infância, do amigo do camarada da relação do contato de quem nem lembramos o nome? Ainda que ter um address book transbordante seja uma marca de relevância pessoal, ainda que tenham-nos incutido que bem relacionar-se genericamente é bom para nossa carreira, definitivamente, ser o campeão das conexões é tão útil quanto as amizades da pelada no recreio da escola.

Mas o que faríamos no Orkut, no Facebook, no Twitter? O que faríamos de tanta coisa que armazenamos sem utilidade, o que faríamos de tanta gente de relevância duvidosa? O que faríamos senão pescar assunto para alimentar nossas redes? Pescar assunto na “Mídia” para alimentar a “nossa mídia”.

Alguém ainda tem dúvida de que as redes sociais online são muito mais relevantes na vida das pessoas do que as mídias tradicionais?

Alguém ainda tem dúvida de que as pessoas se informam mais e com mais prazer no Orkut do amigo do que no jornal quatrocentão?

Se houvesse um único real para investir em novas plataformas de distribuição de informação, esse real deveria ir para as redes sociais.

12 thoughts on “Informar-se é tão inútil quanto relacionar-se

  1. Respondendo as primeira perguntas…

    “A ideia de que diariamente, a cada hora, a cada minuto e em cada lugar se realizam milhares de ações que me teriam profundamente interessado, de que eu certamente deveria tomar conhecimento e que entretanto jamais me serão comunicadas, basta para tirar o sabor a todas as perspectivas de ação que encontro à minha frente.

    O pouco que eu pudesse obter não compensaria jamais esse infinito perdido.”

    C. Drummond de Andrade, Confissões de Minas

  2. Mas se investir o real na rede social e matar a mídia tradicional, você seca a fonte, seguindo o seu raciocínio de que a gente consome informação pra usar ali. Se você observar o Twitter, por exemplo, vai ver que a grande maioria dos assuntos nasceu na mídia de massa. É o Rubinho, o Goleiro Bruno, o jogo de futebol, o bocejo do apresentador do Fantástico, as eleições, a matéria engraçada que ninguém viu, mas que saiu num grande portal. O que muitas vezes acontece é que o cara se informa no Twitter do amigo que leu, inclusive, o jornal quatrocentão. Gostei mais do mau-humor anárquico do início do texto do que da conclusão.

    1. Sim, claro. Mas e se a mídia quatrocentona estivesse distribuindo conteúdos diretamente nas redes sociais ao invés de manter caras e ultrapassadas plataformas (papel, site, etc)?

      1. Possivelmente a grande maioria dos que não entendem o que estamos falando E que representam a grande maioria de nosso pais, estaria comprando ou lutando por um exemplar ao invés do jornal quatrocentao, o de apenas 6 meses ou de poucos anos como os que são distribuídos nas esquinas de SP.

        Acredito que faz parte do conceito que temos sobre quem detém a informação. Assim como a fofoqueira na janela da cidade do interior o que todos querem, inclusive nas redes sociais, é saber primeiro da informação mais bacana e contar para o maior número de pessoas sendo assim respeitado por deter e disseminar este conhecimento.
        Gostei do texto, porque leva a varias discussões muito bacanas.

  3. Sou meio que – quase – seu fã. Mas com essa não concordo. Será que o raciocínio tem de ser sempre mídias tradicionais X redes sociais? Será que as duas coisas são, ou serão, necessariamente excludentes? Tenho poucas dúvidas sobre a diminuição do uso do papel, mas cá para mim acredito que, depois de um razoável período de histeria coletiva (agora é Orkut, agora é Twitter, agora é Facebook, olha, você está perdendo o bonde da história!) os dois esquemas de comunicação funcionarão de forma complementar. Pelo menos no horizonte da nossa existência, ou seja, até que todo mundo que aprendeu a consumir informação em TV e papel tenha partido dessa para melhor. Ou desprezaremos quarentões, cinquentões e sessentões fora do nosso meio, com poder de compra e decisão, mas ainda avessos a essa ciranda tecnológica, simplesmente para ficar “up to date” com a moçada e os pregadores do apocalipse de tudo que conhecemos? O cinema era para estar extinto há uns 30 anos, você não sabia? Alta atividade nas redes sociais requer hormônios em alta e uma boa dose de falta do que fazer. Pegue um “redessocialholic” de hoje e some a ele um aluguel a vencer, uma esposa meio chata e três filhos exigentes. Você vai ver: ele encareta.

    1. Oi Gustavo,

      Acho q talvez eu não tenha sido claro o suficiente no post. Sim, vc tem toda razão, não existe substituição. Mas eu me referia especificamente às plataformas de distribuição de conteúdo. Os veículos tradicionais, ao invés de investirem tanto esforço para salvar as atuais, deveriam pensar em como distribuir seus conteúdos nas redes. A provocação era essa. Obrigado por ter me alertado!

  4. As redes sociais, ao meu ver, são uma “defesa natural” criada pela demanda de uma válvula de escape para o nosso cotidiano na era da informação. Ninguém (ninguém mesmo) usa o orkut, facebook, twitter ou qualquer coisa que o valha para um fim que não seja – ao menos parcialmente – o divertimento.

    É prazeroso publicizar nossas fotos que achamos mais bonitas, publicizar nossos dotes artísticos, nossa infinita gama de coisas boas que sabemos sobre nós mesmos e queremos mostrar pra todo mundo. Expandir o networking criando nossa própria imagem e não deixando que nossas atitudes cotidianas criem uma imagem do que realmente somos e sobre a qual não temos o mínimo controle é o que há de mais legal na web.

    Males da modernidade.

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