A greve do Google

Imaginemos que, amanhã, a Internet entre em pane. Vai ser pior que a ameaça de invasão do PCC: pânico. É quase impossível dimensionar a nossa dependência e inimaginável antecipar os prejuízos.

Mas, do nosso quintal, dá pra chutar com algum grau de acerto: nenhuma campanha sai, nenhuma apresentação de planejamento vê a luz, se todas as ferramentas de busca de todos os sites fizerem greve.

Se a Internet é uma eficiente vaselina nas rotinas, ela também é um amortecedor de iniciativas.

Dar um “google” – no sentido amplo do substantivo e não do nome próprio – é útil, mas já perceberam como essa atitude se antecipa a qualquer esforço intelectual?

Antes de colocar qualquer neurônio para se exercitar, a gente vai chafurdar na grande rede, dichavar seus infindáveis meandros e naufragar na primeira resposta razoável para nossas hipóteses precoces.

Antes de ler, antes de reler, antes de conjecturar, contemplar, meditar, rabiscar, “Dá um google aí, mané!” Depois de meia dúzia de cliques e de leituras arrevesadas, o espírito crítico anestesiado e a paciência com o pai na forca, a gente conclui, copia e cola.

E assim nascem os desk-research, os relatórios de tendências, os raciocínios, as análises, os caminhos criativos, os insights, as ideias.

Antes de dialogar, debater, trocar uma ideia, “Search aí, bocó!”. Enfurnamos o nariz no teclado, e o tutano se dissolve no mocotó digital.

Dizem que neurônio é como pinto: falta de exercício atrofia.

One thought on “A greve do Google

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook