O escotismo multinacional

O Brasil é um saco sem fundo de problemas, de desigualdades, de incoerências, de atrasos intransponíveis e de desonestos, mal-educados e incorrigíveis mestiços de má-fé. Mas assim mesmo – ou por isso mesmo – lá de fora rasgam elogios à nossa zona criativa e ignorância corajosa.

Não há nada de mais excitante para esses descobridores  do que uma fronteira nova, virgem, cheia de inocentes criaturas para explorar. E, quando o terreno ainda por cima é fértil e cheio de boa vontade, eles se esbaldam.

Nada de muito novo. Já foi assim com os conquistadores de outros séculos.

No entanto, difícil dizer o que surpreende mais: se é a imutabilidade do processo de exploração ou uma pequenina evolução na nossa colonizada percepção.

O fato é que, cada vez que nos deparamos com o entusiasmo adolescente dos gringos com essa nossa pujança circunstancial, dá vontade de sorrir com a ingenuidade das catequeses que eles tentam por aqui.

Via de regra, eles começam fazendo uma circunstancial pose de humildade, para logo em seguida tentar justificar um tipo de interesse muito altruísta por nosso mercado. Até aí, não passa de um protocolo de boas maneiras. Portanto, dispensável.

Depois dessa introdução sonolenta, vem a parte importante do encontro, ou irritante. É justamente quando eles tentam introduzir seus formatos revolucionários, suas tecnologias vencedoras, seus cases de sucessos. Ah, os cases de sucesso! É nessa parte que entendemos que eles continuam nos vendo como Cortés a Montezuma e seu povo: palhaços para engabelar.

No entanto, enquanto o imperador achou que Cortés era Quetzacóatl, a ave serpente – o temido Deus de panteão asteca – nós vemos, hoje, os conquistadores como escoteiros bem nutridos de alguma religião evangelizadora.

Em vez de nos irritarmos, podemos rir. E se rirmos, saberemos usar do mesmo oportunismo vencedor com que os bárbaros espanhóis surrupiaram o ouro da mesoamérica.

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