Propaganda não é avant-gardismo

Apesar das previsões efêmeras, dos cenários proféticos e do espírito de porco que atormentam quem pensa para além dos jobs, a propaganda é um clique preciso e revelador da nossa vida em sociedade.

É uma esponja com alto grau de absorção. A propaganda é uma porta de entrada para o mainstream.

Quando chegou na propaganda, pode acreditar, chegou na galera. Se não chegou, então, espere a propaganda regurgitar para afirmar que a tendência não é marola, mas maremoto. Se você vir um publicitário com um penduricalho tecnológico, com um novo modelito, um novo penteado, um novo fraseado, isso quer dizer que já está na cabeça e no coração de todo mundo. Se você vir uma propaganda que “lança” (entre aspas) um jargão, uma formulação, um estilo, qualquer coisa, então, pode apostar no bicho, que vai dar milhar.

A propaganda é um espelho sem distorção. Não é a crista, mas o tubo da onda.

É assim porque, se a propaganda não for reverberação, ela não é propaganda. É outra coisa. Experimentação não é a nossa praia. Nem avant-gardismo.

Assim sendo, todo publicitário tem que ser uma mega-antena de ondas curtas e, por vezes, turbas. Porque nem sempre é fácil sacar o mainstream. A gente costuma se cegar facilmente por excesso de zelo criativo, e passa ao largo do que está batendo na nossa porta.

Curiosidade é nossa matéria-prima, e preconceito, nossa perdição.

4 thoughts on “Propaganda não é avant-gardismo

  1. Foi muito chato quando hackearam seu blog. Eu ia dar uma “sugestão de pauta” (lembra?) e até perdi o pique. Mas agora volto a frequentar. Sei que tenho tendência a fazer comentários meio longos, mas aqui vai: concordo com a ideia da antena, concordo com a ideia da reverberação, mas discordo que 100% da propaganda está pautada nisso – e que se um publicitário começa a usar, em sua vida pessoal, alguma novidade, ela é ou será tendência. Pode ser simplesmente isso, uma preferência pessoal. Tudo bem, não é a essência do que você quer dizer, mas acho relevante separar. E sobre a propaganda lançar tendências: você lembra que, alguns anos atrás, uma campanha da Coca Cola utilizava em larga escala o termo “vibe” (redução de “vibration”)? Na época, muita gente – mas muita gente mesmo – do público-alvo da campanha veio me perguntar o que era isso. E, pesquisando informalmente, constatei que não era um termo disseminado, provocando, devido ao desconhecimento, até resistência por parte das pessoas que a marca pretendia cativar. Naquele momento, usar o “jargão” foi investimento perdido. Então, certo, a propaganda capta e potencializa o que está lá, está aqui, está por aí, está por perto. Mas tem muito publicitário que, tentando se antecipar, se precipita. Aí, por causa disso, em vez de seduzir, afasta. Lembremos que há boas campanhas e outras, digamos, nem tanto.

    PS – Aguarde a “sugestão de pauta”. Estou “resgatando”.

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