Memória de um amnésico

Existem muitas metáforas animalescas para uma grande corporação: uma galinha, porque ela não consegue sair de um círculo pintado no chão; uma abelha, que obedece atavicamente a uma rainha manca; uma barata, que mesmo guilhotinada continua mexendo as patinhas.

Existem vários fatores que fazem de uma grande organização um organismo acéfalo ou, no mínimo, amnésico. Mas o mais comum é a rotatividade promíscua dos funcionários por áreas e filiais. É sinal de dinamismo e de ascensão na carreira rodar a bolsinha e, na primeira ocasião que surge, pontificar suas “experiências” em outras freguesias.

Não há cartilha empresarial (que se costuma chamar de cultura) que segure o ímpeto do neófito. Chega com muita energia para arranhar de sua grife o modus operandi. Com um crédito de boa vontade, cases pretensamente construídos alhures, currículos místicos e os dentes ensanguentados para produzir resultados rápidos, a memória fica relegada a um punhado de pesquisas assimiladas em treinamentos precoces.

Memória é saudosismo careta e aprendizado, tentativa e erro.

Dizem que o maior plantador de florestas é o esquilo. Ele passa o verão inteiro catando nozes e armazenando-as em buracos aleatórios. Dizem que 80% de tudo o que ele esconde para comer no inverno acaba germinando na primavera porque ele não tem GPS nem muita memória. Por isso, ele morre de fome e prefere passar o inverno nas cidades, fuçando lixeiras.

Já o Wahrtog, aquele javali bonitinho dos desenhos animados, é uma presa divertida. Quando vê um leão diante de si, sai correndo. Anda uns cem metros e esquece por que está correndo. Como também fazemos, ele acaba dando meia volta para ver se lembra do que esqueceu. E lá está a boca aberta do leão.

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