A boçalidade do Twitter

Já se disse que o inferno são os outros. Mas Sartre não conheceu o Orkut, o Facebook, o Twitter. Se ele observasse o mundo de hoje, ele diria o contrário: o paraíso são os outros.

Ninguém é capaz de autoavaliação, a não ser através do olhar dos outros. Isso não tem nada de novo. Mas, como falamos de plataformas digitais, o fermento escancara as verdades mais dissimuladas.

Assim como o turista esfomeado fotografa mais do que vê, o usuário incontinente de rede social posta mais do que pensa.

E nessa corrida multiatarefada pela mais nova frase ou imagem de efeito, qualquer reunião de pessoas minimamente digitalizadas vira uma caçada de promoção individual. As pessoas instrumentalizam todas as interações com o único propósito de repercutir e colher um ricochete benéfico: “Se eu postar isso ou aquilo antes dos outros, vão me retwittar.”

Em nome da democratização acelerada, ninguém quer entender nada mais longo do que 140 caracteres. Reinventam as regras de abreviação, castram o estilo, decapitam a ornamentação. É a literatura do aforismo simplório, com trocadilhos e contradições de impacto. Quem lê Proust é javanês. Em nome da criatividade colaborativa, ninguém entende imagens que não sejam conceituais, em chulas associações de símbolos óbvios, forçados e manipulados. Quem aprecia Velásquez é marciano.

Em nome de muitos eufemismos, a ejaculação intelectual bate recordes de precocidade. Quanto mais rápido formos, mais relacionamentos e quanto mais relacionamentos, mais reputação. Um dia, parimos a primeira simplificação estúpida e nunca mais paramos.

Tomara que alguma frase desse post repercuta. É um bom exemplo.

34 thoughts on “A boçalidade do Twitter

  1. Eu acredito na comunicação visual, mas na verdadeira comunicação visual utilizada pelos deficiêntes auditivos como forma de comunicação, quando em gestos simples, conseguem codificar uma linguagem e se fazerem ser entendidos, por quem conhece a linguagem dos sinais é claro. Quem sabe não estaríamos partinto para um síntese de linguagem como essa? Quem disse que esses”Proust” e “Sartres” da vida sabiam tudo? Acredito que tiveram sua época, foram felizes e tchau! Não tenho o menor saudosismo do passado, detesto ter que usar crase, que não serve para porra nenhuma, acho um saco ter que saber se é com um S, dois SS ou com Ç, porque não facilitamos a linguagem? Quem disse que falar de forma rebuscada é o máximo? Sou a favor de um tipo de linguagem única e universal e tomara que esse dia chegue logo, talvez aí as diferenças culturais não provoquem tanta discussão, atritos, discórdias e guerras.

    Sacô brother :)D
    Forte []s

    1. Oh, sim! De repente a comunicação está mesmo mais fácil. E vamos logo acabar com as diferenças culturais! Mas nunca aumentando a cultura dos menos cultos, e sim empobrecendo a cultura em si, é claro! Pra que elevar a massa ao nível dos seus melhores membros se é mais fácil e infinitamente mais cômodo deixar que ela se degrade ao nível do pior? Que tal se usássemos a Novilíngua de Orwell e começássemos suprimir algumas palavras de nossos dicionários? Acabar com sinônimos ou coisas do tipo? Detalhes, regras, crases e palavras difíceis! Chega disso tudo!
      Olha, cara, a comunicação mudou mesmo. Comunicar-se é fácil e acessível para todo mundo. Agora pensar… Infelizmente, o pensamento está morto nos nossos dias.

      1. Thiago, isso quem diz é você. Acredito que faciltando a comunicação, haverá mais entendimento, mas sempre existirão os intelectuais e os seus caprichos de super ego. Quer saber fodam-se esses caras, que para a sociedade de uma forma geral, não acrescentam nada pois fazem questão de manter um bela distência.

        Acabei de passar por uma experiência durante o mestrado em design na ESDI/UERJ, e a única coisa sensata foi dita pelo prórprio coordenador do mestrado, PHD e cheio de títulos de merda: “No mestrado você não aprende nada, melhor fazer um MBA”. Foi o que fiz, não quero títulos e sim conhecimento, conhecimentos de mercado, pois os teóricos que são sempre os mesmos, pelo menos no mestrado em design, nem designers foram, portanto para que perder tempo com quem não me diz nada, não é mesmo?

        Quantas dissertações você já leu? Se não leu, não perdeu até porque a linguagem acadêmica é chata p/ caralho…coloquei a minha no slideshare e obtive o TOP Hot on Twitter com 6670 views, nada mal p/ uma dissertação não é mesmo? Disponibilizei uma ferramenta super atual para que todos que se interesassem por esse tema, pudessem ter acesso, é sobre isso que estava falando.

        Se quiser ver a dissertação: http://www.slideshare.net/BetoLima/a-histria-da-identidade-visual-da-rede-globo-1939482

        1. Outra coisa que esqueci de mencionar, já estou em negociação com a REDE GLOBO p/ transformar essa “dissertação” num livro, para que TODOS (que curtam esse tema é claro) possam ter acesso. Falta aqui no Brsail livros que registrem essa histórias, aliás eu nem disse sobre o que escrevi: A História da Identidade Visual da Rede Globo…e a próxima deve ser da TV Record que é muito rica, abçs!!!

          1. Eu não acredito nessas divisas. Intelectuais, super ego e tudo mais. Acho que o conhecimento e a personalidade não influem um no outro. Conheço analfabetos funcionais de uma prepotência indizível. O que não entendo na sua posição é essa aversão à cultura, como se ler demais fosse ruim. Eu vejo justamente o contrário. Conhecimento enriquece. Ele acrescenta, e quando não acrescenta, pelo menos não retira nada. A comunicação tem sim sua importância, mas não adianta colocar várias pessoas que não tem nada a dizer comunicando-se loucamente sem qualquer sentido umas com as outras. Eu não tenho repulsa alguma pela nova comunicação, o que me assusta é a falta de conteúdo. falta de interesse de ir além dos 140 cacacteres, do empobrecimento de espírito que vivemos atualmente. Acho que para avançarmos de verdade não temos que trocar uma coisa pela outra, jogando fora coisas boas ao longo do processo. Acho é que deveríamos uní-las, não há mal algum nisso. Mas, em vez disso as belezas que o conhecimento proporciona estão cada vez mais mal vistas.

      1. Thiago,

        mas uma vez vc parace entender só o que lhe convém, como é qu posso ter aversão a cultura se sou prof, universitário em 3 instituições aui no Rio? O que digo e BEM CLARO, é que tem muitos que dizem ser professores, na realidade só possuem títulos e na ESDI desmascarei vários.

        Quanto ao Twiiter, querendo ou não é uma ferramenta rápida de distribuição de conteúdos sim, e de muito sucesso e e que cabe a cada um que faça o seu filtro. E que de modo em geral os publicitários estão putos porque ainda não viram uma forma de ganhar dinheiro com isso, pois para esse tipo de mídia, as redes sociais, os anuncianes estão dispensando os serviços das agências.

        E quem quiser mais conteúdo além dos “140 caracteres,” que tanto lhe incomoda, que procure as bibliotecas, os blogs, e etc, o Twitter finciona como um teaser, como era chamando na minha época. Mensagens rápidas, como os títulos dos jornais, das chamadas no jornlaismos televisivo, nas revistas, e agora na web, que dispertam o leitor para uma matéria, um artigo mais completo…simples assim..ficou bem CLARO?

  2. Ainda vou mais além, tomara mesmo que vingue esses livros virtuais, imaginou ter uma coleção num simples aparelho portátil, com interatividade e o cacete?
    Muitas editoras irão quebrar se não se atualizar? Sim. As fábricas de papel terão que, literalmente, se reciclar? Sim. Mas por outro lado quantas florestas ainda poderão “agradecer” de não serem desmatadas? Imaginou poder trocar, assinalar, comentar um texto num “simples” aparelho portátil? Faço a comparação dessa “nova linguagem”, vamos dizer assim, da mesma forma quando fiz Belas Artes e tive que aprender o desenho clássico para depois criar do meio jeito mas isso tb não aconteceu com Picasso? Saudosistas “de plantão” terão os museus para se contentarem :)D

        1. Ele falou tanta bobagem nesse artigo que perdi até o interesse em saber quem é esse Dan.

  3. Passando a régua, basta lembrarmos que sempre citamos Sartre, Descartes, Aristóteles, Voltaire, utilizando suas máximas. Ou seja, um pouco mais ou um pouco menos de 140 caracteres para sintetizar um grande pensamento de um grande gênio.

    Quer mais “twitter” do que: “Ser ou não ser, eis a questão”?

    …É para pararmos e (re)pensarmos bem, hein!?

    Abraços de um fã incondicional do seu trabalho, Alphen!

  4. De novo: não é engraçado o quanto se usa de palavras para dizer como as palavras são – ou serão – dispensáveis? Mas então tá, vou ser twittelegráfico: unfollow Beto Lima, follow thiago the wild, keep following Fernad Alphen.

    PS – Alphen, não sei se este é o lugar mais adequado, mas sábado, 16/10, morreu o grande José Angelo Gaiarsa, meu mestre e amigo. Não sei se vc lia, conhecia ou gostava das ideias dele. Para mim, era (é?) um gênio. Sei que o blog trata mais de outros temas, mas tomo a liberdade de sugerir uma coluna a respeito.

    1. Gustavo, que triste a morte do Gaiarsa. Conheço pouco, mas sempre q tive oportunidade de ler como ele pensava, eu gostava muito.

  5. Cara mais burro. Procure outra turma, essa daqui curte crase, delicadezas. Desculpe cara, mas se ao menos vc fosse mais tímido…

    Xô cabeção!

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