A coletividade é uma beleza. Ela parte do pressuposto de que muitas pessoas trabalhando juntas, ligadas por uma rede, acabam produzindo resultados melhores. A democracia é assim. As pessoas votam em seus representantes que constituem os nós da rede que se alimenta dela. Uma linha de montagem é assim também. As pirâmides foram construídas assim.
A Internet não inventou o princípio. Só aplicou essa lógica à informação, mas redes elétricas, de distribuição de água, irrigação, estradas, esgoto, desde os romanos, já aplicavam o princípio.
Mas, assim como existe uma correlação direta entre quantidade de conexões e qualidade do sistema, não existe nenhuma correlação comprovada entre essa lógica e a qualidade dos fluxos. Ou seja, uma rede azeitada, funcionando, garante fornecimento de energia, de água, de carros e o despejo de cocô. Uma Internet garante o fornecimento e despejo de informação. No entanto uma rede não garante, por exemplo, que a qualidade da água seja boa, muito menos da informação.
Por outro lado, não existe correlação direta entre rede e criatividade. Se podemos acreditar que não existe criatividade sem repertório e inspiração – nem conhecimento, nem humanidade – no entanto, um milhão de pessoas limitadas conectadas e trabalhando juntas produzirão resultados também limitados. Dez milhões de pessoas burras trabalhando juntas vão criar coisas burras, pois é da lógica da rede, também, o mínimo denominador comum. O produto de uma rede de colaboração nunca será o máximo denominador comum.
Acreditar em colaboração coletiva não significa desacreditar na capacidade individual. Quando o assunto é criar, a união não faz necessariamente a força.
Ainda haverá, sempre, o criador isolado, só, sem celular nem internet, sem Wikipédia, sem YouTube, sem bibliotecas sofisticadas, sem rede.
O quantum leap criativo não se dá como produto do browser obsessivo atrás de referências e pedidos de socorro.
A criação ainda é o produto da reflexão desplugada e do solilóquio referenciado por um mar mental de repertório, influência e musas.
A rede não é criativa – http://www.alphen.com.br/2010/10/22/a-re…
RT @Alphen: A rede não é criativa – http://www.alphen.com.br/2010/10/22/a-re…
Hummmmm… pode ser pior. Na Internet, os “nós” não são mera passagem do fluxo, mas componentes ativos do conjunto. Portanto, influem no resultado final. Quase por definição (elitista, reconheço), o que é gerado colaborativamente por uma multidão de despreparados será algo que valida o despreparo. E, reproduzido ao infinito, pode obscurecer, ou simplesmente suprimir – matando por sufocamento – aquilo que escapa à percepção, ou ao gosto, da “comunidade” original. Inclusive contribuições para melhor. Sou a favor da colaboração, claro, mas também tenho medo dela. Sofro de dúvidas entre o sentimento democrático de “todos criam” e a tentação autoritária de “se você não é bom, não se meta a criar”. No campo das ideias, do conteúdo, talvez a dificuldade primordial seja a esfingiana definição sobre o que é qualidade, e para quem. Qualidade é o que funciona? Nem sempre. É o que está restrito a poucos? Não necessariamente (seria ainda mais elitista). Alguém aí sabe? Eu não sei. Só acredito também, e ainda, e profundamente, que a criatividade em que mais acredito nasce do exercício único de ampliação realizado por UM indivíduo.
“A criação ainda é o produto da reflexão desplugada e do solilóquio referenciado por um mar mental de repertório, influência e musas.” = Solitude