Conhecimento não é search engine

Dizem que a memória cultural das pessoas não passa de 5 anos. Isso significa na prática, e na média, que as referências das pessoas se limitam ao que aconteceu no mundo nos últimos 5 anos. Em outras palavras: nada.

Se essa aterradora constatação for verdadeira, então de que adianta toda a tecnologia? De que adiantam os entusiasmos com o mundo moderno?

Esse mundo aí, no qual esperamos viver cem anos, é oleaginoso e paira na superfície ao sabor de prazeres passageiros. É o mundo dos verbetes tagueados, do conhecimento resenhado, dos tutoriais no YouTube, das traduções digitais. Parece que a tecnologia, de tanto preocupar-se com simplificações, simplorificou demais.

Nessa vibe, podemos redefinir o que é criação. Antes diziam-nos que não havia criação sem repertório, sem conhecimento. Para resolver essa parada, resolvemos colocar todos os repertórios online. Fácil? Quem disse? Está tudo lá, nas profundezas da grande rede. Mas como nos rios poluídos, é a merda que emerge. É a merda que se consome, ávida e cegamente.

A memória cultural das pessoas se nutre da superfície. A criação, idem.

4 thoughts on “Conhecimento não é search engine

  1. Quem disse isso? Bom, hoje à noite e umas semanas atrás, no Altas Horas, as homenagens ao centenário de Adoniran Barbosa (inclusive com a garotada cantando as letras de músicas compostas há décadas, sobre a realidade como era há décadas) desmentem com uma não desprezível força essa teoria dos 5 anos. Será uma esperança vã da minha parte? Ou para cada exemplo como esse existem milhares de exemplos do oposto, dirá você? Minha teoria, sem base científica, pela qual sou totalmente irresponsável: a profundidade, a elaboração do pensamento e do conhecimento – e portanto a preservação da memória cultural – sempre foi prática de poucos, por impossibilidade social e econômica ou por desinteresse mesmo. A Internet apenas reflete o fenômeno. O problema é que o amplifica. Aí, sim, acho aterrador. Mas façamos um “mea culpa”: a julgar pelo conteúdo das campanhas veiculadas nos últimos muitos anos, na opinião das empresas anunciantes e agências em geral o público (classe C, né?) não passa de uma multidão de babacas.

  2. Ótimo ponto. Some a isso: (i) resultados em busca cada vez mais ordenados por tempo – botando a relevância em segundo plano; (ii) o estilo gráfico cada vez mais editorial que vem dominando a internet (grandes chamadas, pouco texto, tudo em prol da tal simplicidade) e (iii) a molecada 2.0 que confunde efeito de photoshop com criação. E temos aí uma linda obra de arte pós moderna.

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