Já somos 81,3 milhões em ação

Há 3 anos, a F/Nazca faz um estudo aprofundado (F/Radar) sobre fenômenos sociais impulsionados pela popularização da Internet no país. Alguns paradigmas foram quebrados ao longo do estudo, e os dados falam por si só.

A pesquisa é quantitativa e abrangente: compreende todos os brasileiros acima de 12 anos, em 143 municípios de todo o Brasil, e tem margem de erro estatístico de dois pontos percentuais. O campo é realizado pelo Datafolha. Seguem alguns pontos mais polêmicos da última leitura (segundo semestre de 2010):

– Universalidade e democratização relativa

O país tem hoje 54% de pessoas acima de 12 anos que costumam acessar a Internet. A penetração é de 84% na classe AB, 51% na C e 23% nas classes DE. Noventa e um por cento dos jovens de 12 a 15 anos costumam acessar a Internet, sendo que esse número cai sucessivamente nas outras faixas etárias.

No entanto, se podemos nos surpreender com a extrema rapidez do “hábito de acesso” (diferente de “ter acesso”), a penetração em casa segue em patamares baixos: apenas 27% dos brasileiros possuem conexão com banda larga em casa e 6% com conexão discada.

O acesso em casa determina uma série de comportamentos diferenciados quando comparados com o acesso fora de casa e consubstancia uma fronteira social: 73% da classe AB possui acesso em casa, enquanto que na classe C são apenas 24%. Vale salientar ainda que a posse de Internet tem um crescimento pífio nas classes CDE.

O acesso em casa é, por exemplo, o principal gargalo para a popularização do comércio online. Apenas 25% dos brasileiros costumam fazer compras online e há uma relação direta entre classe social e compras online.

– A Internet é um dos principais fatores de emancipação cultural

Apesar dos rumores alarmistas que correm na mídia e que dão conta do excesso de informação, distração, superficialidade cultural e patologia social, a Internet é vista pelos brasileiros como uma chave para a vida moderna.

Noventa e três por cento dos brasileiros se consideram mais informados, 89% mais práticos, 88% mais comunicativos, 88% mais conectados, 88% mais instruídos e 60% mais independentes, desde que começaram a usar a Internet. A Internet só é vista como negativa por uma pequena minoria dos brasileiros.

– Colaboração na Internet é relacionamento e identidade.

Quando perguntado sobre colaboração voluntária e “autoral” na Internet, 57% dos brasileiros afirmam que “costumam colocar algum conteúdo feito por si próprio na Internet”. Esse percentual vem crescendo à base de 5% por semestre.

Os principais conteúdos são fotos (52%), textos (20%) e vídeos (19%), e a principal motivação é relacionar-se com alguém (30%) e ilustrar ou contar algo sobre a vida pessoal (20%).

– Colaboração na Internet chama-se Orkut

Cinquenta e cinco por cento das pessoas que costumam acessar a Internet de forma ativa dizem fazê-lo por meio de seu perfil ou por meio de comunidades no Orkut (40% e 15% respectivamente).

As demais (e ruidosas) redes são incipientes. Apesar de terem taxas de crescimento significativas, o Twitter e o Facebook só respondem por 7% e 4%, respectivamente, das menções a “colaboração online”.

– Mídia de informação se chama Google

A única mídia de informação que mantém relevância estável em todas as faixas etárias são as ferramentas de busca (leia-se Google), mantendo-se em torno de 50% para todas as faixas etárias.

O comportamento de consumo de notícias do brasileiro possui, no entanto, uma enorme diferença em função da faixa etária.

Embora a televisão continue sendo a mídia de consumo de informação preferida (45%), seguida pela Internet (40%), pelo rádio (7%), pelo jornal impresso (4%) e pela revista (2%), os jovens de 12 a 24 anos se informam prioritariamente nas suas redes sociais (80% entre 12 e 15 anos, 60% entre 16 e 24 anos) e nas ferramentas de busca (55% de 12 a 15 anos e 52% entre 16 e 24 anos).

Os portais, sites de mídia impressa e blogs só possuem relevância para os mais velhos.

– Jogar: uma mania nacional, mas uma mania gratuita ou pirateada

Quarenta e dois por cento da população brasileira costuma jogar através de algum dispositivo (29% pelo celular, 27% pelo computador, 23% por videogame tradicional e 6% por videogame portátil).

Esse número tem evidentemente penetração muito maior entre os mais jovens (90% de 12 a 14 anos e 70% de 16 a 24 anos), e os jogos mais populares são disparadamente os de futebol (27%).

No entanto, quando perguntado onde obtêm seus jogos, 81% dos brasileiros que jogam o fazem gratuitamente: 36% através daqueles obtidos das operadoras de celular gratuitamente, 29% emprestados de amigos, 22% baixados sem pagar em sites de compartilhamento de arquivos e 19% entrando sem pagar em sites de jogos em rede. Apenas 19% afirmam comprar seus jogos, sendo que um terço destes compra jogos em camelôs e banquinhas de rua (leia-se piratas).

Mais informações sobre o F/Radar em www.fnazca.com.br
Artigo originalmente publicado no Meio & Mensagem do dia 29/11/2010

10 thoughts on “Já somos 81,3 milhões em ação

  1. Excelente coluna, pela relevância e objetividade das informações. Você colabora para tornar a propaganda mais atualizada, consciente e inteligente. Mas como nossa vocação aqui é ser críticos, gostaria de fazer dois reparos. É até bem provável que os seriíssimos profissionais do Datafolha já os tenham levado em consideração, mas como também pode ser que não, coloco aqui o questionamento. Antes, que fique claro, sou fã da Internet, acho a rede um avanço, uma maravilha, um tesão. Prova disso é o quanto navego e posto todo dia – aqui inclusive. Bom, primeiro, no item sobre “emancipação cultural”, uma coisa é declarar-se bem (ou mais) informado, outra coisa é sê-lo. Não acho tão alarmista o que falam sobre a superficialização do conhecimento devido ao excesso de informação, uma vez que há estudos bem sérios indicando este indesejável impacto. E, para mim, o esvaziamento de ideias da nossa publicidade é uma franca expressão disso. Segundo: acho pelo menos prematura a conclusão de que “os portais de mídia impressa e blogs” só importam para os mais velhos. Ok, os jovens se informam majoritariamente em suas redes sociais, mas o que circula lá – até hoje ninguém negou e o Marcello Serpa confirmou – tem, em gigantesca proporção, origem no trabalho de empresas de comunicação mesmo, essas que todo mundo diz que estão ultrapassadas, que têm jornalistas contratados, que vão lá atrás da notícia e a registram, para só depois ela entrar na rede, onde será, muitas vezes tão somente, repercutida. Para os jovens, o conteúdo gerado pelo trabalho dessas empresas importa, sim, só que muitas vezes eles não sabem. Não compro a ideia de que no futuro todos serão repórteres, mandando para a rede o que aconteceu na sua esquina. Todos terão vontade, vocação e tempo para isso? Só acredito vendo. Mas, vá lá, digamos que um dia seja assim, num futuro próximo. Tenho 43. Esses mais velhos de que você fala somos nós? Não temos nem teremos mais importância para a comunicação e o mercado?

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