Posicionar não é escarafunchar

A atitude é o ascendente, a codificação aparente, a máscara que acende o desejo. Não revela, protege e encanta. É um avesso de conteúdo.

A propaganda é um terroir em que germinam atitudes efêmeras. O publicitário que bem sucede-se é aquele que entende o jogo de sedução que se dá na superfície. O arrepio, ainda que passageiro, é mais eficiente.

Quando a pseudo-ciência do marketing aprofunda a análise in extremis, os processos além de lentos são densos, desgastantes e banais. Resultam em idéias que têm a pretensão de apertar um botão utópico, que transformariam audiências em consumidores. O máximo que se consegue com tanto método investigativo é vulgar. A enorme maioria dos conceitos de posicionamento assim gerados são monótonos, repetitivos, passe-partout e verdadeiras metralhadoras de agrados para uma plêiade de interesses internos.

Emocionar não significa escarafunchar as entranhas. A exposição publicitária é fugaz, disputada a tapas e cara demais para a exploração em águas ultra-profundas.

Já a mais epidérmica das carícias é capaz de inspirar os gozos mais primitivos.

2 thoughts on “Posicionar não é escarafunchar

  1. Ai… concordo com vc, mas essa polêmica me cansa tanto! Tudo que é humano é mutável, instável, imprevisível. Só pode ser abordado pelo caminho criativo, também incategorizável, inefável, infinito. Grande parte dos esforços da pseudociência do marketing é iludir os possíveis interessados de que é possível tornar essa sedução totalmente PREVISÍVEL, explorável e demonstrável num Power Point, utilizável num planejamento INFALÍVEL (e que, na vida real, na primeira sacudida de percurso é deixado na primeira esquina). Pura balela tudo isso. Acreditar nessa falácia é que vem barateando nossos talentos, vulgarizando nossas ideias. Sedução, sedução, sedução criativa é caminho! Será o caminho sempre, arrisco. E o sujeito SABE que está sendo seduzido. Sobre sua metáfora, concordo que não temos de escarafunchar tanto mesmo, mas não acho que toda carícia epidérmica é superficial, nem que o gozo despertado é “primitivo”. Até por motivos científicos (Mestre Gaiarsa, de novo): derme e cérebro têm a mesma origem embrionária. Estão unidos para sempre, pelo início em comum e pelas sensações. Tocar pode liberar os mais… tocantes e profundos sentimentos. Não vamos fazer terapia com a audiência, mas podemos mobilizá-la sinceramente sem papo-cabeça. Perceba. Toque. Seduza. Você vai vender muito – e com honestidade.

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