Identidade é uma escolha ou uma herança? Há quem acredite em herança, quase genética, atávica. Mas a hipótese é conservadora e contradiz a principal força motriz do desenvolvimento humano: a miscigenação, a promiscuidade cultural e a barafunda de influências que nos impulsionam adiante. A identidade herdada é uma prisão que arrasta muita gente para o divã.
A identidade escolhida, no entanto, não significa que não possamos relacionar as afinidades culturais de um povo. Desde Caminha, tentamos apropriar para o brasileiro um caráter, um gosto mínimo denominador comum. Em tempos de entusiasmo econômico, essa busca se acentua. Afinal, o que nos une, para além da geografia, da língua e do passaporte? Para entusiastas, é a criatividade; para derrotistas, a passividade.
Quando perguntados sobre qual seria a característica mais apreciada de uma propaganda, uma pesquisa apontou, de longe, que era o humor. Lá na rabeira, aparecem os clichês típicos da propaganda de baixa qualidade: uso de celebridades, jingles e músicas famosas, etc.
Apesar do Luciano Huck virar capa de revista (da Veja, claro) pelo seu bom-mocismo sem graça, apesar da promiscuidade de sua imagem, é triste aceitar que ele personalize nosso mínimo denominador aspiracional.
Prefiro achar que o Gerônimo Santana (“viado cidadão”) é melhor do que o Luan Santana (“meteoro da paixão”). Melhor Chacrinha do que Huck. Muito mais gozado, efêmero, debochado.
Talvez sejamos mais brasileiros quando rimos de nós mesmos, quando não nos levamos a sério.
Existe alguma coisa mais enfadonha do que uma demo de produto, em um comercial, que tenha a pretensão de explicar tecnicamente as propriedades benéficas de um produto? Até quando continuaremos acreditando que o brasileiro é como o alemão e gosta de provas para consumir?
O convencimento pela seriedade é um caminho anacrônico em um país que se debulha no carnaval, faz samba com a miséria, ri da desgraça e gargalha até com o preconceito. A demo de produto clássica é gringa, chata e burra, principalmente em uma linguagem – a propaganda – que há muito virou assunto de bar.
Demo de produto em comercial é de se rir – http://www.alphen.com.br/2011/02/03/demo…
Como diz o @Alphen : publicitario não pode ser especialista. É generalista por definição, tem q ter ouvidos, sensibilidade e criatividade
Permita-me discordar. No quesito “seriedade”, como tom de discurso, tem hora que rola, tem hora que é o melhor, tem produto que só é possível assim. No quesito “demo”, também vou ser “do contra”. Sou convicto opositor da chatice, extremo simpatizante do bom humor, não gosto – no sentido “artístico” – do Luciano Huck e sou admirador do Chacrinha. Só que não acredito que a demo de produto seja carta fora do baralho, não. Nem que só o alemão goste de provas para consumir. Cada caso é um caso. Tem produto, e tem público, para quem funciona, sim. Tenho (argh!, mas vá lá) cases assim. Se criassem um produto que, digamos, fizesse as unhas da mulherada com um clique, tipo uma robô-manicure, você não faria uma demo de que ela faz isso? Eu faria. Podia fazer graça antes, contar uma história interessante no meio, inventar uma situação pitoresca no fim. Mas o principal da coisa ia ser o benefício mesmo, porque, de tão inédito, ele superaria qualquer recurso retórico. Agora, se fosse assim, com enredo, já não seria a demo de que você fala? Então, tudo bem. Mas, embora concordando que tem coisa melhor quase sempre – e com frequência brigando pra não fazer – acho, mesmo, que a demo não é o demo.