O jogo fácil

Não leia este post: é um chiste.

Ivan Ilitch era um sujeito ordinário. Ele sempre fizera o que devia ter feito. Suas paixões circunstanciais não tinham arestas. Quando a morte se aproximou, ele sofreu de cólicas existenciais insolúveis. Sua vida só encontrou singularidade na morte. Não fosse Tolstói a lhe dar alguma nobreza, Ivan Ilitch teria sido outro humano à toa.

Bartleby era um homem medíocre com uma profissão medíocre e sonhos medíocres. Era um escrivão cuja obsessão era o imobilismo. Sua originalidade, paradoxal, residia na sua determinação de nada fazer para mudar de seu destino rotineiro, maçante, inútil. Muitos veem Bartleby como um covarde carneirinho. Melville talvez o tenha visto como o grande herói.

Opinião é uma bandeira envergonhada na profissão de publicitário. A crítica se dá huis clos, sem repercussão, covarde. Existem inúmeros canais que se debruçam sobre o tema, mas são uma manteiguinha na vaidade. E quando um tema potencialmente polêmico surge, um coro de “deixa disso” limpa a barra, abafa, senta em cima. Em nome da boa condução dos negócios.

Da mesma forma, a produção publicitária, na sua imensa maioria, prima pela apatia “bem pensante”. É o jogo dos agrados de circunstância, do atendimento servil, da criatividade pré-digerida, da mídia matemática, do planejamento de autoajuda. Somos apaixonados pelo jogo fácil do laisser faire abusado e blasé.

Pena tantos Ivan Ilitch brilhantes na pele de Bartleby frustrados.

5 thoughts on “O jogo fácil

  1. parece que só tem esse tipo no meio publicitário…. triste. por isso ando pensando em vender flores.

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