De longe, as mudanças são um soluço

Não é fácil entender como a onda do tsunami que devastou o nordeste do Japão andava a 700 km por hora.

Deve ter uma explicação que jamais serei capaz de entender.

Mas, quando nos afastamos do nosso mundo de todos os dias, somos capazes de refletir sobre e relativizar o tema central do mundo contemporâneo: Virilio diz que tudo é tão veloz que um dia chegaremos ao limite intangível, inobservável, da luz, e que nesse dia o futuro não mais existirá.

Aqui de baixo, contrariamente à onda do Japão, quanto mais perto estamos, mais rápido chega. As mudanças que vislumbramos e profetizamos com urgência não passam de um saltitar débil, aos olhos da águia que sobrevoa tudo.

Vemos a fragmentação exponencial das mídias e a desatenção extremada do consumidor como iminentes. Parece que a água bate na nossa bunda todos os dias, a cada nova manchete alardeada no quinquilhão dos soit-disant blogs de tendências de comunicação. É só alguém ter uma ideia aproximadamente brilhante e incertamente bem-sucedida que lá vem aquela culpa “Não lhe disse? Não lhe disse?”, ou aquela cobrança “Alguém já fez! Alguém já fez!”.

Mas o distanciamento analítico mora ao lado. Não é preciso ser nenhuma águia solitária para assistir a como tudo é moroso: é só sentar a bunda na poltrona, de cueca, com os neurônios em coma, e assistir às nossas mídias, novas e velhas.

Sobre o que conversam aqueles jovens sorridentes, sentados no banco de uma praça do Chiado em Lisboa, numa segunda-feira à tarde? O mesmo que tantos jovens da geração-Y que nos aporrinham com seus comportamentos superantenados, mega-aflitos, ultradispersos: merda, graças a Deus.

One thought on “De longe, as mudanças são um soluço

  1. Isso aí. A sensação de emergência, de que tudo vai mudar da água pro vinho daqui a 5 minutos não passa de mais uma invenção dos medíocres, pra sabotar os que ainda se preocupam com alguuuuuuma profundidade de conteúdo – inclusive em propaganda, sim, senhor. Tudo muda e vai mudar, claro. Mas não nesse ritmo dos abobados, dos embasbacados por tanta velocidade e “multitarefabilidade” que não assimilam nada. Isso só angustia e dá dinheiro pra alguns malandros. Ou muitos.

    PS – Por onde você andou, cara? Como vc some assim, sem deixar nem um “A coluna de Pasquale Cipro Neto está de férias”?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook