Ridiculite, você ainda vai ter uma

Trataremos hoje da principal inflamação social do mundo hipermoderno, mais conhecida como ridiculite.

Os sintomas da ridiculite podem ser resumidos em duas alterações de comportamento típicas e evidentes.

Ao primeiro, daremos o nome de “auto-shooting”. No seu estágio mais primitivo, o sintoma é a autoveneração fotográfica. No seu desenvolvimento irreversível, o “auto-shooting” passa a comandar todas as atitudes do doente, que tira foto de tudo e de todos, a todo instante. É o que os médicos chamam de cliquite.

Ao segundo, daremos o nome de “over-sharing”. No início da doença, o sintoma se desenvolve numa procura adolescente de afirmação e hiperidentificação. Já para os estágios mais avançados, o “over-sharing” é uma espécie de gagueira social compulsiva, ou aquilo que os psiquiatras chamam de dadite.

A ridiculite é uma inflamação subcutânea, de ação prolongada e degenerativa. Extremamente contagiosa, a doença já assumiu proporções de epidemia. A ridiculite é transmitida por um agente patogênico que se traveste de variadas aparências. Seu grau de adaptabilidade ao ambiente e à vítima torna seu combate direto  praticamente impossível. No entanto, como a dengue, a ridiculite deve ser combatida no criadouro, cujo epíteto genérico convencionou-se chamar de rede social.

Para filósofos de bigodinho e bermuda fashion, tendência e sintoma c’est la même chose. Portanto esqueça a patologia: auto-shooting e over-sharing é megatendência

7 thoughts on “Ridiculite, você ainda vai ter uma

  1. E tem o instagram q faz todo mundo acreditar q é fotografo e q fotos da sarjeta, da mesa do bar e da maçaneta da porta de casa estão à altura do cartier bresson. Merecem ser “compartilhadas”.
    É pinga pra bebado! Potencializou o sintoma, bombou a tendência.

  2. hahahaahah que medo !!
    os sintomas são silenciosos , as crise agudas dificilmente são identificadas …

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