Instagram é o novo Prozac por José Porto

Café da manhã em NY, pôr do sol poético na Serra da Bocaina, um novo olhar sobre aquela placa de rua feia, almoço exótico num mercado de rua em Hanói, um ângulo descolado onde sua casa fica melhor que aquelas que saem na Casa Vogue.

A vida no Instagram é assim: por alguns segundos você vai se sentir melhor imaginando o que as pessoas estão pensando sobre sua vida sob efeito de filtros glamourizantes. E de quebra você descobriu um novo talento: nasce um novo Helmut Newton.

Tendência hype? Não. Sintoma de Depressão Pós-Photoshop.

Depois de ficarmos inteligentes em 140 caracteres e compartilharmos momentos importantes via Facebook, as imagens falam mais que mil palavras – e com filtros falam mais que um milhão!

O sintoma não se restringe a nós, publicitários e descolados hiperconectados em geral.

Daniel Winter, fotojornalista do NY Times, causou um reboliço na comunidade internacional de fotógrafos profissionais.

Ganhou 3o lugar num respeitado prêmio, o POYI (Picture of the Year International) com uma foto feita com o seu iPhone e devidamente “filtrada” usando o aplicativo Hipstamatic – uma espécie de Instagram sem ferramenta social.

A série de fotos de onde saiu a bendita premiada foi feita em novembro, no Afeganistão, para uma matéria do jornal sobre a vida dos soldados americanos na guerra.

As fotos poderiam estar no seu timeline do Instagram: soldados ouvindo iPod e rindo, um cachorro se espreguiçando na mata, cartuchos de bala jogados no chão fazendo uma bela composição gráfica (veja aqui: http://nyti.ms/bKrWLA).

Questionado, o fotógrafo diz que a estética tem papel determinante na maneira como vemos o mundo e que não somos máquinas de fotocópias ambulantes. Somos contadores de histórias (ou “storytellers” como se gosta de dizer…).

Certo ou errado, a guerra no Afeganistão ficou visualmente linda e a vida dos soldados ganhou um quê de glamour antes impensável para tal contexto.

Não estamos no Afeganistão, mas a vida como ela é cansa, é feia e crua. O Instagram e seus similares nos dão o privilégio de burlar tudo isso e contar uma história mais interessante. Tendência? Não. Sintoma de Depressão Pós-Geração Y.

E é contagiosa.

Tá chato? Feio? Sem chiqueza? Põe um filtro, uma legenda engraçadinha, meio criptografada, meio piada interna e pronto. O Instagram deixa a vida mais suportável.

@zeporto

35 thoughts on “Instagram é o novo Prozac por José Porto

  1. Já pensei muito nessa questão do Instagram e não sei explicar ao certo o que me incomoda. Não acho que a utilização dos filtros seja o ruim do assunto. Manipulações de fotografias sempre existiram, sejam elas feitas no momento de revelação do filme, na quantidade de luz que você deixa vazar no negativo, no Photoshop ou, no caso, no Instagram. Não acho que uma manipulação digital valha “menos” do que uma feita nos modos tradicionais, como muita gente se orgulha de dizer que não altera nada no photoshop mas mergulha o negativo na coca cola para as cores saírem distorcidas. Ao meu ver, a grande questão disso tudo é que, enquanto ferramenta em plena curva de ascenção, os usuários acabam superutilizando tudo. Postamos loucamente (sim, me incluo nisso) e em quantidades jamais vistas, levando à exaustão uma determinada estética. Ou seja, há um desgaste de linguagem fotográfica e um exagero ao culto dessa linguagem. E, como sempre, o exagero cansa.

  2. é só não pensar muito em coisas que não valem muito, deixar a cabeça vazia, e os olhos vão ver melhor, mais fresco, mais novo, mais leve, menos torturante, aquela placa de sempre que um dia acorda diferente, ta aí o exercício.

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