Os novos fantasmas da propaganda

Muitos anos atrás, a Internet era uma curiosidade intelectual, como o hermafroditismo dos cavalos marinhos ou o matriarcado das sociedades celtas primitivas. Como é da natureza de todas as idéias divergentes, com o tempo, o assunto tornou-se alvo de ideários inflamados, com argumentos simplórios, como as boutades conservadoras do premier israelense ou de algum ditador africano.

Mas já há alguns anos, a Internet tornou-se uma coceira agradável no discurso de muitos profissionais de comunicação. Uma feridinha que a gente acalenta com prazer, um pecadinho, íntimo, gostoso.

É que na Internet, muitas frustrações se acobertam e o ambiente sorri de volta a ambições fora de moda.

Se a mídia tradicional fechou suas portas para experimentações e ousadias desconexas, temos a Internet para veicular nossas quimeras no Youtube. Se a mídia tradicional encafifou com a forcinha espontânea que sempre deu a idéias originais, sempre haverá um blog “muito influente” afim de dar cobertura gratuita.

Então vemos surgir defesas mirabolantes para investimentos eufemisticamente corajosos: “põe na Internet que a coisa se espalha!” ou “vai dar mídia espontânea”. O intangível e incontrolável justifica.

É assim que nascem os cases de vaudeville que se empilham nos festivais de propaganda.

12 thoughts on “Os novos fantasmas da propaganda

  1. Acho que pesquei um novo tema.
    Por mais livre que a internet seja ela é automaticamente, ou naturalmente, censurada pelos próprios usuários. Você podia escrever sobre essa censura (ou triagem de conteúdo) que mostra que o número de “views” não fazem a menor diferença.
    Algo se espalha por ser super legal ou por ser super preconceituoso ou nojento, então “views” não pode ser métrica para sucesso.

  2. Premissa: sou usuário, simpatizante e até entusiasta de certos aspectos das redes sociais. Fato: fui ao seminário sobre o tema na ESPM. Algumas de minhas conclusões:

    – Redes sociais são ótimas, mas vc não pode usar pra falar diretamente do produto, porque o pessoal não gosta;

    – Redes sociais são ótimas, mas não importa o quanto sua marca seja honesta e respeitável, o pessoal vai usar a exceção pra te malhar;

    – Redes sociais são ótimas, mas não dá pra formular uma estratégia que funcione pra mais de um caso;

    – Redes sociais são ótimas, mas não dá pra calcular muito bem o custo-benefício do investimento porque não dá, de verdade, pra mensurar os resultados;

    – Redes sociais são ótimas, mas ninguém sabe se um grande número de acessos, views, cliques, twittes e retweets gerados por uma ação de marca realmente se traduz em algum valor de branding perdurável;

    – Redes sociais são ótimas, mas quem ganha dinheiro mesmo com elas são os caras (não as marcas) que, por um motivo ou por outro, conseguiram construir uma audiência, igualzinho à mídia tradicional;

    – Redes sociais são ótimas, mas um profissional que faz isso pra um monte de empresas não consegue formular um único pensamento inteligente sobre um fenômeno monumental como “O Criador”;

    – Redes sociais são ótimas pro cliente fantasiar que não vai mais precisar gastar com mídia e pra um monte de agências tirarem mais alguma grana do cliente;

    – Redes sociais são ótimas pra um professor conhecido e supostamente respeitado fazer uma apresentação que se propõe a ser um seminário, mas tem a consistência e a profundidade de uma palestra motivacional;

    – Redes sociais são ótimas mesmo para o Charlie Sheen, o Luciano Huck e o Rafinha Bastos.

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