O Instagram e o Guitar Hero por André Kassu

O grande trunfo do Guitar Hero é trazer a sensação de que você é um
guitarrista, certo? Por alguns momentos, sacudir aquela guitarrinha colorida
faz de você o melhor Stevie Ray Vaughan da sua sala. Sem uma aula de teoria
sequer, sem uma aula prática, lá está você todo suado, dedos doloridos e
feliz por acompanhar Pride and Joy no modo expert. E vai: é uma sensação e
tanto. Fora que para uma geração de pais, é a redenção ouvir seus filhos
tocando AC/DC ou qualquer outro gênero que não tenha universitário logo
depois do seu nome.
Pois o Instagram é o meu Guitar Hero. Confesso meu vício no aplicativo
chamado de Prozac pelo Zé Porto. Sim, a felicidade está ali. Exuberante.
Disfarçando as nossas fraquezas com filtros coloridos. Mas não é uma
novidade em fotos caseiras, é? Don Draper diz em um brilhante comercial para
Kodak, na série Mad Men: fotos nos levam para um lugar em que você sabe que
é amado. Nós registramos muito mais o que gostamos do que o contrário. Ou
existem albuns de famílias infelizes? O Instagram me traz por segundos a
falsa sensação de que eu sou um fotógrafo. Sem saber que diabos faz um
obturador. E aí está o segredo: ter a noção que é uma sensação breve. Que
está muito mais ligada à diversão do que ao talento.
O Instagram não faz de você fotógrafo. Nem o twitter faz de você um
escritor. Muito menos, o Guitar Hero faz de você um guitarrista. Existe uma
fossa gigante entre as duas coisas. E que você cai facilmente quando se leva
a sério demais. O Instagram me diverte. Amanhã, como tudo hoje em dia, pode
não divertir mais. Hoje, peço para uma torneira dizer X, jogo um filtro e
disfarço minha incompetência. Já para o Guitar Hero, não abro concessões.
Não até inventarem um Harmonica Hero.

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