Publicitários são pedreiros sem pedreira

Muitos desenham enormes raciocínios para tentar revisar a segunda palavra de nossa denominação: publicidade, propaganda, ideias, comunicação, etc. Somos agências de publicidade, propaganda, ideias, comunicação, etc. Vá lá que hajam diferenças, semânticas e de fato, em cada uma das entregas.

Mas muito pouco ou quase nunca se discute a primeira palavra: assumimo-nos sem questionamento como agências. E agênciar significa que intermediamos serviços de terceiros. Por isso somos remunerados.

No entanto a palavra “agência” subentende que nada ou pouco se obra. Usamos recursos intelectuais, criativos, produtivos de terceiros que escolhemos (nem sempre) e organizamos (mais ou menos).

Não é humildade nem abnegação muito menos compartilhamento generoso. É que os publicitários secretam a crença de que o trabalho intellectual – ou criativo – abstrato, inspirado, de fonte secreta, misteriosa e portanto de valor inefável, vale mais do que o trabalho produtivo, que faz coisas, que suja as mãos, que pode se mensurar, se equacionar e automatizar. Conceber é mais do que fazer.

Ainda que a mística criativa encanta e seduza, a capacidade de produzir é uma arte em si que não deveria ser tão menosprezada e desvalorizada.

Quem cria também faz, pelo menos é assim na indústria mais flamejante do século, na teconologia da informação ou seja lá como chamemos o ramo de atividade da Apple, do Google, do Facebook. Quem inventou a Internet não a concebeu numa prancheta e intregou seus rabiscos a excutadores diligentes, sentou a bunda na cadeira e programou. Quem cria faz e quem faz cria.

Por que agências continuam sendo agências, que nada fazem, nada produzem? Até quando essa crença na lâmpada, na maçã, na banheira, no estalo divino, concedido e não obrado?

Só que vivemos um mundo mais complexo e histérico que no passado. Mais competitivo e com recursos mais escassos do que queremos crer. E se não formos capazes, rapidamente, de usar nossa inteligência e sorte para fazer ao invés de agenciar, corremos o enorme risco de virarmos resignados executores de criações alheias.  Pedreiros sem pedreira.

5 thoughts on “Publicitários são pedreiros sem pedreira

  1. Sim!!! Sempre achei que a produção fosse o X da questão. Sai na frente quem produz e sabe como produzir. Só vou tentar acrescentar algo no que você falou. Por ser um ato visto como marginal, a produção acaba sendo algo que na maioria das vezes é regido pelo preço, ou seja, quanto mais barato… melhor será. Assim deixa de ser uma vantagem e passar ser um calcanhar de aquiles dos “grandes conglomerados” (rsrs), porque uma estrutura menor passar a conseguir atender uma determinada demanda por preços mais baratos, assim tirando as grandes estruturas do jogo, dai fica quase que inviável criar e produzir (um reflexo é o enxame de agências digitais). O que no final das contas é uma merda que gera jobs remendados sem pai. Errei?

  2. Bom, eu crio. E nunca desvalorizei a “produção”. Acho que vale tanto quanto a “criação” – isso quando não se funde, ou confunde, com ela. Mas gostaria de dizer que nunca achei que o ato de criar (em propaganda) fosse misterioso ou imprecificável, nem acontecesse por infusão divina. Não fico sentado olhando para o céu esperando “um estalo”. Minha imaginação é constantemente alimentada por leituras, conversas, cinema, música, exercícios mentais e corporais de todos os tipos. Até palavras cruzadas. Com alguma sorte, por um briefing. Quando surge a ideia, eu escrevo, escrevo, escrevo, reescrevo, reviso. Isso não é produzir, não?

  3. A Ponte e a Fila – A História de um Filho da Puta Honesto

    DISPONIVEL NO SITE DA LIVRARIA E SARAIVA E CURITIBA

    Resumo
    O grau de honestidade, de certa forma, sempre foi tratado como um tabu. A esperança em encontrá-lo de forma satisfatória nas outras pessoas é o que fazem alguns não enterra-lo dentro de si próprio de uma vez por todas.Ninguém quer ser vitima dos desonestos, mas, às vezes, fazem vitimas para os iguais.
    Compartilhe
    Autor

    Sufi, Sergio

    MAIS IMAGENS

    Detalhes
    Em nossa contemporaneidade, mas no passado distante, Laura Santos, uma órfã abandonada no portão de um convento, ainda bebê recém-nascido, foi encontrada pela irmã Sofia, uma freira, que com a ajuda de outras irmãs a criou e a educou dentro dos princípios cristãos. Aos seus dezessete anos, em uma investida de caridade, Laura conheceu Rebeca, uma drogada, interna em um hospício. Laura, em sua ingenuidade, achou ter encontrado uma amiga, porém, Rebeca a desvirtuou dos caminhos e das práticas cristã, levando-a à prostituição. Já pós-Balzaquiana, e conhecendo os dois lados da vida, resolve dar um sentido à sua existência, concebendo um filho e ensinando-o, na sua concepção, o lado mais compensador da vida, pela sua experiência. O certo é que o menino foi aprimorado e se tornou o filho de uma puta honesto! Mas, mesmo na fase adulta, seus empreendimentos eram escassos. Formado em história, vivia conspirando contra a própria história da humanidade; sempre reinventava interpretações, que embora lógicas, não tinha como prová-las. Nos fatos históricos, que podiam ser temperados com profecias, para cada acontecimento, como marco na humanidade, criava hipóteses em forma de teorias, que ele norteava como certa, ainda mais quando essas podiam ser recheadas de algo divino, nestes acontecimentos. Quando perde a mãe por uma doença terrível, desenvolve em si um estado de inércia que nada parecia ter a menor importância. Assim, algo extremamente cotidiano o desperta para vida. Então, resolve ser um político, como forma de ocupar-se e trazer um novo sentido para a sua existência. E daí? Um filho duma puta honesto ele conseguiu ser! E agora como político! Será que ele conseguirá ser um político honesto? Esta é a historia de A Ponte e a Fila!
    Informação Adicional
    Autor Sufi, Sergio
    ISBN 978-85-7923-251-0
    Páginas 243

Leave a Reply to SERGIO SUFI Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook