Cannes faz-de-contas

Fui ao Palácio de Versalhes com meu sobrinho, na época com 8 anos. Ao final do passeio, com um ar aborrecido, Gabriel achou o palácio pequeno. “Ué, ele não era o sol?”

O Taj Mahal é mirrado, a capela Sistina parece uma HQ, Paris é uma aldeia provinciana.

É de bom tom voltar do festival de Cannes blasé: “não vi nada que já não tivesse visto antes” ou “nossa, todos aqueles publicitários de bermuda jeans, que brega!”.

É também legal dizer que a qualidade criativa do festival é duvidosa, que passamos vergonha, que é mais do mesmo, que já não é um festival de criação mas uma feira de negócios, que o Carlton é careta e que os restaurantes são caros e vagabundos.

Mas no caso do festival de Cannes, o ar blasé não é só um disfarce cool.

Existem evidências demais do que o Festival de Cannes não é.  Não avalia a melhor criação, nem a melhor agência, não sedia as melhores palestras nem as melhores reuniões nem as melhores festas.  Até porque, tudo que rola lá, rola on-line e on-time sem torrar em euros.

Mas todo mundo emenda o feriadão de Cannes porque continua sendo o maior leilão de head-hunting da publicidade. O festival é um monstruoso circo montado para negociar salários, fees, honorários, in loco ou a distância, na hora ou mais tarde.

Um faz de conta que as agências financiam para roubar ou perder os melhores, ou os melhores faz-de-conta.

5 thoughts on “Cannes faz-de-contas

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