Passamos anos e anos apurando a nossa técnica de pensar, de falar, de agir. Reconhecemos nossos pares e com essa aliança, rimos dos confusos e ignorantes.
Toda técnica disfarça, por detrás da assertividade, falta de imaginação e insegurança. Toda técnica, por mais eficiente que seja, é um escudo de poder e opressão.
O mecânico, o cara de TI, o despachante, mas também o engenheiro, o arquiteto, o músico, o rei das normas empresariais, o tradutor das siglas, das linguas bizarras que são tantas formas místicas de proteger territórios, tem para todo lado.
Pode reparar: quando a palavra que você não entende é entoada com rapidez, sotaque esdruxulo ou vem acompanhada de biquinho, você pode estar diante de um ataque de tecniquite.
Analise seu interlocutor. Das duas uma, ou ele é uma máquina programada para regurgitar formulas prontas e ele é estúpido, ou ele é perigoso e está querendo te pegar.
A imensa maioria dos técnicos é do primeiro tipo. Nesses casos, a tecniquite é só mediocridade intelectual. Não vale a pena perder tempo. Se você tiver que conviver com eles, mais fácil aprender a meia duzia de bobagem que vomitam. Você vai perceber que quanto mais incompreensível lhe parecer o discurso, mais raso ele é.
Mas tem os outros, os inventores, os generais. Esses criaram os termos, as metodologias, as línguas, siglas e códigos para submeter um bando de imbecil que está a sua disposição para tentar te aliciar. Se você deparar-se com um desses ogros, melhor fazer-se passar por um dos seus soldados.
Mas tem um outro jeito, mais gozado. Seja sincero e diga que não entendeu. Peça para explicar. Faça pose de loira burra. Se o cara for medíocre, ele vai tentar te explicar e você vai se divertir. Se ele for o general artífice de poder, ele vai te mandar a merda e você se livra dele para sempre.
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