Kitsch, vintage e sucata

Na feira de antiguidade, a hora do “Esse a vovó tinha!” é quando exultam os diletantes da caçada decorativa, os pescadores de histórias.

É quando confunde-se kitsch com vintage e tudo vira arte. A anágua, o genuflexório, a espivitadeira, a pâte de verre, o psyché, o son of the bitch, os netuskes, os Sèvres, os Wedgwood, e todos os espólios do fausto perdido.

Kitsch é pastiche, colagem vagabunda, desconjuntada, mal acabada, molambubotabundo, é o avesso despenteado.

Vintage é velho, recauchutado, é patina sem história, é desbotamento, é cansaço, poeira e ácaro.

Quando celebramos o lixo, perdemos tempo com o rebotalho da criação humana.

É que o novo dá tanta preguiça!

Tudo bem, a propaganda referencia-se na retaguarda, pega o vácuo da criatividade artística. Sempre foi assim e é bom que o seja. Mas daí a pegar carona na sucata, dá um certo medo.

E propaganda aqui é eufemismo envergonhado para o hip que mobilia os salões cultos do século.

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