Literatura na Internet

A ampulheta está cheia em cima e caindo. Lentamente. Dá tempo de escrever. Contar.

Vai caindo. Mais rápido. Pode-se elencar. Síntese.

Cai rápido. Só dá pra reagir. Espasmos.

Fim.

Quanto mais perto do fim, mais rápida corre a areia.

Em Moby Dick, Melville escreve trezentas páginas para avistar a baleia e mais trezentas para caçá-la. Um século depois, a mesma história teria mais personagens, mais ação e menos páginas. No cinema não passam de 80 minutos nas versões mais longas. Nesse blog, vai dar algumas frases. Em versão 140 caracteres: “A baleia Moby Dick comeu a perna do véio. O man ficou trolado e foi a caça.”

Lê-se mais, dizem, por causa da Internet.

Não se contam mais histórias. Nem se curtem mais as histórias.

Gosta-se de matar baleias. Sem enrolação, sem blablabla, muitas baleias. Nível 1, 2, três mil. Mais baleias que os amigos. O récorde de baleias.

Antes a gente contava.
Hoje só a síntese conta.
E já já, espasmos.

Desmiliguimos no tempo que escorrega na velocidade do fim de uma ampulheta.

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