Talento é pouco

É difícil acreditar que um bom profissional de criação, cheio de referências e festivais na cabeça, possa sentir orgulho de estar em algumas fichas técnicas. Por mais cínico que seja:  “afinal de contas é apenas propaganda”, por mais conformado: “o cliente tem mau gosto”, perdedor: “a pesquisa estragou tudo” ou preconceituoso: “o consumidor é burro”, ainda assim, a grande maioria desses criativos, coeteris paribus, é melhor do que aquilo do que ele coloca na rua.

Talento e inspiração não são fatores de sucesso. O que mais então precisa?

Capacidade de trabalho talvez e a energia para baixar a cabeça, produzir opções, caminhos, pontos de vista conflitantes ou em cadeia. Espremer-se até a última gota de criatividade, esgotar-se até desmaiar exsangüe e em crise: tem alguma coisa nessa pilha? Essa é a técnica da dúvida perpétua.

Aguçar o julgamento também e, com o coração, descartar o que não presta, rápido, sem pena nem arrependimento. Fixar-se num prazo e número: “tenho até amanhã para selecionar 3 ideias”. Essa é a técnica da faxina sem pena.

Finalmente engolir o choro e acreditar messianicamente no talento, na capacidade de trabalho e na força do julgamento. É a fase do guerreiro em transe que não conhece dúvida nem pena. A fase do descarte do processo e da fé no resultado.

Dúvida, julgamento e fé. Mas como é difícil não embaralhar tudo e julgar antes de tentar ou acreditar antes de julgar.

3 thoughts on “Talento é pouco

Leave a Reply to João Mendonça (@joaodesde1987) (@joaodesde1987) Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook