Big idea em tempos ultra-modernos

Até um criminoso óbvio pode ser inocentado por falha no processo. Basta que algum procedimento padrão não tenha sido seguido e o advogado de defesa pode recorrer do vício, anulando assim o julgamento. O processo é mais importante do que as evidências.

Na propaganda também é assim: o processo – quando existe – trona nas grandes decisões. Todas as aprovações são reféns dos processo.

E como na propaganda não existe código universal a ser cumprido, “Processuar” no cliente é mais importante do que criar.

A reunião transcorria como reza a praxis democrática e didática, ou seja enormemente povoada. Todos estavam ali para cumprir um papel pré-definido: opinar sobre tudo e decidir sobre o específico. Da mesma forma, a apresentação transcorria devidamente esquartejada, primeiro a visão geral e depois o necessário esquartejamento: a Big Idea e as aplicações diversas.

Bem que um sobrevivente da maratona de trabalho tinha alertado: nenhuma ideia resiste a um filme para consumidores; e um filme para públicos profissionais; e um filme para funcionários; e anúncios para cada target; e uma “conteúdo colaborativo”; e um material de ponto de venda; e um “PR”; e um endomarketing; e um desdobramento nas “redes”; e um cronograma; e um orçamento. Mas ele estava virado, coitado, ninguém ouviu.

Depois de horas de apresentação, todos opinaram: “gostei da Big Idea mas a ativação das promotoras nas feiras agropecuárias de Iowa e Missouri me parece pouco amarrada” ou “Big Idea incrível, parabéns gente, mas precisamos rever a estratégia de seeding dos blogueiros especializados porque eles não podem se achar parte de uma campanha publicitária” ou ainda “me emocionei com a Big Idea, de verdade, mas aquele conteúdo para o Face, vai custar muito caro”.

Foi um grande sucesso, todos saíram extenuados, mas satisfeitos.

Foi um grande sucesso porque todo mundo vai ter trabalho e se sentir decisivo.

Foi um grande sucesso porque cada tim tim de cada tim tim foi ticado.

Foi um grande sucesso porque a soma de tantas conquistas liliputianas deu a sensação de vencer um gigante.

A Big Idea não resistiu a tanta Small Ideas – Small para o todo e Big para as partes.

O que importa é o processo. O processo, ele sim, é e sempre será BIG.

5 thoughts on “Big idea em tempos ultra-modernos

  1. Uma reunião de medíocres nunca aprovará uma ideia genial. Ela lhes revela a mediocridade (para si mesmos e para o mundo). Parafraseando a mim mesmo: o cliente também tem que ser bom. Esse foi na mosca, Alphen.

  2. Muita mutreta pra levar a situação
    Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
    E a gente vai tomando que também sem a cachaça
    Ninguém segura esse rojão

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